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Uruguaios elegem presidente e parlamento em pleito marcado pela incerteza

Ex-presidente Tabaré Vázquez, aliado de Mujica, deve sair à frente no domingo, mas possivelmente terá de enfrentar conservador Lacalle Pou num segundo turno

EFE/Iván Franco

Jovens se manifestam contra redução da maioridade penal: Uruguai realiza plebiscito junto com eleições

São Paulo – Pouco mais de 2,6 milhões de uruguaios estão convocados às urnas no próximo domingo (26) para escolher seu futuro presidente entre sete candidatos e definir a integração do parlamento, em pleito de votação obrigatória e que quase certamente terá um segundo turno.

À frente do governo uruguaio entre 2005 e 2010, o ex-presidente Tabaré Vázquez, da coalizão governante de esquerda Frente Ampla, deverá vencer a corrida. É o que dizem as últimas pesquisas, que lhe atribuem 43% dos votos, mas não chegará aos 50% mais um necessários para ganhar a presidência no primeiro turno.

Em segundo lugar aparece o deputado Luis Lacalle Pou, do conservador Partido Nacional, ou “Blanco”, principal força da oposição. Filho do ex-presidente Luís Alberto Lacalle, que governou o país entre 1990 e 1995, Pou tem pouco mais de 30% das intenções de voto.

Em terceiro lugar, com 15%, aparece outro filho de ex-presidente: o senador Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, cujo pai, Juan María Bordaberry, cujo mandato, em sua segunda metade, foi uma ditadura. Pablo Mieres é o candidato do Partido Independente, o quarto com representação parlamentar, com 3%.

Também aspiram à presidência uruguaia, mas com um apoio de apenas 1%, Gonzalo Abella, candidato da Unidade Popular, César Vega, do Partido Ecologista Radical Intransigente, e Rafael Fernández, do Partido dos Trabalhadores.

Além de escolher o sucessor do presidente José Mujica, que não pode tentar reeleição porque as leis do país não permitem, os uruguaios comparecerão a 6.948 centros de votação de todo o país para definir a integração do futuro parlamento, formado por 31 senadores, incluído o vice-presidente da República, e 99 deputados representantes dos 19 departamentos.

A maior quantidade de votos, mais de um milhão, se concentra na capital Montevidéu, bastião da Frente Ampla. A coalizão de esquerda – que agrupa uma dúzia de partidos, entre eles socialistas, comunistas, marxistas, social-democratas, independentes e ex-guerrilheiros tupamaros – tem atualmente a maioria tanto no Senado como na Câmara dos Deputados. Mas, segundo as enquetes, as perderá.

Mujica deixará a Presidência da República com altos níveis de popularidade. Com 79 anos e problemas de saúde derivados da mais uma década que ficou preso em duras condições antes e durante a ditadura uruguaia (1975-1985), o presidente aceitou liderar a lista ao Senado de sua corrente dentro da Frente Ampla, o Movimento de Participação Popular (MPP). Segundo ele, a provável perda da maioria parlamentar pelo governismo fará com que a próxima legislatura seja de “muito diálogo e negociação”, atributos que até seus opositores lhe reputam.

De maneira simultânea às eleições, os uruguaios deverão definir sobre um projeto de reforma da Constituição para reduzir a maioridade penal de 18 a 16 anos para os adolescentes que cometam crimes graves. O tema divide a população praticamente meio a meio, independentemente da preferência política, embora o maior apoio esteja nos setores conservadores.

Nos últimos anos, o Uruguai conseguiu reduzir a pobreza de 40% para 11%, melhorar a distribuição de renda e deixar o nível de desemprego “historicamente baixo” na primeira década de governo da Frente Ampla, que administra o país desde 2005. Mas tem a inflação como ponto fraco.

De acordo com Mujica, a esquerda assumiu durante a grave crise bancária de 2002 e com o país pagando “salários miseráveis”, “aposentadorias vergonhosas” e “centenas de empresas” entrando em falência. Agora, Tabaré Vázquez quer voltar a ocupar a poltrona presidencial disposto a continuar a política econômica que levou o Uruguai ao “crescimento” e à diminuição das disparidades.

O Coeficiente de Gini, que mede a desigualdade, situa o Uruguai, junto com a Venezuela, como os dois países que tiveram a menor desigualdade da América do Sul entre 2002 e 2011. O governo uruguaio garante ter reduzido o nível de pobreza de 39%, em 2004, para 12%, em 2012.

O baixo desemprego – o Fundo Monetário Internacional (FMI) o situa em 6,9% em 2015, enquanto em 2005 chegou a 22% – e a enorme diminuição da pobreza – de 40% a 11% em dez anos, segundo o Banco Mundial – são constantes motivos de orgulho para os frenteamplistas. No entanto, um dos pontos fracos de sua gestão parece ser a inflação.

Embora as previsões do FMI para 2015 coloquem o Uruguai liderando o ranking de PIB per capita da América Latina, com US$ 16.332, também o situam como segundo país com a taxa de inflação mais alta. “A inflação não está fora de controle. Está um pouco acima do que desejaríamos. Mas seria um problema se não fosse previsível, o que não é o caso”, comentou o ministro da Economia, Mario Bergara.

Este é exatamente um dos temas que os líderes da oposição usaram contra o governo. O candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, considerou durante a campanha eleitoral que o Uruguai sofreu uma “perda de competitividade nestes anos” e prometeu estabelecer um controle da inflação, fortalecer o peso frente às oscilações do dólar e reduzir a burocracia que os investimentos estrangeiros enfrentam. Por sua vez, o representante do Partido Colorado, Pedro Bordaberry, pediu a contenção dos gastos públicos como medida de “ataque à inflação”.