Estatuto da Igualdade Racial é aprovado com cortes por comissão da Câmara

Ministro da Promoção da Igualdade Racial espera que estatuto seja aprovado no Senado até 20 de novembro, Dia da Consciência Negra

Ministro Edson Santos (à direita) participa de sessão da comissão especial da Câmara dos Deputados que aprovou o Estatuto da Igualdade Racial (Foto: Agência Brasil/José Cruz)

O Estatuto da Igualdade Racial (PL 6264/05) foi aprovado por unanimidade na quarta-feira (9), pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisou o assunto. A proposta é resultado de mais de seis anos de discussão no Congresso. A versão aprovada exclui medidas relacionadas a terras quilombolas e espaço mínimo na mídia.

O texto prevê medidas como o incentivo fiscal à contratação de pelo menos 20% de negros em empresas com mais de 20 funcionários, o reconhecimento da capoeira como esporte, a reclusão de até três anos para quem praticar racismo na internet, o livre exercício dos cultos religiosos de origem africana e o estímulo às atividades produtivas da população negra no campo. A inclusão de aulas sobre histo´ria geral da África e do negro no Brasil passa a ser obrigatória no currículo do ensino fundamental.

“A aprovação foi um grande avanço. Por meio dele, o Estado fica obrigado a agir em relação às desigualdades existentes no país. É uma lei que vai unir a sociedade e gerar vários benefícios para populações historicamente excluídas”, comemora o ministro da Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos.

Mudança

Para garantir a aprovação, foi necessário um acordo com deputados contrários a alguns pontos da matéria.

Entre elas, estão a redução de 30% para 10% da proporção de candidatos negros que os partidos devem ter nas eleições; a retirada da obrigatoriedade de reserva, nos estabelecimentos públicos, de vagas para alunos negros vindos de escolas públicas na mesma proporção dessa etnia na população; e a supressão do inciso que definia quem eram os remanescentes de quilombos.

Outra mudança foi a retirada da expressão “igualdade” do dispositivo que trata da contratação de atores negros em produções artísticas. Também foram eliminados os itens que obrigariam emissoras de televisão e a industria cinematográfica a reservar uma cota para atores negros em filmes, novelas e programas.

“(Mesmo com as modificações) a essência continua a mesma: a inserção do negro brasileiro nos níveis de poder”, frisou o relator, deputado Antônio Roberto (PV-MG).

O deputado Damião Feliciano (PDT-PB) reclamou das mudanças e disse que foram prejudicadas “muitas conquistas”, como as cotas na educação. “Estamos aprovando um estatuto desidratado”, criticou. Ele lembra que, inicialmente, era prevista uma cota de 20% de atores negros nos meios de comunicação, percentual que ficou fora da versão final.

Devido a um acordo de lideranças do Congresso, o projeto não precisará passar pelo Plenário da Câmara. Ele volta para a Casa originária: o Senado Federal. A expectativa do ministro é que a aprovação final da proposta ocorra até 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.

“Lá no Senado não vamos apresentar recurso ao Plenário. A partir de hoje o DEM apoia e defende o Estatuto”, disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM/RS), representante do partido que mais fez oposição ao projeto.

Reconhecimento da desigualdade

O ministro da Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos,  considerou que a grande conquista é o reconhecimento da desigualdade: “Esse documento dá visibilidade à presença do negro na sociedade, às condições em que ficou após a Abolição da Escravatura e aos direitos que teve sonegados. Teremos condição de dar celeridade à reparação desses problemas por meio de políticas públicas do Estado.”

A presidente do Conselho de Comunidade Negra de São Paulo, Elisa Lucas Rodrigues, considerou a aprovação do estatuto “um grande avanço para nós, ativistas”.

Para o coordenador-geral da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Edson França, a decisão “reafirma a vanguarda do Brasil no ordenamento jurídico para a promoção da igualdade racial”.

Com informações da Câmara dos Deputados e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial