Polarização

Para cientista política, Haddad pode ‘aglutinar’ mais do que Bolsonaro

Segundo Maria do Socorro Braga, da Ufscar, se for ao segundo turno com candidato da extrema-direita, petista escolhido por Lula precisará de estratégia para driblar antipetismo

Ricardo Stuckert

Em simulação de segundo turno, candidato petista está tecnicamente empatado com Bolsonaro

São Paulo – A rápida transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transforma Fernando Haddad (PT), em apenas oito dias, no candidato favorito da centro-esquerda para ir ao segundo turno. “Ainda não se pode prever quem ganharia no segundo turno, mas sua participação fica muito mais próxima”, diz a professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Haddad foi oficializado no dia 11.

Na opinião da cientista política, se o embate do petista com o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL), se confirmar, a decisão dependerá de como os setores que perdem mais espaço e votos vão se direcionar e, também, de quais estratégias os candidatos vão assumir no segundo turno, inclusive quanto aos seus programas de governo.

Do ponto de vista partidário, Maria do Socorro lembra que, enquanto o PT tem capilaridade nacional, propostas para o país e bancadas com as quais pode formar maioria no Congresso junto com outros partidos, Bolsonaro é de uma legenda “minúscula”, não tem estrutura e pouco apoio, embora essa apoio possa crescer num segundo turno. “Mas o candidato não tem um projeto nacional com condições de contemplar a maior parte do eleitorado. O presidente tem que governar para o país, e não para um segmento.”

Como as propostas de Bolsonaro são limitadas a certos segmentos, a adesão será restrita. Por outro lado, se Haddad tem mais condições de aglutinar um espectro mais amplo da população brasileira, terá de driblar o antipetismo.

“Mesmo com todos os problemas que podemos apontar sobre Bolsonaro, uma parte do eleitorado pode vir a apoiá-lo. Outra parte dos antipetistas vai anular o voto.” A professora lembra que até mesmo setores do PSDB, partido comprometido com o golpe parlamentar contra Dilma Russeff, têm sinalizado para posições mais sensatas.

O exemplo mais significativo foi a declaração do senador Tasso Jereissati (CE), ex-presidente nacional do PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela, que declarou na semana passada: “Nosso grande erro foi ter entrado no governo Temer”.

A professora da Ufscar também aponta para a necessidade de Haddad se posicionar numa espécie de “caminho do meio”. Para ela, o petista tem de responder a demandas de uma parte da população, incluindo a classe média, que, se não é antipetista, está muito insatisfeita e espera ser contemplada pelo próximo governo. “Se ele ficar muito à esquerda, afasta boa parte do eleitorado do Brasil, que é de centro-direita.”

Os outros candidatos do centro ou da direita, principalmente Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), parecem a cada dia mais fora do páreo.

“Quanto a Alckmin, parece que todo o tempo de TV e os recursos disponíveis não têm ajudado”, diz a analista. Para ela, a relação do tucano com o governo de Michel Temer é decisiva, sob esse ponto de vista.

“As candidaturas de centro e direita estão em declínio, a não ser a de Bolsonaro, que é de extrema-direita. Pode ser que ele chegue a um teto, mas ainda pode subir um pouco. Principalmente quando parte do eleitorado antipetista perceber que Haddad pode vencer, essa parcela vai votar em Bolsonaro. Vai ter muito voto útil.”

Na ciência política, explica, esse é o chamado “voto psicológico”: o eleitor prefere apostar no candidato que tem mais chance de derrotar o que ele não quer de jeito nenhum. “Como está muito polarizado, esse movimento pode acontecer tanto para o lado de Haddad como para Bolsonaro.”

Segundo pesquisa Ibope divulgada nesta quarta (18), nas simulações de segundo turno Bolsonaro empata tecnicamente com Haddad em 40%, com Ciro (39% e 40% do pedetista) e com Alckmin (40% a 38% para o tucano).

Em evento na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ligado à Força Sindical, o candidato do PDT recebeu na tarde de hoje (19) o apoio de dirigentes da própria Força, além da CSB, UGT e Nova Central. “Vamos reformar todas essas impertinências (da reforma trabalhista de Temer) e substituí-las por um projeto novo que valorize quem trabalha”, disse Ciro.

Golpe militar?

Maria do Socorro não vê possibilidade de golpe militar, como alguns analistas afirmam temer. Ela observa que há duas leituras em torno da hipótese de golpe. Se Bolsonaro vencer, viria pelo próprio Bolsonaro, porque as Forças Armadas, segundo essa interpretação, ficaria mais forte. Ou o contrário: se o PT ganhar, o golpe seria para o PT não governar novamente.

“Mas as Forças Armadas não querem assumir. Essa chapa de Bolsonaro com o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB) não tem apoio das Forças Armadas. É muito complicado o que está acontecendo, mas para mim não existe ameaça de golpe militar no Brasil. Imagina, em nível internacional, o que seria isso. Uma ilha na América do Sul com regime autoritário. Não faz sentido.”

 

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