autocrítica

‘Se o problema fosse só o presidente do PT seria fácil de ser resolvido’, diz Elói Pietá

Ex-prefeito de Guarulhos por dois mandatos, desclassificado do segundo turno por conservadores, comenta o desempenho do partido em 2016 e a necessidade de renovação

Reprodução/Youtube

“Essa eleição, apesar de ser municipal, para o PT foi nacionalizada”, diz ex-prefeito de Guarulhos

São Paulo – O petista Elói Pietá foi prefeito de Guarulhos por dois mandatos consecutivos (2001-2008). A aprovação de sua gestão foi confirmada na eleição de 2008, quando elegeu o sucessor, Sebastião Almeida, reeleito em 2012 e atual prefeito da cidade, a segunda mais populosa de São Paulo, com cerca de 1,3 milhão de habitantes.

Candidato em 2016, Elói não conseguiu disputar o segundo turno para tentar o que seria a quinta gestão petista consecutiva no município. Guarulhos decidirá entre o deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM), um radialista que segue os passos do pai, e um jovem vereador sem nenhuma experiência em cargos executivos, Gustavo Henric Costa (PSB), mais conhecido como Guti. O petista ficou apenas com 19,32% dos votos válidos, 3,06 pontos percentuais atrás do radialista, que chegou em segundo lugar (22,38%). Guti teve 34,54% dos votos.

Elói Pietá diz que nenhum dos dois terá seu apoio no segundo turno. “Quando os dois candidatos são bastante conservadores não tem como escolher um ou outro.”

Em entrevista à RBA, o petista avalia o desempenho negativo do PT nas eleições municipais, de 2016, em que ficou em décimo lugar entre os partidos, no ranking nacional, com 256 eleitos no primeiro turno, enquanto tinha chegado ao terceiro posto em 2012, com 630 prefeituras, atrás apenas de PMDB e PSDB.

Para Elói, o PT precisa se renovar. “A melhor maneira é reencontrar-se com o movimento social, com o movimento popular, com o movimento sindical, e também reencontrar-se com aqueles padrões éticos que nós pregávamos e praticávamos em boa parte de nossa trajetória”, afirma.

Sobre a defesa que setores do partido fazem de antecipar eleições para renovar inclusive sua direção nacional, o ex-prefeito de Guarulhos pondera: “Não adianta antecipar a eleição se não definir exatamente em quê uma nova direção vai ser diferente”.

Quanto às críticas de parcela do PT ao presidente da legenda, Rui Falcão, Elói esclarece: “Não sou internamente um partidário do Rui Falcão, mas também não posso utilizar um momento desses para fulanizar algo que é uma responsabilidade do partido como um todo”.

Como ex-prefeito de Guarulhos e candidato em 2016, a que atribui a queda significativa do desempenho do PT em 2016, por exemplo na Grande São Paulo?

Primeiro, essa eleição, apesar de ser municipal, para o PT foi nacionalizada. Havia uma trava que dificilmente os candidatos petistas conseguiriam ultrapassar. Em torno de quinze a vinte por cento, mais do que isso era difícil obter. Falo em geral, para qualquer análise local hoje precisa olhar o quadro nacional. Do Norte, Nordeste, ao Sul do Brasil, não tem diferença essencial. Qual estado onde você viu diferente? Para os candidatos do PT, o eleitorado nacionalizou a campanha. Diziam o seguinte: “Eu posso gostar do candidato, mas do PT eu não gosto”. E os que diziam “Voto porque é do PT” ou “Voto mesmo sendo do PT”, isso era em torno de 20% no máximo, um quinto da população.

Analistas dizem que há dois motivos para isso: os ataques sistemáticos ao partido que vêm desde o “mensalão”, passando pela Lava Jato, e também aos erros do PT. Como vê essa análise?

Tem um terceiro fator, a crise econômica. Os erros do PT, os ataques sistemáticos e a crise econômica, com o subproduto da crise econômica, que é a crise fiscal dos governos. E todo candidato, por ser do PT, já tinha uma rejeição alta. Então, esse é o quadro geral. Tanto que o resultado foi homogêneo no Brasil. Por que o PT ficou em décimo lugar no Brasil no ranking dos prefeitos eleitos? É por um problema específico no Ceará? Na Bahia? No Rio Grande do Sul ou em São Paulo? Não. É pelo quadro nacional.

Que rumo o partido deve tomar nesse contexto? Renovar seus quadros e a direção, por exemplo?

Claro. Se um dos grandes problemas que deram esse resultado foram os erros do PT, que abriram o flanco para uma perseguição sistemática de setores do Judiciário e da mídia, cabe evidentemente ao partido se renovar. Cabe à gente, ao partido, se renovar. E se renovar a partir de uma ação generalizada na oposição. Mas não é só estar na oposição, é também renovar-se a si mesmo como partido.

De que maneira?

A melhor maneira é reencontrar-se com o movimento social, com o movimento popular, com o movimento sindical, e também reencontrar-se com aqueles padrões éticos que nós pregávamos e praticávamos em boa parte de nossa trajetória.

Há setores no PT muito descontentes com a gestão de Rui Falcão. Faltou ousadia ao presidente nacional do partido em todo o processo?

Se o problema fosse só o presidente do PT seria fácil de ser resolvido. O problema é a maneira com que o partido se comportou nos governos, na sua relação com os governos. Não dá para atribuir isso a uma pessoa. Você tem que atribuir os nossos problemas à maneira como exercemos os nossos governos, nos aspectos que nos enfraqueceram. Tem que atribuir à maneira com que o partido se relacionou com os governos. O partido ficou muito distante de uma visão mais independente e crítica, quando necessário, de nossos governos. E o partido também ficou muito condescendente com os filiados que cometiam erros importantes. Isso não se atribui a uma pessoa. Isso é um problema que afetou a todos, de certa maneira. É a instituição que precisa ser reformada, e não uma pessoa.

Seja como for, a ideia de renovar a direção está num contexto inclusive de antecipar a eleição da direção…

Mas não adianta antecipar a eleição se não definir exatamente em quê uma nova direção vai ser diferente. Simplesmente antecipar a eleição e mudar as figuras não adianta se não mudar a política. A mudança de figuras, eu diria, pode ser apenas um jogo para a plateia, se não houver uma identificação de práticas novas que vão ser essenciais para uma renovação partidária. As pessoas que devem, digamos, assumir o compromisso de práticas novas devem estar muito identificadas com elas. Quer dizer, se você quiser fazer apenas uma cena, você muda pessoas, mas não muda métodos, não muda no entendimento de como tem que se fazer as coisas. Eu não sou internamente um partidário do Rui Falcão, mas também não posso utilizar um momento desses para fulanizar algo que é uma responsabilidade do partido como um todo.

O segundo turno em Guarulhos ficou entre dois candidatos conservadores. Qual seu posicionamento?

Quando os dois candidatos são bastante conservadores não tem como escolher um ou outro. A população vai fazer essa escolha, porque assim é o jogo democrático. Independente de que métodos eles utilizaram, a maioria nos deixou fora de ser opção. A nossa posição vai ser não apoiar nem um, nem outro dos candidatos, já que nenhum dos dois, no nosso entender, representa o programa ou pelo menos um mínimo do programa que nós teríamos para a cidade com a minha candidatura.

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