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Para Putin, crescimento da influência do Brasil é ‘colossal’. Ascensão se deve à estratégia de Lula, diz pesquisador

“País se libertou da condição de pária herdada de Bolsonaro em tempo recorde e volta a ocupar espaço de protagonista na arena internacional”, diz Thomas Heye, da UFF

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Entre as inúmeras viagens e encontros internacionais, presidente esteve com o papa Francisco no Vaticano em junho

São Paulo – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse na quinta-feira (5) que o Brasil teve “um crescimento colossal de sua influência”. Putin deu a declaração em uma apresentação no Clube Valdai de Discussões Internacionais, no contexto do crescimento da ordem multipolar no mundo. “A Índia é um país poderoso e se torna a cada dia mais forte, sob o governo do premiê Narendra Modi. Ou o Brasil na América Latina, com uma população enorme, um crescimento colossal de influência, ou a África”, disse o líder russo, em referência aos países do Brics.

“Como não considerar a influência deles no mundo? Então o peso deles em tomar decisões-chave na agenda internacional deve crescer”, continuou Putin, em conferência que debateu o tema “Multipolaridade justa: como garantir segurança e desenvolvimento de todos”.

Para Thomas Heye, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o Brasil conseguiu “em tempo recorde, com uma estratégia muito bem elaborada, se libertar da condição de pária herdada do governo anterior”. Ele lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em menos de 9 meses, visitou 19 países.

Diplomacia presidencial e Celso Amorim

“Um homem de quase 80 anos, e ainda com dor no quadril, ele investiu muito capital político nisso. E a gente vê o Brasil ocupar um protagonismo que já teve num passado recente, e ocupar um espaço na arena internacional até desproporcional em relação aos nossos recursos de poder”, avalia Heye.

Para o pesquisador, o país chega a esse patamar diplomático atual mesmo sem ter o peso de outros países do próprio Brics. “Como estamos falando de um mundo multipolar, sem dúvida a Rússia é um polo de poder, a Índia é um polo de poder, ou a China, mas o Brasil não é.”

Na opinião do professor da UFF, a ascensão brasileira se deve principalmente à diplomacia presidencial. “São dois fatores: uma figura carismática, com muita experiência internacional, que é Lula; e além disso o presidente tem ao seu lado direito um grande estrategista, que é Celso Amorim”, diz, sobre o assessor especial de Lula para assuntos internacionais.

Sul Global e Argentina

Em relação ao chamado Sul Global, Heye comentou também a possibilidade de a Argentina eleger entre outubro e novembro o extremista Javier Milei, risco que continua grande. Na opinião do professor, “seria uma tragédia”. “Eu até vejo o voto do eleitorado argentino em Milei como um protesto. Mas, convenhamos, Milei é uma espécie de Tiririca anarco-capitalista.”

“Tem muita frustração do eleitorado com o peronismo e o macrismo, mas ainda aposto na vitória de Massa”, acrescenta Heye, em referência a Sergio Massa, ministro da Economia argentino e candidato do presidente Alberto Fernández à sucessão.

Na opinião do pesquisador da UFF, mesmo se Milei vencer, o Mercosul não deve sofrer consequência tão grave. Mesmo querendo, ele não conseguiria acabar com o bloco, coisa que, afinal, nem Jair Bolsonaro conseguiu, sendo presidente do país mais importante do bloco.

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