Filme reprisado

Morte de líder do Estado Islâmico não afeta estrutura da organização

Reginaldo Nasser: “Quanto mais guerra, mais conflito e mais refugiados. E mais se alimentam organizações como o Estado Islâmico”

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Prédio bombardeado: 13 pessoas, entre elas seis crianças, morreram no ataque

São Paulo – Seja democrata ou republicano, um filme parece se repetir em relação a presidentes dos Estados Unidos. Quando estão com popularidade reduzida, promovem uma operação militar, sempre longe do território estadunidense. Desse modo, exalta-se o resultado como grande triunfo. Não foi diferente após a ação da quarta-feira (2) que resultou na morte do líder do Estado Islâmico (EI) Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi. Que, aliás, não foi a única vítima, pois outras 13 pessoas, entre elas seis crianças, morreram no ataque.

Mesmo assim, o mandatário dos Estados Unidos celebrou no Twitter. Afirmou que as forças militares dos EUA realizaram “com sucesso” uma operação de contraterrorismo para “proteger o povo americano e nossos aliados e tornar o mundo um lugar mais seguro”. Entretanto, para o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, o presidente lançou mão de expediente utilizado por antecessores também como resposta a críticas recebidas de diversos setores.

“Biden está com baixa popularidade. Porque tem a questão da Ucrânia em que os setores à direita, centro e também parte da população querem que o governo tome medidas mais duras em relação à Rússia. E agora escolhem esse alvo para mostrar que são fortes e protegem a população norte-americana. E tudo indica que esse líder estava em casa, e não em um bunker”, diz Nasser, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Sem impactos para o Estado Islâmico

E esta não deve ser a única operação militar desse estilo no atual governo dos Estados Unidos. “A tendência, com o governo Biden, é esse tipo de ação aumentar à medida em que os EUA demonstrem o que muitos consideram fraqueza. Sa, saindo do Afeganistão, não tendo mais presença na Síria e mostrando hesitação na Ucrânia. E são ataques com drones, helicópteros e a possibilidade de baixa pra os Estados Unidos é mínima”, pontua.

O iraquiano Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi tinha 45 anos e foi um importante líder no precursor do atual EI, o Estado Islâmico do Iraque, um desdobramento da Al-Qaeda, logo após a invasão dos EUA que derrubou o líder iraquiano Saddam Hussein em 2003. Embora fosse uma liderança importante, sua morte não deve afetar a estrutura do grupo.

“O Estado Islâmico é uma organização altamente profissional, chegou a administrar um território do tamanho da Jordânia, com seis milhões de pessoas. A morte de um líder abala, mas não afeta a organização em nada. E quem sofre com os atentados do Estado islâmico é o povo da Síria e do Iraque, não os norte-americanos”, explica.
Nasser destaca ainda que a máquina de guerra colocada em operação por potências como os Estados Unidos produz mais combatentes que engrossam as fileiras da organização.

“Quanto mais guerra, mais conflito, mais refugiados, mais se alimentam organizações como o Estado Islâmico. São pessoas desesperadas, desprovidas das mínimas condições de vida, fora de suas casas, e não é casual que o lugar onde foi assassinado o líder do Estado Islâmico seja uma região de refugiados na Síria, fronteira com a Turquia”, afirma.

Confira a entrevista de Reginaldo Nasser