Debate

Haddad: ‘Monopólio da informação desfavorece a democracia’

Em entrevista a blogueiros, prefeito de São Paulo afirma que quem desqualifica a política não aponta horizontes para melhorá-la

Contraponto / SEEB SP/ reprodução

Azenha, Haddad, Juvandia e Altamiro: debate teve transparência entre as pautas principais

São Paulo – O prefeito Fernando Haddad começou debate na estreia do programa Contraponto, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, explicando a abordagem de sua gestão em relação aos transportes públicos, ponto de partida das manifestações de junho. Para ele, o movimento teve uma vitória “mais política do que econômica”, uma vez que a redução da tarifa representou modificações num planejamento orçamentário que já estava em execução.

Segundo o prefeito, da forma como foi obtida, a redução da tarifa de R$ 3,20 para R$ 3 significou mais, economicamente, aumento do subsídio para o empresariado (que fornece o vale-transporte). “As camadas mais vulneráveis da população não serão de fato as mais beneficiadas”, afirmou Haddad, referindo-se a demandas sociais, nas áreas de saúde, educação e no próprio transporte coletivo que podem ser afetadas por impactos no Orçamento da cidade.

Ainda sobre as manifestações populares, o prefeito afirmou que não deixou de ir a compromissos públicos e que, de fato,”nota-se uma indisposição inicial, mas que o povo quer conversar”. “Eu vou às periferias e as pessoas querem entender o que vai acontecer. Reconhecem os avanços dos governos Lula e Dilma, por exemplo, mas querem saber o que vem agora. E de fato, o poder público precisa dar respostas permanentemente.”

Sobre a tentativa de setores oposicionistas e grupos conservadores que atuam nas redes sociais com intenção de se apropriar dos protestos, o prefeito foi categórico: “O fato é que não foi apresentado nenhum projeto alternativo para o país com mais fôlego do que o nosso”.

O jornalista Paulo Henrique Amorim provocou o prefeito a responder sobre o papel da Rede Globo nas mobilizações que passaram a ocupar a agenda do país após os eventos de junho. Fernando Haddad saiu pela tangente e não mencionou a emissora. Optou por uma resposta indireta, criticando os setores da imprensa que contribuem, com desinformação, para a desqualificação da política: “Não há como se promover avanços nas ciências, nas artes e na política negando-as. E muitos agentes políticos têm resvalado na negação (da política), o que concorre para o obscurantismo”, analisou.

Diante da insistência dos blogueiros, “então o senhor está dizendo que a Globo…”, o prefeito interrompeu: “Não vou fulanizar esse ou aquele veículo. O que eu disse vale para Ministério Público, Judiciário, imprensa”, explicou, referindo-se aos que devem promover o discernimento e que, “se não o promovem, não contribuem para apontar novos horizontes”.

Haddad manifestou restrição a regulação da mídia que diga respeito a conteúdos. Amorim explicou que os setores da imprensa que falam em controle de conteúdo estão promovendo a desinformação, uma vez que os movimentos que defendem a criação de um marco regulatório sobre a propriedade e o funcionamento das telecomunicações não abordam conteúdo, mas o veto ao oligopólio. “A Globo concentra 80% da informação difundida no país; se fosse nos Estados Unidos, não lhe seria permitido”, observou Altamiro Borges, do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé.

“Ninguém é contra que alcance mais audiência quem tem mais qualidade. O problema no país é que a mediação da informação é oligopolizada e o oligopólio desfavorece a democracia”, afirmou o prefeito. A regulação das comunicações, para ele, está entre os valores “liberais” (das democracias desenvolvidas). “Determinada visão de mundo pode se impor pela qualidade do argumento e não pelo poder econômico (do oligopóilo).”

O fator 3%

O prefeito foi perguntado se o possível candidato do PT ao governo de São Paulo em 2014, o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tem alguma chance. “Bem, ele larga com 3% das intenções de voto. E largando com 3% dá para ganhar”, brincou, lembrando que começou o ano passado com 3% nas pesquisas, que apontavam na ocasião a liderança de José Serra (PSDB) e Celso Russomano (PRB).

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