Nova guerra

Pentágono admite já preparar EUA para invadir Síria; Al Assad denuncia oposição

ONU tenta convencer regime a ter acesso total para averiguação da ocorrência de denúncias ocorridas na quarta-feira

Jamal Nasrallah/EFE

Sírios fazem protesto em frente à embaixada na Jordânia contra suposto ataque com armas químicas

São Paulo – O Pentágono, departamento de Defesa dos Estados Unidos, revelou na noite de ontem (23) que já começou a mobilizar forças para uma possível ação militar contra a Síria caso o presidente Barack Obama decida por este caminho. A informação foi divulgada pelo secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel. Por outro lado, no país árabe, as forças militares leais ao presidente sírio Bashar al Assad afirmaram hoje (24) ter encontrado indícios de uso de armas químicas ao invadirem refúgios das tropas rebeldes nos arredores de Damasco.

Segundo Hagel, diante dos apelos para uma intervenção militar após a denúncia de um ataque com armas químicas por parte do governo sírio (que nega essa versão) ocorrido nesta semana, os comandantes norte-americanos preparam uma gama de “opções” para o caso de Obama decidir lançar um ataque contra o regime de Damasco, disse Hagel a bordo de um avião a caminho da Malásia. Hagel, que não revelou qualquer detalhe sobre posicionamento de tropas, destacou que “o departamento de Defesa tem a responsabilidade de prover ao presidente opções para todo tipo de contingência”.

Divergências

A imprensa dos EUA tem revelado divergências dentro do governo sobre os riscos de outra intervenção militar dos Estados Unidos no Oriente Médio. Barack Obama classificou nesta sexta-feira de muito preocupante a possibilidade de o regime sírio ter usado armas químicas: ‘o que temos visto indica que é claramente um grande evento, de muita preocupação, e nós já estamos em contato com toda a comunidade internacional’.

Na quarta-feira, o Exército sírio realizou uma ofensiva contra os redutos rebeldes de Ghuta oriental e Mouadamiyat al Sham, localizados, respectivamente, na periferia leste e oeste de Damasco. A oposição acusou o regime de utilizar gases tóxicos contra civis nos subúrbios da capital, em um ataque que deixou 1.300 mortos, o que é negado categoricamente pelo governo sírio.

O opositor Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que se baseia em uma ampla rede de ativistas e médicos em todo o país, registrou 170 mortes na região, e não confirmou o uso de armas químicas. A ONG, no entanto, afirmou que o regime bombardeou de forma sistemática a zona citada entre quarta e quinta-feira.

Uma eventual intervenção militar na Síria é rejeitada pela Rússia, tradicional aliado de Damasco, que considera o ‘uso da força inaceitável’. Moscou reagiu assim à posição do ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, que declarou que, se o uso de armas químicas pelo regime sírio for comprovado, será necessário ‘uma ação que pode assumir a forma de uma reação de força’.

O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, declarou na sexta-feira que o atentado de quarta foi sim ‘um ataque químico do regime de Assad’. A Suécia também manifestou sua certeza quanto a autoria do ataque e o uso de substâncias tóxicas.

Ataque com armas químicas

O regime sírio assegurou neste sábado que muitos de seus soldados tiveram contato com “elementos químicos e sofreram asfixia” quando entraram em refúgios rebeldes em Yobar, na periferia de Damasco, disse uma fonte oficial à televisão estatal.

“Os heróis das Forças Armadas estão entrando nos túneis dos terroristas em Yobar e viram elementos químicos. Muitos soldados sofreram asfixia”, assinalou a fonte, que não foi identificada. A emissora não forneceu mais detalhes sobre essa informação.

A acusação do regime se deu pouco depois da chegada da representante da ONU para Assuntos de Desarmamento, Angela Kane, hoje em Damasco, que vai tentar convencer as autoridades sírias a permitirem o acesso imediato dos investigadores à região do suposto ataque com armas químicas na periferia da capital.

Angela chegou a Damasco através da estrada que une esta cidade com Beirute, e entrou no hotel sem dar declarações à imprensa, informaram à Agência Efe fontes oficiais. A representante da ONU deve se reunir com urgência com altos cargos do regime sírio, a quem pedirá permissão imediata para a entrada da missão das Nações Unidas que investiga o uso de armas químicas no subúrbio de Guta Oriental, onde teriam morrido mais de 1,3 mil pessoas segundo a oposição. Até o momento, as autoridades sírias não deram uma resposta para as reivindicações da comunidade internacional apara permitir o acesso dos investigadores da ONU ao local.

A Síria enfrenta, desde março de 2011, uma guerra civil que já deixou pelo menos 100 mil mortos, segundo a ONU. Mais de 2 milhões de sírios deixaram o país rumo aos vizinhos, gerando uma crise de refugiados e aumentando a instabilidade da região. Assim como a França e o Reino Unido, os EUA apoiam a oposição e, oficialmente, oferecem apoio não letal aos rebelde, além de ajuda humanitária.