MST e FNL pedem a Dilma para desistir de Kátia Abreu na Agricultura
Movimentos sociais protestaram contra indicação de senadora e apresentaram reivindicações. Presidenta acena com diálogo, mas não se pronuncia sobre ministério
Publicado 16/12/2014 - 09h36
Dilma recebe movimentos sociais de agricultores: mais diálogo, mas ministério deve ser de Kátia Abreu
Brasília – No dia da posse da senadora na recondução da presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ontem (15), integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Frente Nacional de Luta, Campo e Cidade (FNL) invadiram a entidade com faixas e cartazes. Eles ainda protestaram diante do prédio da confederação, saíram em passeata pela Esplanada dos Ministérios e, numa audiência com a presidenta Dilma Rousseff, expuseram reivindicações do setor ao governo, além de reforçar o pedido que Kátia Abreu não seja indicada para a pasta.
O nome da senadora pelo PMDB de Tocantins como próxima ministra da Agricultura, embora dado como certo, não foi anunciado ainda (nem tampouco negado pelo governo), mas a pressão de trabalhadores rurais sobre a presidenta para não indicar a parlamentar foi o destaque deste início de semana na capital do país.
Novos assentamentos
“Dilma, nós votamos em você. Não merecemos a Kátia Abreu no Ministério da Agricultura”, pregava uma das faixas colocada em frente à sede da CNA contra a senadora, que é integrante da bancada ruralista no Congresso e empresária influente do setor de agronegócio em Tocantins. Durante a audiência com a presidenta, que teve a participação do ministro de Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, representantes do MST trataram do assunto, além de apresentar seus pleitos para o novo governo.
Entre as reivindicações, destacam-se mudanças na composição do atual Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o assentamento de cerca de120 mil famílias até julho do ano que vem e a criação de um plano de metas para assentar uma média de 50 mil famílias por ano até 2018. A presidenta, segundo relatos dos presentes à audiência, ficou de apresentar esse plano dentro de pouco tempo e demonstrou interesse em trabalhar para que o governo possa fazer os assentamentos.
“Dialogamos sobre a conjuntura política pelo país, apresentamos a pauta emergencial da questão agrária e a pauta política do Brasil que dialoga com a questão da terra, do desenvolvimento do território e da produção de alimentos na reforma agrária popular”, frisou um dos coordenadores do movimento, Alexandre Conceição.
Já Rosana Fernandes, integrante da direção do MST, disse que a reunião teve um caráter simbólico, de abertura de diálogo entre o governo e movimentos sociais. “A avaliação que fazemos da perspectiva de abertura de diálogo é bastante positiva, como já aconteceu anteriormente com outros movimentos do campo e com as centrais sindicais. Isso é bastante significativo para o povo brasileiro”, enfatizou.
‘Mensagem ruim’
Mesmo assim, o assunto prioritário do dia ficou no ar, sem qualquer indicação por parte de Dilma – a nomeação de Kátia Abreu. “O MST não quer participar do governo nem interferir ou indicar nomes, nada disso. Nossa luta é pela reforma agrária. Mas não podemos ficar quietos, sem nos manifestar sobre o que vai representar a nomeação da Kátia Abreu para a agricultura”, destacou Conceição. “Será uma mensagem muito ruim a ser passada pelo governo para todos os movimentos sociais que garantiram a vitória da presidenta Dilma nas ruas”, acrescentou.
Na CNA, o dirigente da FNL Antônio Carlos dos Santos afirmou que os dois movimentos (FNL e MST) não aceitam a nomeação de Kátia Abreu e a consideram “um retrocesso”.“Quem manda é a presidente. Estamos saindo daqui porque estamos cansados de conversar com quem não vai resolver a questão”, afirmou, pouco antes de o grupo deixar a sede da confederação.
Uma comitiva dos manifestantes foi autorizada a subir e conversou com diretores da CNA, em encontro no qual pediram à entidade apoio em relação a programas de assistência técnica para a agricultura familiar.
Reunião e posse
Após receber o MST, Dilma participou da solenidade de posse de Kátia Abreu na direção da entidade. A presidenta não se pronunciou a respeito dos pedidos para excluir a senadora da equipe ministerial e disse, em discurso, que ela e a Kátia Abreu “estarão mais próximas do que nunca nos próximos quatro anos” – deixando mais forte, entre os presentes, o entendimento de que a parlamentar será mesmo sua ministra da Agricultura.
Numa tentativa de acalmar os ânimos dos opositores à indicação, a presidenta afirmou ainda que “os produtores rurais terão mais espaço para tomar decisões”, acenando com maior abertura do diálogo com os movimentos sociais do setor no seu próximo mandato.