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Em entrevista ao “Página|12”, Lula reafirma importância da amizade Brasil-Argentina

Diferente do atual governo, de Jair Bolsonaro (PSL), que já atacou a soberania argentina, Lula pregou a importância estratégica da paz e da parceria entre os países do continente

reprodução/tvt
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"Quanto mais democracia e paz, mais Argentina e Brasil vão crescer", afirmou Lula

São Paulo – “Quero dizer ao povo argentino e ao povo brasileiro que precisamos de muita democracia. Quanto mais democracia e paz, mais Argentina e Brasil vão crescer”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista para o jornal do país vizinho Página|12. Durante a conversa, Lula reafirmou sua inocência e falou muito sobre a importância da relação entre os países latino-americanos. A Rádio Brasil Atual e a Rede TVT também transmitiram o material.

A Argentina passa por eleições presidenciais neste ano. O favorito absoluto para o pleito é Alberto Fernandez, que compõe chapa com a ex-presidenta Cristina Fernandez Kirchner. Durante os governos petistas, com Lula e Dilma Rousseff, a relação entre os países foi mais estreita do que nunca. Mesmo com o aumento das parcerias e com o fortalecimento do bloco, Lula se diz arrependido por não ter investido mais no potencial dessa amizade. Ao mesmo tempo, revela saudades daqueles tempos.

“Tenho saudades da relação que tínhamos com Dilma e Cristina. Somos resultado da nossa formação política e cultural. Houve séculos de desconfiança entre nós. É difícil mudar isso em poucos anos. O Brasil tem muito mais gente estudando na Europa do que na Argentina. Nossos convênios entre universidades deveriam ser muito mais ricos. Nós atrasamos um pouco, não criamos o Banco do Sul que queríamos. Não criamos instituições bilaterais como poderíamos. A relação entre estados não deveria depender de governos. Pode ser de esquerda, centro, direita, a relação entre estados deveria ser perene, duradoura”, disse.

Lula afirmou que tanto brasileiros quanto argentinos precisam de governos focados no desenvolvimento dos mais pobres e na redução das desigualdades. “O povo quer tomar café, almoçar e jantar. O povo quer ter uma casa para morar. O povo quer ir no restaurante levar sua família uma vez por mês. O povo quer que seu time ganhe todos os jogos no domingo. O povo quer uma cervejinha no fim de semana, um churrasco. O povo quer ser respeitado, ter acesso à Cultura, à Saúde. Está na Constituição argentina e na brasileira.”

Macri e Bolsonaro

Hoje, tanto Brasil quanto Argentina vivem sob comando de governos liberais. As características entre eles são diferentes em muitos aspectos. Mesmo neoliberal, Macri sinaliza respeitar a democracia e a autodeterminação das nações significativamente mais do que o político de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL). Bolsonaro já promoveu ataques ao povo prevendo vitória de Fernandez.

Lula, em oposição, falou sobre o país vizinho com respeito à soberania. “O Brasil, ao invés de ter um presidente que fala asneira contra a Argentina, o Brasil deveria saber que a Argentina é o país mais importante da América do Sul e devemos tratar a Argentina como parceiro, amigo. Chega. O Brasil precisa de paz e harmonia com a Argentina para que possamos, em tempo de democracia, crescer e melhorar a vida dos nossos povos. A vitória de Fernandez significa a possibilidade de melhorar a relação Brasil e Argentina.”

Inocência

Em outro foco, os jornalistas conversaram com Lula sobre o processo que o condenou à prisão, no âmbito da Operação Lava Jato. “Eles sabem quem mente. Deus e eu sabemos que estamos com a verdade. Estou aqui para provar minha inocência. Eu já provei minha inocência e quero que eles apontem uma culpa, um dólar errado na minha vida. O crime que eu cometi foi provar a uma elite brasileira politicamente canalha que é possível o povo pobre comer filé. Que é possível o povo pobre viajar para Bariloche, Buenos Aires.”

“Meu crime foi gerar 22 milhões de empregos com carteira assinada e aumentar 75% o salário mínimo e disponibilizar 52 milhões de hectares de terra para a reforma agrária e fazer o maior programa habitacional da história do país e de fazer amizade com todos os países da América do Sul. Foi o momento em que sonhamos; Kirchner, Chávez, Rafael Correa, Mujica. Sonhávamos em construir um bloco econômico forte e desenvolvido tecnologicamente. Por isso tenho força, porque quero ajudar a derrotar essa gente ruim, maldosa, que não gosta dos pobres e só governa para o mercado”, completou.


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