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Ronaldo Caiado quer CPI de samba-enredo que homenageia indígenas

Líder da bancada ruralista e com família na lista suja do trabalho escravo, senador do DEM diz que escola de samba merece investigação parlamentar por samba apontar abusos praticados pelo agronegócio

Edilson Rodrigues/Ag. Senado

Caiado quer investigar quem financia a Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo deste ano é “Xingu, o clamor que vem da floresta”

Justificando – O samba-enrendo da Imperatriz Leopoldinense vem causando incômodo no setor do agronegócio brasileiro. Com o tema “Xingu, o clamor que vem da floresta”, a música é uma homenagem e um grito de guerra da luta pela preservação da floresta e da cultura indígena e fará parte das apresentações de carnaval de 2017 no Rio de Janeiro.

“Sangra o coração do meu Brasil. O belo monstro rouba as terras dos seus filhos, devora as matas e seca os rios, tanta riqueza que a cobiça destruiu!”, diz o samba que homenageia os indígenas e foi visto como uma ofensa ao agronegócio, causando reação de ruralistas e setores da mídia.

Um exemplo de retaliação aconteceu hoje, 12. O senador Ronaldo Caiado (DEM) afirmou que vai propor no Senado uma sessão temática para “para discutir, debater e descobrir os financiadores da Imperatriz Leopoldinense e os interesses em denegrir o agronegócio”. “Com tantos problemas no país, que sofre com traficantes, bicheiros e facções, causa perplexidade uma escola de samba atacar o agronegócio, orgulho do País, que é o único setor que gera tantos resultados positivos”, disse Caiado.

Vale lembrar, rapidamente, quem é este senador. Grande líder da Bancada Ruralista, sua família está na “lista suja” entre os 91 incluídos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) da relação de empregadores flagrados com trabalho escravo. Há décadas em posição de destaque na política, Caiado ainda é ex-presidente da União Democrática Ruralista.

Além dele, outros setores ligados ao latifundiário expressaram repúdio ao samba enredo. A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que cria os gados mais vendidos do país, fez uma nota de repúdio – “ao criticar o agronegócio, o grupo mostra total despreparo e ignorância quanto a história brasileira e a realidade econômica social do país”. 

Na imprensa, destacou-se Fabélia Oliveira, apresentadora do programa Sucesso no Campo, da Record Goiás. Em reação à música, escancarou ignorância, preconceito e ódio em rede nacional ao afirmar que índios deveriam morrer de malária. Fabélia acredita que só é a favor da preservação da cultura indígena se eles forem viver “a cultura deles”. 

Ouça o samba na íntegra. A letra segue abaixo:

Brilhou a coroa na luz do luar!
Nos troncos a eternidade a reza e a magia do pajé!
Na aldeia com flautas e maracás
Kuarup é festa, louvor em rituais
Na floresta, harmonia, a vida a brotar
Sinfonia de cores e cantos no ar
O paraíso fez aqui o seu lugar
Jardim sagrado, o caraíba descobriu
Sangra o coração do meu Brasil
O belo monstro rouba as terras dos seus filhos
Devora as matas e seca os rios
Tanta riqueza que a cobiça destruiu!

Sou o filho esquecido do mundo
Minha cor é vermelha de dor
O meu canto é bravo e forte
Mas é hino de paz e amor!

Sou guerreiro imortal derradeiro
Deste chão o senhor verdadeiro
Semente eu sou a primeira
Da pura alma brasileira!

Jamais se curvar, lutar e aprender
Escuta menino, Raoni ensinou
Liberdade é o nosso destino
Memória sagrada, razão de viver
Andar onde ninguém andou
Chegar aonde ninguém chegou
Lembrar a coragem e o amor dos irmãos
E outros heróis guardiões
Aventuras de fé e paixão
O sonho de integrar uma nação

Kararaô, Kararaô, o índio luta por sua terra
Da Imperatriz vem o seu grito de guerra!

Salve o verde do Xingu, a esperança
A semente do amanhã, herança
O clamor da natureza a nossa voz vai ecoar
Preservar!

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