NOVO DEPUTADO

David Miranda: ‘Bolsonaro enfraquece a cada dia, já nossa bancada está forte’

Vereador do Rio que assumirá vaga de Wyllys diz estar preparado para o Congresso em tempos de tanta intolerância. “Vim do Jacarezinho. Terei forças para lutar contra esse governo”, avisa

Psol/Divulgação

David Miranda vai substituit Jean Wyllys na Câmara dos Deputados: resistência contra retrocessos de Bolsonaro

Brasília – O vereador do Rio de Janeiro pelo Psol David Miranda, que se prepara para assumir a vaga de deputado federal a partir de fevereiro, em substituição a Jean Wyllys, disse na noite de ontem (24) à Rede Brasil Atual que considera-se “pronto para o combate”.

Segundo ele, o governo Jair Bolsonaro tem dado sinais, em pouco mais de 20 dias de vigência, de estar cada vez mais enfraquecido, principalmente depois das denúncias contra o seu filho, Flávio Bolsonaro. Por outro lado, avalia que a bancada progressista do Congresso “foi reduzida nas últimas eleições, mas vai iniciar os trabalhos na Câmara cada vez mais forte”.

O vereador destacou que tem experiência parlamentar, sabe os caminhos para tramitação das matérias e está pronto para dar continuidade ao trabalho de Wyllys. Ele citou outros colegas, integrantes da bancada do seu partido, que também estarão empenhados nesse trabalho, como Marcelo Freixo (-RJ), Ivan Valente (SP) e Luiza Erundina (SP), entre outros.

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David Miranda responde a Bolsonaro, que publicou tuíte ironizando Wyllys

Quando perguntado sobre as dificuldades de assumir a legislatura num período de crescente intolerância contra minorias, incluindo LGBTs, Miranda lembrou seu passado e repetiu a frase com a qual costuma se definir nas redes sociais. “Sou preto, pobre, gay e nasci em Jacarezinho. Tenho certeza que tenho força para aguentar e lutar contra esta intolerância ao lado dos meus colegas”.

“Como vereador do Rio consegui a aprovação de várias leis e tenho certeza que em Brasília darei continuidade a este trabalho na luta pela comunidade LGBT e contra o extermínio da juventude negra, que é morta todos os dias na favela”, frisou.

Prisão em Londres

O futuro deputado também relembrou o episódio em que ficou preso durante nove horas, em agosto de 2013, em um aeroporto de Londres. Na ocasião, prestou depoimento porque estava com documentos do ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden.

Miranda é casado com o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que ganhou notoriedade após a divulgação do caso Snowden, que denunciava programas de espionagem dos Estados Unidos contra empresas e lideranças de outros países – entre eles, o Brasil.

Amigo da vereadora Marielle Franco, assassinada em março passado, disse que embora também receba ameaças e tenha tomado precauções quanto à segurança, segue tranquilo. Ele lamenta o auto-exílio de Jean Wyllys, mas considera que o deputado, ao deixar o cargo, se engrandece ainda mais. “Não se esquecerão da sua força”, afirmou.

No início da noite, nas redes sociais ele publicou um comentário rebatendo uma declaração de Jair Bolsonaro, que no Twitter ironizou a saída de Jean Wyllys. “Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”, escreveu.

Na entrevista à RBA o parlamentar disse que a atuação da oposição no Congresso é uma das saídas possíveis para o país sair da situação atual. “Iremos com tudo para Brasília. Nossas bandeiras serão defendidas com o amor e o comprometimento de sempre. Meu sonho é uma sociedade mais justa, e menos intolerante. Nenhum governo calará nossas vozes”, escreveu no Twitter.

David Miranda tem 33 anos e entrou na vida pública em 2016 quando foi eleito vereador do Rio. Nas eleições do ano passado obteve 17.356 votos, suficientes para lhe garantir a suplência de Wyllys.

Outra resistência

Jean Wyllys, eleito no ano passado para seu terceiro mandato como deputado federal,  anunciou nesta quinta-feira (24/1) que não mais assumirá o cargo, após sofrer graves ameaças de morte. Ele não confirmou, mas informações que circularam na Câmara dos Deputados são de que o que pesou na sua decisão foram as últimas mensagens para seu celular, envolvendo a segurança da mãe.

Ao divulgar que deixará o cargo, Wyllys contou que desde a morte de Marielle Franco está sob escolta da polícia e que as ameaças não param. “Manter-se vivo também é uma forma de resistência”, declarou. 

Em texto assinado pelo líder Paulo Pimenta (PT-RS), a bancada do PT na Câmara divulgou nota de solidariedade a Wyllys em que exige apuração das ameaças e destaca que estas “expressam uma coação não apenas ao parlamentar do Psol, mas a todos os defensores e defensoras de direitos humanos, detentores de mandatos populares ou não”.

Também o procurador da República Wellington Cabral Saraiva, que já integrou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), declarou nas redes sociais que considera gravíssimo, em qualquer país, que um membro do Legislativo eleito de forma legítima seja impedido, por ameaças, de exercer o mandato que recebeu do povo.

Saraiva acrescentou: Não importa a ideologia. Seria grave para parlamentar de qualquer ponto do espectro ideológicoÉ inaceitável e entristecedor que qualquer autoridade importante celebre esse ato terrível para a democracia ou se alegre com ele. Mostra pequenez e incompreensão do que é democracia.