O QUE SERÁ?

Após resultado nas urnas, rumos da atuação de Aécio dividem analistas

Argumentos se confrontam entre 'atuação forte' do senador mineiro contra o governo federal e escolha por um estilo 'mais discreto'

Marcos Fernandes/Muda Brasil

Liderança de Aécio não é consenso para próximo ciclo

São Paulo – Umas das consequências do resultado final das eleições presidenciais que consagram um segundo mandato para a presidenta Dilma Rousseff (PT) foi justamente o fortalecimento do maior adversário político no pleito de 2014, o senador Aécio Neves, do PSDB. “Ele já é uma liderança nacional. Agora, precisa cumprir o papel da oposição, que é o que seus eleitores esperam, que ele faça um papel de oposição firme, que cobre as medidas anunciadas pela candidata vitoriosa e fiscalize esse governo que está aí e inicia o novo mandato a partir de janeiro do ano que vem”, espera o deputado federal reeleito Duarte Nogueira (PSDB-SP).

Mesmo derrotado nas urnas, o político mineiro saiu da disputa credenciado como tucano mais votado nas últimas quatro disputas contra o rival PT. Isso, depois de ter crescido na disputa pelo Palácio do Planalto, quando começou a subir nas principais pesquisas de intenção de voto a somente dez dias para o primeiro turno.

“Imagine se ele não fosse para o segundo turno com a Dilma, teria sido um desastre para o PSDB. A avaliação seria muito distinta. Eu não sei se o partido teria acabado, mas o baque seria bem complicado”, avalia o cientista político Sérgio Praça, da Universidade Federal do ABC. “Agora, aconteceu o contrário. A eleição foi um teste de fogo para o Aécio e acho que ele foi muito bem-sucedido ao ter equilíbrio para manter a campanha em um nível razoável e levar suas propostas.”

Na opinião do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), apesar de ter saído fortalecido, o fato de Aécio Neves ter perdido a votação em casa, no estado de Minas Gerais, será lembrado. “Sem sombra de dúvida, eu acho que o Aécio sai com força. É claro que tem toda essa discussão por ele ter perdido em casa. Não foi apenas o fato de ele ter perdido a eleição presidencial, mas ele ter perdido a votação presidencial em Minas Gerais. Vai ser sempre um ponto que vai pesar contra ele. Por outro lado, ele continua em um fórum importante de debates, que é o Senado Federal. Ele teve uma votação recorde para os parâmetros do PSDB.”

A liderança nacional do tucano era uma grande questão política a ser desvendada antes da corrida presidencial deste ano, segundo a professora Magna Maria Inácio, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Antes de a sua candidatura ser oficializada, havia certa preocupação com o fato de Aécio não ser um político conhecido nacionalmente como outros. Com esse resultado, ele se apresenta como a principal liderança, posto que ele já está reivindicando nas suas últimas manifestações após a eleição”, diz a cientista política, mencionando um vídeo com o ex-presidenciável divulgado ontem (29) como uma “sinalização muito clara” do lugar que o político mineiro pretende ocupar nos próximos meses.

Na mensagem, Aécio Neves agradeceu aos milhões de brasileiros, apresentando-se com um herdeiro dos anseios “a favor da mudança”. “Tenho imenso orgulho de cada um de vocês e do que, juntos, construímos nos últimos meses. O Brasil despertou. Ocupamos as ruas com alegria e esperança. Descobrimos que somos muitos. Que somos milhões.” Atacando a campanha da presidenta Dilma, a qual qualificou como “uma campanha de mentiras e infâmias (…) em que a máquina pública foi colocada a serviço de um partido, afrontando todos os brasileiros”, prometeu, com tom moralista: “Permanecer firme no exercício da oposição e na defesa de um país honesto, digno e justo” e, evocando falas do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no mês de agosto, pediu para que seus eleitores “não desistam do Brasil e não se dispersem”.

“O Aécio tem uma experiência parlamentar importante, além da experiência no Executivo e, obviamente, o cerne relativo a essa eleição, com esse resultado, é ter levado o candidato a colher uma vitória tão apertada, isso qualifica, para ter essa liderança”, aposta Magna Inácio.

Já para o professor Leonardo Barreto, o posicionamento de Aécio Neves dependerá de seu protagonismo diante da presença de José Serra, eleito senador por São Paulo. “Hoje, eu apostaria que o Aécio tentaria adotar um discurso mais crítico, mas eu não sei até quanto ele consegue fugir do estilo dele, que é um estilo mais conciliador, que ele herdou inclusive do avô dele. Então, eu imagino que, em um primeiro momento, o Aécio venha a desenvolver uma atuação talvez mais forte nas críticas ao governo federal, mais enveredada para um discurso anti-PT.”

O cientista político da UnB destaca que o comportamento de cada um será um dos fatores que endurecerão a disputa pela indicação presidenciável pelo PSDB para a Presidência da República em 2018. “Isso vai ser um elemento interessante para a decisão deles. E nesse aspecto, eu não sei se o Aécio vai conseguir estar tanto em evidência quanto José Serra. Acho que, rapidamente, o Aécio voltaria para o estilo dele, que é mais discreto no Parlamento, e as atenções ficariam voltadas principalmente para o Serra”, conclui.

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