‘Venezuela não consegue andar sem Chávez’, diz analista

Miriam Saraiva acredita que eventual afastamento significaria caos para o país

Especialista diz que Chavez nunca esteve tão ameaçado de não conseguir a reeleição como em 2012 (Foto: arquivo RBA)

São Paulo – Há mais de um mês em tratamento contra um câncer na região do abdômen, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, enfrenta, além das complicações de saúde, sérias dificuldades políticas em seu país. Ao optar fazer seu tratamento em Cuba, Chavez não terá condições de acompanhar de perto o embaraço da economia venezuelana, fato que pode comprometer sua reeleição em 2012.

No poder há quase 13 anos – desde fevereiro de 1999 –, Chávez atravessa seu pior momento pessoal e político. Nos próximos meses, durante seu tratamento, Chávez se ausentará do governo. Para a professora de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Miriam Saraiva, a Venezuela corre riscos de atravessar um período de desordem.

“Nesse um mês em que o presidente ficou fora, já deixou claro para a população que o país tem muita dificuldade de andar sem ele”, avalia Miriam. “Na medida em que houve uma grande centralização de poder, enquanto Chávez estiver fora a Venezuela não toma decisões, não implementa políticas, não tem feito nada de diferente da rotina. O caso de uma doença mais continuada, significa um caos para o país.”

A professora ainda afirma que essa ausência, aliada a uma união de outros fatores que “colocaram a Venezuela em declínio”, tornam mais dificeis os planos do presidente para o ano que vem. “De todos os anos em que concorreu nas eleições presidenciais, a vitória de Chávez nunca esteve tão ameaçada”, diz a especialista.

“A situação de estagnação econômica, a violência urbana e a situação em geral que a Venezuela vive nos últimos anos já têm diminuído muito o apoio dele nas pesquisas”, observa  Miriam. Segundo a professora, “atualmente a aprovação do presidente venezuelano gira perto de 57%, enquanto, em outros tempos, rondava 75%”.

Como forma de amenizar a queda do líder venezuelano nas pesquisas, a professora carioca enxerga um uso político da enfermidade de Chávez por seu Partido Socialista Unido da Venezuela. “O partido está tentando aproveitar de alguma forma a doença dele para capitalizar, mostrá-lo como mártir, como uma pessoa forte, trabalhadora, que não se deixa vencer”, analisa Miriam.

Respondendo a essa análise, que já ronda a imprensa venezuelana, Hugo Chávez criticou quem duvida de sua doença ou vê a situação como estratégia política. “Alguns dizem que é mentira que fui operado para extrair um tumor. Se vissem meu abdômen, não vou mostrar, é claro, mas veriam a quantidade de pontos”, declarou o presidente.

Semelhanças com Dilma

Miriam comentou que é possível traçar apenas um “paralelo longínquo” do caso com o linfoma contraído por Dilma Rousseff em meados de 2009, quando era ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência. Na ocasião, Dilma ganhou grande destaque na imprensa. Depois de vencer a enfermidade, disputou e venceu o pleito para substituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Sempre que uma doença como essa atinge um presidente, ela pode causar duas situações opostas e conjuntas. Uma delas é que o indivíduo se torne um herói, pela força e superação; a outra é que as pessoas percam rapidamente a confiança na possibilidade de a pessoa se manter no governo. Uma joga a favor e outra contra”, resume a professora.

Assim como aconteceu com Dilma recentemente, com o surgimento de rumores que estaria novamente com uma doença grave – a Presidência informou que ela enfrentava uma pneumonia –, segundo a especialista, de agora em diante, o venezuelano corre o mesmo risco. “Chávez, assim como Dilma, tentou ser bem pouco transparente com a população sobre sua situação. Isso é perigoso porque pode levantar dúvidas, provocadas pela falta de informações das pessoas e da mídia”, comparou Miriam.

Na terça-feira (5), o governo brasileiro colocou à disposição do presidente venezuelano os hospitais do país. A cordialidade foi recebida por um chanceler da Venezuela e ainda não tem definições. Chávez ainda pretendia retornar para a próxima etapa de tratamento em Cuba.