Ativismo em luto

Após nove meses na UTI, morre jornalista e ex-deputado David Miranda, aos 37 anos

Notícia foi confirmada pelo marido, o também jornalista Glenn Greenwald. “Um jovem de trajetória extraordinária que partiu cedo demais”, destacou Lula

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Em 2016, David Miranda se tornou o primeiro homem gay eleito para a Câmara Municipal do Rio e marcou sua trajetória política pela defesa dos direitos humanos

São Paulo – O ex-deputado federal David Miranda (PDT) morreu na manhã desta terça-feira (9), na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, aos 37 anos, em um quadro de septicemia (infecção generalizada). Miranda estava internado desde o dia 6 de agosto de 2022 para tratar uma infecção gastrointestinal, mas sofreu sucessivas complicações. Ele faria 38 anos nesta quarta (10).

O óbito foi confirmado pelo marido do parlamentar, o jornalista Glenn Greenwald, com quem adotou dois filhos. Ele seria candidato à reeleição como deputado federal, nas eleições do ano passado. Mas, por conta da hospitalização, a família de Miranda anunciou sua desistência da disputa. Em setembro, o pedido foi homologado pela Justiça Eleitoral.

O velório de David Miranda será realizado a partir das 14h de hoje na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Em sua conta no Twitter, Glenn também prestou uma homenagem ao companheiro, lembrando de sua “vida extraordinária” que “inspirou muitos com sua biografia, paixão e força de vida”.

Em março, Glenn publicou um relato emocionante sobre a força do marido. Na ocasião, segundo o jornalista, Miranda se mantinha “a maior parte do tempo acordado” e conseguia conversar, apesar da traqueostomia – ventilação mecânica para assistência respiratória – que precisou fazer. “Sua morte, esta manhã, ocorreu após uma batalha de nove meses na UTI. Ele morreu em plena paz, cercado por nossos filhos, familiares e amigos”, escreveu Glenn.

Legado de luta

Natural da favela do Jacarezinho, na zona norte fluminense, em 2016 Miranda se tornou o primeiro homem gay eleito para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Suplente do ex-deputado Jean Wyllys, ele assumiu o posto pelo Psol no Congresso Nacional, aos 32 anos, em 2019, no exílio de Wyllys. Seus mandatos foram marcados pela defesa dos direitos humanos e a luta contra a LGBTfobia.

 “Sou preto, pobre, gay e nasci em Jacarezinho. Tenho certeza que tenho força para aguentar e lutar contra esta intolerância ao lado dos meus colegas. Como vereador do Rio consegui a aprovação de várias leis e tenho certeza que em Brasília darei continuidade a este trabalho na luta pela comunidade LGBT e contra o extermínio da juventude negra, que é morta todos os dias na favela”, destacou Miranda numa entrevista à RBA.

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A “partida precoce” do ex-deputado, como destacou Jean Wyllys, foi lamentada por diversos parlamentares. “Que tristeza! Meus sentimentos à sua família e ao seus amigos. Que ele agora descanse em paz!”, acrescentou o ex-deputado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se solidarizou com a família de Miranda. “Um jovem de trajetória extraordinária que partiu cedo demais”, destacou Lula.

“Muito jovem e tão do bem, ainda tinha tanto caminho pra trilhar”, declarou o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ) sobre seu “querido amigo”. A também deputada Maria do Rosário (PT-RS) apontou “imensa tristeza com o falecimento do colega de parlamento e luta, David Miranda”. “Um militante potente das causas que acreditava e uma voz necessária na política brasileira, negro, LGBT e defensor dos direitos humanos”.

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