ONU não consegue entregar ajuda para 1 milhão de pessoas na Síria

Crise humanitária se agrava no país, com crescimento de deslocados e famintos

Na primeira declaração nos últimos cinco meses, Bashar al Assad reiterou que sua missão atual é “defender a Síria de seus inimigos” e rejeitou negociar com “terroristas” (Foto: Sana/Reuters)

São Paulo – As Nações Unidas não conseguem providenciar alimentação para cerca de 1 milhão de pessoas que estão passando fome na Síria, informou hoje (8) a porta-voz do Programa Mundial de Alimentação do organismo, Elisabeth Byrs.

Sob o plano de ajuda humanitária ao país árabe, a ONU consegue entregar refeições para 1,5 milhão de pessoas todo mês. No entanto, segundo estimativas da Crescente Vermelho, pelo menos 2,5 milhões de residentes sírios necessitam de itens básicos, incluindo combustível.

Além da falta de segurança em algumas áreas do país, o órgão não tem autorização do governo sírio para utilizar o porto de Tartus para descarregar os materiais e oferecer assistência em determinados locais. Dezenas de funcionários já deixaram as cidades de Homs, Aleppo e Tartus por conta do crescente perigo.

Longas filas em frente a padarias se tornaram um cenário comum no país, devastado por um conflito que já completou 21 meses e deixou ao menos 60 mil mortos. Mas, de acordo com a ONU, nem sempre existe pão disponível aos consumidores já que os danos na infraestrutura e a guerra prejudicaram, em larga escala, a produção de trigo.

Com a intensificação da luta nos últimos meses, a crise humanitária se agravou ao redor de todo o território sírio. O número de deslocados internos chegou a 2 milhões e, neste mês de janeiro, a Acnur registrou 600 mil refugiados da Síria. “Nosso principal parceiro, a Crescente Vermelho está sobrecarregada e não tem mais capacidade de expandir”, afirmou Byrs. 

Em coletiva de imprensa em Genebra, ela explicou que a organização está se preparando para ampliar sua missão na Síria. A ONU estima que 4 milhões de pessoas precisam de assistência.

“O Programa Mundial de Alimentação está fazendo arranjos para importar combustível de uso humanitário e resolver o impacto de uma escassez de combustível em todo o país, que tem afetado a capacidade da agência de distribuir o alimento a tempo – do porto para as instalações de acondicionamento – e para encontrar caminhões que trabalhem na distribuição dos alimentos”, afirmou Byrs.

No mês passado, a ONU pediu US$ 1,5 bilhão para investir no programa de ajuda humanitária na Síria.

O secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, afirmou ontem estar preocupado com a situação de calamidade do povo sírio e criticou o presidente Bashar al Assad por seu último pronunciamento. 

De acordo com o porta-voz da ONU, Ki-moon está “decepcionado com o discurso de Assad por não contribuir para uma solução que possa terminar com o sofrimento terrível da população”. 

O secretário-geral enfatizou a importância de negociação entre as partes e fim do conflito militar para o estabelecimento de um governo de transição, composto por integrantes da oposição e do regime sírio. “O discurso de Assad rejeitou o ponto mais importante do Comunicado de Genebra”, disse ao se referir de acordo do Grupo de Ação para a Síria, formado pelos membros do Conselho de Segurança e países da região (Catar, Turquia, Kuwait e Iraque), no dia 30 de junho.

Em sua primeira declaração nos últimos cinco meses, Assad reiterou que sua missão atual é “defender a Síria de seus inimigos” e rejeitou negociar com “terroristas”, como define os grupos opositores. O presidente sírio discursou no domingo (6) diante de um público que o ovacionou.

Suas declarações foram muito criticadas por organizações rebeldes e pelos Estados Unidos, que apoia a mudança de governo.