Por paz

Argentinos tomam as ruas por democracia, contra o ódio político e por Cristina Kirchner

Presidente Alberto Fernández decretou feriado nacional “para que, em paz e harmonia, o povo possa se expressar em defesa da vida, da democracia e em solidariedade à nossa vice-presidenta”

Arquivos pessoais/Twitter
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‘Sempre com Cristina’ e ‘Eles são os responsáveis ​​pelo ódio que geram’. Argentinos se manifestam em defesa da democracia, após atentado contra ex-presidenta Cristina Kirchner

São Paulo – Milhares de pessoas foram às ruas de Buenos Aires e outras cidades da Argentina desde as primeiras horas desta sexta-feira (2), em manifestações em defesa da democracia e contra o ódio político, num movimento provocado pela tentativa de assassinato da vice-presidenta Cristina Kirchner, na noite de ontem. O atentado foi cometido por um brasileiro de nascimento e residente no país vizinho. Extremista de direita e simpatizante do nazismo, ele chegou a puxar o gatinho contra o rosto de Cristina quando ela chegava em sua casa, mas a arma falhou. O presidente Alberto Fernández a decretou feriado nacional hoje.

Cristina é vítima de perseguição política semelhante à cometida contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com setores do Ministério Público do país deflagrando uma sucessão de ataques contra a ex-presidenta.

De acordo com o presidente, a ideia do feriado foi justamente para “que a cidadania pudesse se expressar em seu repúdio”. Ele convocou a sociedade argentina à frente da Casa Rosada, sede do governo. As movimentações começaram por volta das 12h, horário local.

A presidenta do sindicato dos atores, Alejandra Darín, leu um manifesto em defesa da paz e em rechaço ao atentado. “Se não quisermos que a intolerância e a violência política arrasem com a democracia que construímos até hoje devemos refletir sobre o ocorrido de ontem”, disse.

‘Sempre com Cristina’

“A vida democrática é incompatível com ações de minorias violentas que pretendem se impor diante da sociedade e tomar atitudes cada vez mais sectárias”, continuou Alejandra. “A convivência democrática é condição necessária para o desenvolvimento de nossos filhos e filhas. Os danos que produzem as ações e palavras violentas condenam o futuro da Argentina (…) O povo está comovido, impactado pelo que aconteceu, incluindo milhões que não se simpatizam com Cristina ou com o peronismo. Em nome de nossos compatriotas, fazemos este apelo por unidade, mas não a qualquer preço: o ódio tem que estar fora”, completou.

Ao longo do dia, os milhares de manifestantes entoaram gritos e canções peronistas. “Sempre com Cristina”; “Eles são responsáveis pelo que geram”; “A democracia é nossa e se defendem” estão entre eles. Os atos na Casa Rosada contaram com organização da Frente de Todos, uma coalizão política que dá base ao governo de Fernández e Cristina. Além destes atos, uma vigília foi montada em frente à casa de Cristina, que também conta com forte presença policial.

A Associação Mães da Praça de Maio também marcou presença durante os atos. A entidade é formada por mães de desaparecidos durante a ditadura militar (1966-1973) que cobram, desde abril de 1977 respostas sobre os crimes cometidos pelo regime. “Cristina é a pátria, e a pátria está sob agressão e em perigo. Ela é a única mulher capaz de defendê-la como defendeu e por isso queriam matá-la ontem. E o povo reagiu”, afirmou a presidenta das Mães da Praça de Maio, Hebe Bonafini.

Contra o fascismo

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas para reassumir o Planalto em 2023, ligou nesta tarde para a vice-presidenta. De acordo com informações da imprensa argentina, Lula expressou solidariedade a Cristina e classificou a tentativa de assassinato como fascista. A solidariedade de Lula soma-se ao repúdio oficial de nações como Chile, Estados Unidos, Peru, Cuba, Bolívia, México, Colômbia, Espanha, e diversos outros.

O atentado contra Cristina Kirchner provocou a impensa comercial argentina para o debate. Isso, porque os meios de comunicação tradicionais, ligados ao grande capital, atacam de forma violenta a política adotada pelo presidente Fernandez. “Estamos obrigados a recuperar a convivência democrática que foi quebrada pelo discurso de ódio que se espalhou em diferentes espaços políticos, judiciais e midiáticos da sociedade argentina”, disse Fernández.

Ainda em julho, uma manifestação celebrada pela imprensa comercial argentina mostrou o que estava porvir. No dia 21 daquele mês, um grupo de dez pessoas fez uma manifestação em Buenos Aires onde atacavam políticos e exigiam a adoção de políticas conservadoras. Na ocasião, o gabinete da vice-presidenta foi atacado com pedras. Já no dia 22 de agosto, um deputado conservador, Francisco Sanchez deu uma declaração de que Cristina “merecia a pena de morte, não prisão domiciliar”.

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