Crise

Equipe da ONU encontra provas ‘claras’ de uso de gás sarin na Síria

Relatório de inspetores afirma que houve uso em escala 'relativamente grande' deste tipo de arma durante ataque que matou cerca de 1.400 pessoas, mas cuja autoria é desconhecida

Arquivo EFE

O material produzido pelos inspetores da ONU foi entregue ao secretário-geral, Ban Ki-Moon

São Paulo – Os inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) encontraram provas “claras e convincentes” do uso de gás sarin no ataque perpetrado em 21 de agosto nos arredores de Damasco, na Síria, no qual morreram cerca de 1.400 pessoas. A constatação foi feita pelos analistas independentes na primeira página do informe elaborado a partir das evidências coletadas pela equipe liderada pelo professor Ake Sellstrom durante visita à Síria no final de agosto.

Os inspetores asseguram que as amostras químicas, médicas e ambientais recolhidas no terreno fornecem provas “claras e convincentes” de que naquele dia foram usados foguetes terra-terra com o agente sarin. “A conclusão é que no conflito na Síria foram usadas armas químicas contra civis, incluídos menores de idade, em uma escala relativamente grande”, afirmaram os inspetores das Nações Unidas, sem, no entanto, atribuir a autoria do ataque ao governo ou à oposição a Assad.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que recebeu ontem o relatório das mãos do professor Sellstrom, deve se reunir com os membros do Conselho de Segurança e fará um pronunciamento agora à tarde.

O relatório é publicado dois dias depois de Estados Unidos e Rússia chegarem a um acordo para dar ao regime de Bashar al Assad um prazo de sete dias para fazer um inventário de seu arsenal químico e para que até em meados de 2014 ele seja destruído.

França, Estados Unidos e o Reino Unido pediram hoje ao Conselho de Segurança da ONU que aprove uma “resolução forte” sobre o conflito na Síria “que preveja consequências sérias” se o acordo não for cumprido.

Já o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, criticou o pedido ocidental de uma “resolução forte” contra a Síria ao considerar que foge do estipulado com o secretario de Estado dos EUA, John Kerry, em Genebra.

Já o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, defendeu que o Conselho de Segurança aprove o fim imediato do envio de armas à Síria. Trata-se de uma referência ao possível fornecimento de munição a opositores de Assad, ajudados principalmente pelo governo norte-americano.

“Defendemos a cessão imediata do fluxo de armas para a Síria, que só tem agravado o drama humanitário, gerado mais mortes e mais refugiados. Esse é um problema que tem de ser equacionado. Sem dúvida, esperaríamos que o Conselho de Segurança pudesse se pôr de acordo para determinar a cessão desse fluxo”, explicou.

Figueiredo também defendeu uma solução política, e não militar, ao conflito – assim como foi abordado no relatório da Comissão de Inquérito da ONU. “Essa é a hora de investirmos na diplomacia para a busca de uma paz duradoura. É hora de abandonarmos qualquer plano de intervenção militar estrangeira, que só agravaria a situação”, explicou o ministro, que saudou os Estados Unidos e a Rússia pelo acordo firmado nos últimos dias.

Ele também reconheceu o avanço da Síria ao aceitar aderir à Convenção de Proibição ao Uso de Armas Químicas (Cpaq) e falou sobre a soberania do país e a necessidade de a comunidade internacional aceitar soluções da própria Síria para os seus conflitos.

Sobre a crise, o ministro Figueiredo ainda informou sobre a importância do tema para o Brasil, que tem numerosa população com ascendência síria. Isso, para ele, credencia o Brasil a participar das negociações dessa questão.

“Somos um país que tem uma sensibilidade grande para o que se passa na Síria. Do nosso ponto de vista, isso nos credencia a participar ativamente do diálogo nessa busca por soluções”, disse o chanceler. De acordo com ele, o Brasil está disposto a contribuir para o êxito da Conferência Internacional Genebra 2, que tentará encontrar uma solução política para o conflito.

O ministro sírio de Informação, Omran al-Zoubi, disse que seu país “cumprirá” com uma resolução do Conselho de Segurança, que aceita a proposta russa para desmantelar seu arsenal e que se unirá à Convenção sobre Armas Químicas.

Comissão tenta ser recebida em Damasco

O governo sírio convidou pessoalmente a jurista suíça Carla del Ponte, membro da comissão investigadora da ONU para a Síria, para visitar o país. A proposta, no entanto, não se estende aos demais membros da equipe, o que diminui sua força.

Del Ponte indicou que se reuniu há poucos dias com o embaixador sírio perante a ONU em Genebra para dizer que, se as forças governamentais não utilizam armas químicas, “é o momento de convidar a comissão completa para investigar isto, já que temos jurisdição para isso”.

Em entrevista coletiva em Genebra, o presidente da comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, explicou que Del Ponte recebeu um convite a “título pessoal para visitar a Síria”. A comissão então fez com que a jurista transmitisse dias depois, durante uma reunião com o representante do governo sírio em Genebra que “era preferível convidar todos os membros, pelo menos também o presidente”.

O embaixador sírio recebeu essa mensagem e afirmou que realizaria as consultas correspondentes com Damasco, acrescentou Pinheiro.

A comissão investigadora da ONU para o conflito sírio também foi convidada a visitar Irã e Arábia Saudita, tidos como principais apoiadores regionais dos lados em conflito na Síria.

O governo de Teerã é o principal aliado do regime de Bashar al Assad, ao lado da Rússia. Os membros da comissão se reunirão com as autoridades iranianas em outubro, informou Pinheiro.

De outro lado, o governo saudita é considerado um dos principais suportes dos grupos opositores armados na Síria e fornecedor de armas para os rebeldes. A comissão está dialogando com os governos iraniano e saudita para definir as datas das visitas e as autoridades que os receberão.

Com informações da Agência EFE e da Agência Brasil.