ESTADOS UNIDOS

Joe Biden completa um ano de gestão com impopularidade em alta e reformas bloqueadas

O presidente dos Estados Unidos enfrenta problemas econômicos e no enfrentamento à pandemia. Eleições legislativas de novembro podem representar um perigo para os democratas, com grandes chances de os republicanos retomarem o controle do Legislativo

Official White House/Adam Schultz
Official White House/Adam Schultz
Um ano depois da posse de Biden, seu saldo é considerado "decepcionante" e pode fortalecer seu antecessor, Donald Trump

São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, completa um ano no cargo, nesta quinta-feira (20), após ter sido eleito com 80 milhões de votos – um recorde que o ajudou a vencer o republicano Donald Trump. Entretanto, 12 meses depois, sua gestão à frente da Casa Branca sofre com elevada impopularidade e falta de força política para aprovar reformas no país.

O 46º presidente estadunidense recebeu um país polarizado politicamente, com desemprego e inflação em alta, liderando o ranking mundial de casos e mortes pela covid-19 e após o pior ataque sofrido pelo Congresso do país, quando apoiadores de Trump invadiram o local.

Biden começou seu mandato com 56% do país aprovando seu desempenho, segundo a RealClearPolitics. Entretanto, o índice caiu, após enfrentar dificuldades para cumprir suas principais promessas de campanha: o controle da pandemia e a restauração econômica. Hoje, o presidente dos Estados Unidos conta com 42% de aprovação e 52%, de rejeição.

Entre altos e baixos, elle conseguiu reduzir os índices de desemprego e aprovou pacotes econômicos que incluem a destinação de US$ 1 trilhão para infraestrutura e outros US$ 1,9 trilhão para auxílio às vítimas do corovarívus. Entretanto, uma de suas principais bandeiras, o projeto Build Back Better, de US$ 1,75 trilhão para combater a crise climática e fortalecer o seguro de saúde e a rede de segurança social, segue travado, sem apoio suficiente de democratas e republicanos.

Insucesso nas ações

No período, Joe Biden não conseguiu aprovar a reforma dos direitos eleitorais e teve que enterrar duas medidas emblemáticas nos últimos dois meses: uma que visava proteger, por lei, o acesso ao voto das minorias, e outra que impunha a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 nas empresas do setor privado com mais de 100 funcionários. O primeiro projeto não avançou no Parlamento, já o segundo foi freado pela Suprema Corte, com maioria de magistrados conservadores.

A falta de apoio na aplicação das reformas passa, inclusive, pela sua base de apoio. Os senadores Kyrsten Sinema e Joe Manchin, democratas moderados, fizeram obstrução ao seu pacote de investimentos em políticas sociais e de combate às mudanças climáticas. De acordo com o jornalista da BBC Anthony Zurcher, Biden fez promessas sem a possibilidade de cumpri-las.

“Grande parte do foco no ano passado foi sobre o que Biden não alcançou no Congresso versus o que seu governo conseguiu aprovar. Como qualquer pai ou mãe sabe, fazer uma promessa que você não é capaz de cumprir é uma ótima maneira de provocar uma birra. Biden propagou muitas promessas na campanha, algumas das quais eram irrealistas ou dependiam de circunstâncias além de seu controle. Agora ele está enfrentando um eleitorado que está começando a ficar temperamental”, explicou, em matéria publicada no veículo britânico.

Especialistas apontam também que uma série de eventos possivelmente influenciaram para o aumento da desaprovação de Biden, como a retirada militar do Afeganistão. A remoção das tropas americanas, em agosto de 2021, foi seguida pelo retorno do regime talibã. “A forma como isso aconteceu é que foi o problema. Era a guerra mais importante, mais marcante, a guerra mais longa da história dos EUA”, afirmou Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP, em entrevista ao g1.

Pandemia e inflação

Logo após assumir, Biden ganhou destaque ao promover uma forte ação contra a pandemia, iniciando um processo de compra e distribuição de vacinas e testes contra covid-19. Atualmente, cerca de 75% da população dos Estados Unidos tomou a primeira dose e 63% está totalmente imunizada. Entretanto, o país registra 850 mil mortos e continua com o maior número de óbitos no mundo.

Além disso, assim como em outros países, o líder estadunidense sofre com o surgimento de novas variantes e grupos que fazem oposição contínua às vacinas. Com o aumento de casos provocados pela ômicron, especialistas dizem que Biden paga uma “conta política”. “Biden declarou em um discurso em julho que os EUA poderiam celebrar a ‘independência’ da pandemia de covid-19. Embora a Casa Branca tenha crédito por aprovar um enorme pacote de ajuda à pandemia, sua incapacidade de se preparar para os desafios apresentados pelas variantes delta e ômicron transformou o que parecia um sucesso iminente em um trabalho longo e árduo”, acrescenta Zurcher à BBC.

A economia também segue como pedra no sapato nesse primeiro ano da gestão Biden. Apesar da queda no desemprego, com a criação de 6,4 milhões de postos de trabalho, a inflação dos Estados Unidos está no nível mais alto desde 1990, após os preços ao consumidor subirem 7% entre dezembro de 2020 e o mesmo período em 2021. Entretanto, o presidente diz ter otimismo para o ano de 2022. “Criamos 6 milhões de novos empregos. Mais empregos em um ano do que em qualquer tempo anterior. O desemprego caiu. A taxa de desemprego caiu para 3,9%. A pobreza infantil caiu quase 40%”, disse, em pronunciamento feito ontem (19).

Futuro dos EUA

Um ano depois da posse de Biden, seu saldo é considerado “decepcionante”. No dia 1º de março, o presidente dos EUA realizará um discurso de prestação de contas no Congresso do país. Se o líder do país não inverter a tendência até lá, as eleições legislativas de novembro podem representar um perigo para os democratas, com grandes chances de que os republicanos retomem o controle do Legislativo.

De acordo com artigo publicado por Oliver Salet, correspondente da DW em Washington, se as coisas continuarem como estão, os democratas sofrerão uma derrota eleitoral esmagadora nas eleições de meio mandato em novembro. “Donald Trump poderia então ser ressuscitado politicamente e até tornar-se presidente da Câmara dos Representantes, como alguns no Capitólio já estão especulando. Esse seria o início do fim de Biden e talvez o retorno de Trump. Detê-lo será crucial – não apenas para a presidência de Joe Biden, mas para o futuro da democracia americana. E, assim, de todo o mundo ocidental”, alertou.