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Lula: ‘Baderneiro é quem quer matar a democracia’

Ex-presidente também reforçou aos manifestantes que protestos de amanhã ocorram em paz e pediu que não aceitem nenhum tipo de provocação

José Cruz/Agência Brasil

Temer e Cunha, representados por manifestantes contra o golpe em andamento na Câmara

Brasília – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (16) que “baderneiro é quem tenta matar a democracia”, em resposta a críticas de setores da mídia tradicional ao grande número de manifestações em defesa da legalidade democrática ocorridas no país e que se intensificaram durante a semana. Lula também demonstrou otimismo na capacidade do governo de obter os votos necessários para barrar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Ele discursou, em Brasília, no encerramento de um ato contra o golpe parlamentar que será votado amanhã na Câmara dos Deputados.

Lula participou do Ato com Movimentos Sociais pela Democracia, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, onde manifestantes contra o golpe estão acampados. De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, o ato contou com 1,5 mil pessoas e reuniu movimentos como a CUT, CTB, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e União Nacional dos Estudantes (UNE).

O ex-presidente disse ainda que tem “três governadores para conversar, que eu acho que eles podem nos ajudar”, ao descrever o trabalho para obter o apoio necessário para garantir a continuidade do mandato presidencial conquistado pela vontade popular expressa nas eleições de 2014.

“Precisamos conquistar metade dos 513 votos do total de deputados, ou não deixá-los conquistar 342 (que equivalem a dois terços dos votos, mínimo necessários para aprovar a continuidade do processo de impeachment). É uma guerra de sobe e desce, parece a bolsa de valores, tem hora que o cara está com a gente, tem horas que não está mais”, disse Lula.

Lula reafirmou que um impeachment sem base legal é um golpe contra a democracia. “Se o Temer [vice-presidente Michel Temer] quer ser candidato, não deveria tentar através do golpe, ele deveria tentar a eleição, esperar chegar 2018. O PMDB é partido grande, ele se candidata e vamos para as urnas, vamos debater, vamos convencer o povo quem é melhor para o país.” Ele também pediu aos manifestantes que o protesto de amanhã ocorra em paz, dizendo que não aceitem nenhum tipo de provocação.

A presença de Dilma estava confirmada no evento até o início da manhã, mas pouco antes da hora prevista para sua participação, a Secretaria de Impressa do Planalto informou que ela se reuniria com lideranças parlamentares. Dilma enviou uma carta que foi lida pela secretária especial de Política para Mulheres, Eleonora Menicucci. Ela agradeceu o apoio de todos e se disse confiante que a democracia vencerá amanhã.

Participam do ato o presidente do PT, Rui Falcão e o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Patrus Ananias, além de parlamentares.

Movimentos

Os movimentos sociais se revezaram nas falas, em cima do palco armado no meio do Acampamento pela Democracia e Contra o Golpe, na manhã de hoje. Um dos discursos mais enfáticos foi do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto(MTST), Guilherme Boulos.

Para ele, o golpe não vai passar “porque o Brasil não quer um presidente biônico que tem 1% nas pesquisas de intenção de votos e quer ganhar a Presidência da República com o atalho golpista.”

“O golpe não vai passar, também, por que nós sabemos o que vem junto com a proposta desse golpe. Não queremos ataque aos direitos trabalhistas, não queremos fim dos programas sociais, não queremos a ponte para o passado, como eles querem estabelecer com o golpismo”, completou Boulos.

Segundo o líder dos Sem Teto, o golpe não vingará “porque o povo brasileiro não é acovardado e os movimentos populares menos ainda”.

Já o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse que Rede Globo “é a direção política e ideológica da burguesia” e faz o “trabalho militante a favor do golpe”.

“Como os inimigos do povo não têm coragem de explicitar o projeto deles, usam a língua da direita, que é a Rede Globo. Ela é a direção política e ideológica da burguesia e é ela que está fazendo o trabalho militante a favor do golpe”, afirmou.

Para ele, o verdadeiro inimigo do povo é o capital financeiro. “Nós precisamos ter claro quem são os inimigos do povo. Ter claro que o golpe não é só do Cunha e do Temer. Eles estão à serviço do verdadeiro inimigo do povo, que é o capital financeiro, aquele 1% da burguesia que quer voltar ao neoliberalismo, são as empresas transnacionais dos EUA que querem roubar nossas riquezas, como o pré-sal. Esses são nossos inimigos”, enfatizou.

Stédile finalizou seu discurso afirmando que o “melhor lugar para a classe trabalhadora lutar é nas ruas”. “Vamos às ruas e não vai ter golpe”.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral, enfatizou que a juventude está nas ruas para barrar o golpe e defender a democracia, como sempre esteve.

“A UNE sempre estive ao lado da democracia e hoje mais uma vez a juventude vai pra as ruas, porque esse golpe é contra a democracia e contra os nossos direitos. Com povo brasileiro nas ruas é que vamos barrar o golpe e conquistar nosso futuro”.

“Em nome dos honrosos presidentes da UNE, dos estudantes que lutaram contra a ditadura militar, é pela honra deles que nós, que a nossa geração de jovens, estudantes, estamos na luta para defender a democracia mais uma vez”, garantiu.

Carina lembrou que hoje o filho do pobre pode ter as mesmas oportunidades que o filho do rico sempre teve. “Hoje podemos ingressar na universidade através de programas sociais conquistados com muita luta do movimento estudantil”.

Favoráveis ao impeachment

Em frente ao Hotel Royal Tulip, no qual Lula se hospeda em Brasília, cerca de 40 manifestantes montaram uma mortadela inflável de cerca de 10 metros para protestar contra a articulação política que o ex-presidente promove no local, recebendo diversas visitas de políticos nos últimos dias.

Vindos de estados como Paraná e São Paulo, os manifestantes integram os movimentos Avança Brasil e Vem pra Rua. Eles chegaram em torno das 10h à portaria do hotel e disseram não saber se Lula se encontrava no local.

“Isso aqui virou escritório pessoal para compra de votos”, disse o advogado paulista Nilton Caccaos. Os manifestantes disseram que não pretendem permanecer no hotel, mas levar os infláveis para atos surpresa semelhantes em outros pontos de Brasília.

Com informações do Brasil247 e Agência Brasil e da Agência PT