Retorno de Zelaya abre caminho para fim da suspensão de Honduras na OEA

Sessão na próxima quarta-feira deve encerrar veto iniciado em julho de 2009 e ratificar vitória da visão brasileira em detrimento das pretensões dos Estados Unidos no caso

Zelaya foi derrubado sob o argumento de que pretendia promover mudanças constitucionais, como o referendo. Este ano, o Congresso autorizou as mesmas mudanças propostas por Zelaya, desta vez sem golpe (Foto: José Cruz. Agência Brasil)

São Paulo – O retorno do ex-presidente Manuel Zelaya a Honduras deve colocar fim à suspensão do país na Organização dos Estados Americanos (OEA). O principal organismo político regional convocou para quarta-feira (1º) uma assembleia extraordinária para discutir a possibilidade, que deve contar com o apoio do Brasil.

No sábado (28), Zelaya foi recebido por uma multidão em Tegucigalpa após 16 meses no exílio. Derrubado por um golpe em 28 de junho de 2009 sob os mais diversos pretextos, o ex-presidente teve o regresso mediado pelos governos da Venezuela e da Colômbia, que voltaram a ter relações amistosas após a chegada de Juan Manuel Santos ao comando de Bogotá.

De imediato, Zelaya foi se encontrar com o atual presidente, Porfírio “Pepe” Lobo, num sinal de que pregará a reconciliação com a gestão escolhida em novembro de 2009. “Se está falando de diálogo, de instrumentos pacíficos. Hoje se está vendo o caminho correto. Meu discurso nesta reunião foi que os tempos mudam e estamos obrigados a seguir com as mudanças”, declarou Zelaya em entrevista à TeleSur.

O Brasil, que enviou o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ao encontro, deve votar pelo retorno de Honduras à OEA, ratificando a vitória de sua posição sobre a dos Estados Unidos. A Casa Branca ansiava reconhecer o governo de Lobo já em novembro de 2009, mas o Itamaraty bancou a posição de que não seria possível dar aval a uma gestão escolhida sob a égide do golpe comandado por Roberto Micheletti.

Dentro de Honduras

O Equador já adiantou que não considera o retorno de Zelaya como medida suficiente para assegurar o fim da suspensão. O presidente Rafael Correa lembra que há inúmeras denúncias de violações de direitos humanos nestes quase dois anos desde a derrubada do presidente legítimo.

Movimentos contrários às forças golpistas somam-se ao coro informando que ainda há assasinatos de opositores e que os mais básicos direitos trabalhistas não são respeitados. “Os golpistas são capazes inclusive de fazer um novo complô contra Manuel Zelaya. Estamos confiantes. Nosso chamado é para o povo hondurenho tomar cuidado porque não podemos nos aliar a uma política repressora. A segurança de Zelaya é outra coisa que nos preocupa”, afirmou Berta Cáceres, dirigente do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras, em entrevista à Rádio del Sur.

A Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), que se transformou numa força importante de oposição aos golpistas, também considera que a repressão no país continua em um ponto crítico, mas acredita que a volta de Zelaya possa marcar uma virada. O ex-presidente, ao que tudo indica, deixará o Partido da Liberdade (PL), um dos apoiadores de sua derrubada, para filiar-se à FNRP, que já começou a colher assinaturas para se transformar em uma sigla política oficial. 

Rafael Alegría, coordenador da frente, adiantou que pretende montar uma coalizão para desafiar em eleições aos atuais governantes. A intenção é levar adiante as reformas que motivaram o golpe contra Zelaya.

Com informações do Opera Mundi.