ano novo

Renovação intramuros para um feliz 2019

Experiência ancestral de cacique tupinambá ilustra caso de luta e resistência para enfrentar as ameaças que surgem com governo que não respeita direitos e conquistas

Purki/via Cinekurumim

Cacique Valdelice, em aldeia Tupinambá da Bahia. Foto de 2011

A cacique tupinambá Valdelice, do sul da Bahia, conta-nos uma experiência de seus ancestrais que pode bem ilustrar o caminho para o sonho que crédulos e incrédulos têm nesta época conhecida como Natal e Ano Novo.

Valdelice narra que, na luta e na resistência contra os invasores que queriam tomar a terra de seus antepassados, sua bisavó desenvolveu uma forma sutil e poderosa de não cair nem mesmo diante da aparentemente mais lógica e sensata tentativa de rendição.

Quando os fiscais do poder público passaram a exigir que as casas dos indígenas obedecessem a certos critérios tidos como de segurança e higiene, muitos moradores da comunidade deixavam suas moradias para trás. Menos alguns, como a bisavó de Valdelice.

“Mas diziam para ela: ‘A sua casa vai cair, você não vai fazer outra?’. Aí ela fez, mas fez uma por dentro da outra, e quando a de fora caiu tinha uma nova por dentro, e ali ela continuou e hoje minha mãe mora nesse mesmo terreno que era casa dos meus antepassados”, narra Valdelice*.

Construir uma nova por dentro. Resistir, com renovação do entendimento e do espírito.

Vamos compartilhar da ideia original de Jesus, este que é agora comemorado pela porção cristã da sociedade humana. Ideia que não guarda semelhança com a mensagem materialista, legalista, moralista e autoritária em que os falsos profetas e moedeiros do templo andam espalhando por aí.

A tolerância e o amor ao próximo, personificados por Jesus, são o caminho para nossa conexão com a divindade, com o mundo novo. Isso exige humildade no caminho, no instante em que olhamos nossa própria pequenez no espelho. Esta é a maior guerra de todas, a batalha sobre a qual vêm se debruçando pensadores e cientistas ao longo dos séculos.

Uma coisa é certa: a aplicação de tal exercício de renovação intramuros só se completa na interação com o outro. Coletivamente. Vamos juntos por um mundo justo e melhor. Feliz 2019.

Do livro Cartografias da Emergência: Novas Lutas no Brasil (Fundação Friedrich Ebert, 2015)

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