Guerra política

Para Jorge Mattoso, ao acolher impeachment Eduardo Cunha pode ter dado tiro no pé

Ex-presidente da Caixa Econômica Federal diz que deputado do PMDB involuntariamente 'acaba colocando as pessoas de bem a favor da Dilma e do governo'

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Mattoso: “Muita gente ficou constrangida e não quer se comprometer com ele”

São Paulo – O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pode ter dado um tiro no pé ao acolher ontem (3) o pedido de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. “De certa forma, ele fez uma jogada errada, porque acaba colocando as pessoas de bem a favor da Dilma e do governo. Ela acaba jogando a favor dela, tanto assim que muita gente que não é do PT, que não é necessariamente da base aliada, se indignou.” A opinião é de Jorge Mattoso, professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Caixa Econômica Federal entre 2003 e 2006. “É muito cedo para fazer avaliação, mas diria que uma primeira impressão do reconhecimento do impeachment é esse. Muita gente ficou constrangida e não quer se comprometer com ele”, acrescenta.

Para Mattoso, as pessoas “minimamente informadas” percebem que a atitude de Cunha, encarada como retaliação após o anúncio de que o PT votará contra ele no Conselho de Ética, “é jogo de um sujeito com nível de comprometimento com malfeitos muito grande, um jogo que seguramente tem repercussão negativa mais para ele do que para o governo.”

Apesar de entender que “a situação política não está muito favorável”, Mattoso aponta como importante o fato de o PT ter se posicionado contra Cunha, em vez de ficar “nesse lero-lero” com o parlamentar.

Hoje, os governadores dos nove estados do Nordeste divulgaram nota em que condenam o acolhimento de um dos pedidos de impeachment por Eduardo Cunha. Assinam o documento  governadores de  cinco partidos: Camilo Santana (PT-CE), Flávio Dino (PCdoB-MA), Jackson Barreto (PMDB-SE), Paulo Câmara (PSB-PE), Renan Filho (PMDB-AL) Robinson Farias (PSD-RN), Ricardo Coutinho (PSB-PB), Rui Costa (PT-BA) e Wellington Dias (PT-PI).

Ontem, após o anúncio de Cunha, o deputado federal Chico Alencar (RJ), líder do Psol na Câmara, fez duro discurso sobre o processo: “Não foi coincidência, e sim uma resposta (de Cunha), ao seu estilo de vingança e pequenez política. É a República da barganha, da chantagem, da corrupção sistêmica”, disse.

Economia

Após divulgada a informação de que Cunha havia acolhido o pedido de impeachment, alguns analistas previram que a expectativa para hoje era de “forte alta do dólar e queda da Bolsa”.

Mas, no fechamento da Bovespa e do mercado nesta quinta-feira, verificou-se exatamente o contrário: bolsa em alta e dólar em queda. Segundo avaliação do jornal Valor Econômico, provocaram a alta “o anúncio do aumento dos estímulos monetários na zona do euro e a possibilidade de uma solução para o cenário da crise política no Brasil”.

Para Mattoso, no caso da bolsa, o movimento ascendente se deve mais a uma acomodação natural do que ao cenário político. “A bolsa vinha caindo bastante na última semana. Vinha de quatro dias de queda, uma queda um pouco despropositada, repercutindo uma situação política e econômica ruim. Mas, depois de cair quatro dias, é normal subir, e o que subiu hoje nem chega a recompor o que aconteceu nos últimos quatro dias.” A Bovespa fechou em queda na sexta-feira (-2,70), segunda (-1,64), terça (-0,16) e quarta (-0,29).

Já o dólar comercial caiu hoje 2,30% e fechou a R$ 3,748. Seja como for, Mattoso não vê tanta relevância nos movimentos do mercado. “Acho pouco importante. Na minha opinião não se deve procurar especulações lógicas e politizar isso.”

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