CPI protocolada no Senado é ‘represália’ de bancada ruralista, diz MST

Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Ônix Lorenzoni (DEM-RS), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) entregaram pedido de criação de comissão para investigar cooperativas ligadas ao movimento

MST lembra que é terceira CPI para investigar o movimento em cinco anos (Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o pedido de criação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar cooperativas ligadas ao movimento é represália da bancada ruralista no Congresso. Os deputados Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Ônix Lorenzoni (DEM-RS) e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) protocolaram pedido de criação da comissão nesta quarta-feira (16).

“Essa é a terceira CPI instalada no Congresso Nacional contra o MST nos últimos cinco anos”, lembra nota assinada pela secretaria nacional do movimento (leia aqui). “Denunciamos que a CPI contra o MST é uma represália às nossas lutas e à bandeira da revisão dos índices de produtividade”, reiteram.

Segunda a nota, a CPMI será usada pela bancada ruralista e pela “mídia burguesa” como instrumento político e ideológico contra a organização e os setores do governo federal “mais comprometidos com os interesses populares”.

Kátia Abreu, presidente da Confederação a Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), sustenta que as investigações partem de denúncias publicadas pela revista Veja e pelo jornal O Estado de S.Paulo sobre o financiamento público de associações e cooperativas vinculadas ao MST. Segundo os veículos, as verbas seriam usadas para invasão de terras e prédios públicos.

“O que queremos é fazer uma pressão justa, com o instrumento legal que temos, que é a CPI, para que o financiamento público ao MST tenha fim, pois as cooperativas deles são de fachada”, afirma a senadora. A organizadora da comissão afirma que foram recolhidas 192 assinaturas na Câmara e 34 no Senado.

Nota do MST sobre CPI protocolada no Congresso Nacional

A força das nossas mobilizações e o avanço das conquistas dos trabalhadores Sem Terra causaram uma forte reação do latifúndio, do agronegócio, da mídia burguesa e dos setores mais conservadores da sociedade brasileira contra os movimentos sociais do campo, em especial o MST, principalmente por conta do anúncio da atualização dos índices de produtividade da terra pelo governo Lula.

Denunciamos que a CPI contra o MST é uma represália às nossas lutas e à bandeira da revisão dos índices de produtividade. Para isso, foi criado um instrumento político e ideológico para os setores mais conservadores do país contra o nosso movimento. Essa é a terceira CPI instalada no Congresso Nacional contra o MST nos últimos cinco anos. Além disso, alertamos que será utilizada para atingir os setores mais comprometidos com os interesses populares no governo federal.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os deputados federais Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), líderes da bancada ruralista no Congresso Nacional, não admitem que seja cumprida a Constituição Federal de 1988 e a Lei Agrária, de fevereiro de 1993, assinada pelo presidente Itamar Franco, que determina que “os parâmetros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados, periodicamente, de modo a levar em conta o progresso científico e tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional”.

Os parâmetros vigentes para as desapropriações de áreas rurais têm como base dados do censo agrário de 1975. Em 30 anos, a agricultura passou por mudanças tecnológicas e químicas que aumentaram a produtividade média por hectare. Por que o agronegócio tem tanto medo da mudança nos índices?

A atualização dos índices de produtividade da terra significa nada mais do que cumprir a Constituição Federal, que protege justamente aqueles que de fato são produtores rurais. Os proprietários rurais que produzem acima da média por região e respeitam a legislação trabalhista e ambiental não poderão ser desapropriados, assim como os pequenos e médios proprietários que possuem menos de 500 hectares, como determina a Constituição.

A revisão terá um peso pequeno para a Reforma Agrária. A Constituição determina que, além da produtividade, sejam desapropriadas também áreas que não cumprem a legislação trabalhista e ambiental, o que vem sendo descumprido pelo Estado brasileiro. Mesmo assim, o latifúndio e o agronegócio não admitem essa mudança.

Os setores mais conservadores da sociedade não admitem a existência de um movimento popular com legitimidade na sociedade, que organiza trabalhadores rurais para a luta pela Reforma Agrária e contra a pobreza no campo. Em 25 anos, tentaram destruir o nosso movimento por meio da violência de grupos armados contratados por latifundiários, da perseguição dos órgãos repressores do Estado e de setores do Poder Judiciário, da criminalização pela mídia burguesa e até mesmo com CPIs.

Apesar disso, resistimos e vamos continuar a organizar os trabalhadores pobres do campo para a luta pela Reforma Agrária, um novo modelo agrícola, direitos sociais e transformações estruturais no país que criem condições para o desenvolvimento nacional com justiça social.

Secretaria Nacional do MST

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