Para MST, ameaça de CPI é reação a mudança de índice de produtividade

Senadora Kátia Abreu, da bancada ruralista, afirma ter assinaturas suficientes para instalar comissão sobre convênios do movimento. MST afirma não temer inquérito

Marcha rumo ao Ministério da Fazenda, em agosto deste ano. Revisão de índices de produtividade era reivindicação antiga do movimento (Foto: Fábio Carvalho/MST Divulgação)

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) considera que a iniciativa da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) de criar uma CPI para investigar o movimento é uma reação às mudanças nos índices de produtividade rural. A sequência de acusações na mídia tem a mesma origem, segundo os ativistas. A secretaria nacional do movimento afirma não temer investigações

“Estamos muito tranquilos e não temos nada a temer, porque já fomos investigados em duas CPIs e nada foi encontrado”, sustenta Vanderlei Martini, da coordenação do MST, por e-mail. “A própria Katia Abreu deixou claro que está fazendo uma chantagem para impedir as mudanças nos índices”, prossegue.

Os índices de produtividade são utilizados como parâmetro pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para desapropriação de terras. A revisão de cálculo do índice era uma reivindicação dos agricultores e consta de portaria interministerial assinada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.

Para a secretaria nacional, não existe “motivo concreto para investigações ou CPIs” e a intenção é promover “chantagem política”. O movimento havia negado, em nota, ter recebido ou usado dinheiro público para ações de ocupação, protesto ou marcha.

Na semana passada, a presidente da Confederação a Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu declarou já ter o apoio de 29 colegas para a instalação de CPI para investigar o MST – 27 seriam necessárias. O pedido se baseia em reportagens publicadas pela revista Veja, na edição 2.128, sobre convênios de associações e cooperativas com o poder público e organizações internacionais.

Não é a primeira vez que o movimento é alvo de um ataque da revista Veja. Em junho de 1998, João Pedro Stédile apareceu na capa da publicação com a chamada “A esquerda com raiva”. Em reportagens sem tanto destaque, o movimento é tratado como criminoso pela publicação.

Para Martini, a revista Veja representa o pensamento dos setores mais conversadores da sociedade. “Atacam nosso movimento como atacam os direitos trabalhistas, a previdência social, a universidade pública, os quilombolas, as cotas para negros, as demarcações de terras indígenas. Ou seja, atacam todos os avanços que a democracia garantiu para a nossa sociedade”, sustenta.

Por isso, não há previsão de ações judiciais contra a publicação, nem expectativa de publicação de correções. “Não esperamos nada da revista Veja. Apenas fizemos os esclarecimentos à sociedade e ponto”, conclui.