Impeachment

Senadores da base contestam Anastasia para relatar processo sobre Dilma

Parlamentares chegaram a dizer que, quando governador, senador pró impeachment assinou atos semelhantes aos da presidenta. Lindbergh Farias acusou colegas de “cinismo”, e tucano falou em 'protelação'

Marcos Oliveira/Agência Senado

Gleisi foi incisiva contra a relatoria de Anastasia. ‘Foi feito um julgamento prévio’, disse a senadora

Brasília – A leitura do relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável ao impeachment, começou a ser feita apenas no meio da tarde de hoje (4), quase duas depois do início da sessão, já que o nome do tucano foi contestado por parlamentares de vários partidos. Segundo a base aliada, além de ser do PSDB, que faz oposição ao governo, quando governador de Minas Gerais ele assinou vários decretos semelhantes aos praticados pela presidenta Dilma Rousseff que agora estão sendo julgados.

Para que a leitura fosse iniciada, o presidente da comissão especial que analisa o processo de impeachment, Raimundo Lira (PMDB-PB), teve de concordar com pedidos para desligar o microfone dos senadores e evitar novas troca de farpas, como ocorria desde que a sessão foi aberta, às 13h30. Entre os mais incisivos contra Anastasia, estavam Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

Gleisi afirmou que além de toda a suspeição contra ele, pela filiação partidária e posicionamento declaradamente contrário à presidenta, Anastasia retirou-se ontem de parte da sessão, quando juristas convidados fizeram durante horas explanações em defesa de Dilma Rousseff e apresentaram argumentos consistentes para destacar que a presidenta não incorreu em crime algum. “Já no dia da fala da acusação, o relator fez o oposto: ficou na sala o tempo inteiro. O que nos leva a crer que este relatório foi preparado antes mesmo de serem ouvidos os argumentos da defesa. É um claro sinal de que foi feito um julgamento prévio, o que é lamentável nesta comissão e nesta Casa”, acusou a senadora.

Lindbergh irritou colegas ao afirmar que considera “muito cinismo dos senhores senadores aprovarem um relatório que foi elaborado por um senador com esse histórico em sua passagem pelo governo de Minas Gerais”. Ao ser contestado, insistiu: “É cinismo, sim. Não há outra palavra. Os governadores fizeram créditos suplementares em muitos estados brasileiros. É muito cinismo o que querem fazer aqui contra a presidenta”.

‘Mais flexibilidade’

Em sua defesa, Anastasia – que nos últimos dias evitou falar das denúncias e referências à sua gestão enquanto governador – disse que assinou os decretos porque a lei estadual mineira, que é da década de 1980 (e portanto não foi aprovada na época em que ele governava o estado), é mais flexível do que a lei federal e, por isso, não incorreu em ilegalidade. Mas o ambiente de divergência já estava instalado entre os parlamentares.

“Não dá para ficarmos calados diante disso”, disse Eduardo Amorim (PSC-CE). “Respeito as diferenças, mas não aceito esse desrespeito. Sou senador e não deputado estadual por Minas Gerais e não aceito ser chamado de cínico”, acrescentou, em referência a Lindbergh.

A senadora Simone Tebet (PMDB-MS) pediu ao presidente da comissão e aos colegas que evitassem ataques pessoais. E o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), afirmou que devido à liberdade, tolerância e espírito democrático observados pela comissão em relação aos seus integrantes, os senadores da base aliada “têm se aproveitado para driblar o regimento interno com questões de ordem descabidas, numa forma de protelar os trabalhos”. Fátima Bezerra (PT-RN) reagiu: “É um direito que temos de defendermos a presidenta, mostrar que ela não cometeu crimes, contestar e nos posicionar”, afirmou.


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