Enquanto povo volta à praça no Egito, militares suspendem Parlamento e Constituição

Os egípcios começaram a se livrar dos milhares de retratos de Mubarak espalhados pelo país (Foto: Dylan Martinez. Reuters) São Paulo – O primeiro dia útil no Egito após a […]

Os egípcios começaram a se livrar dos milhares de retratos de Mubarak espalhados pelo país (Foto: Dylan Martinez. Reuters)

São Paulo – O primeiro dia útil no Egito após a queda do ditador Hosni Mubarak foi marcado por novos anúncios e movimentação popular.

O Conselho Militar Supremo, que assumiu o comando do país após o fim da ditadura de 30 anos, oficializou a suspensão da Constituição até que sejam revistas várias cláusulas e que a população decida, em um referendo, se quer ou não promover mudanças. Além disso, a Câmara e o Senado foram dissolvidos até a realização do novo pleito.  “O Conselho Supremo das Forças Armadas vai gerir os assuntos do país por um período temporário de seis meses ou até o fim das eleições para o Senado e a Câmara e as eleições presidenciais”, informa um comunicado emitido neste domingo (13).

O embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, considera que este é o caminho normal para a transição. “Esse é o caminho mais natural para a democracia no Egito. Podemos até comparar com a história do Brasil. Em nossa transição para a democracia, após o regime militar, precisamos de um novo Parlamento e formamos a Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou uma nova Constituição para o país, regida por valores democráticos”, explicou em entrevista à Agência Brasil.

Enquanto isso, militares trabalham também na Praça Tahir, centro das manifestações das últimas três semanas, na tentativa de assegurar a retomada do tráfego de veículos pelo local. A população, por sua vez, ainda se mostra reticente quanto às reais intenções das Forças Armadas de conduzir uma transição democrática. 

“O Exército é a medula do Egito. Sua solução não é nos retirar da praça”, disse um manifestante nos alto-falantes à medida que o Exército adentrava empurrando e até mesmo golpeando com cassetetes em alguns casos. “Eles devem atender nossas demandas.” Os manifestantes disseram que os soldados detiveram alguns de seus líderes e mais de 30 pessoas foram conduzidas a uma área de detenção do Exército próxima do Museu Egípcio, que sedia uma coleção única de artefatos antigos e se localiza nas imediações da praça.

No sábado (12), os organizadores dos protestos contra Mubarak criaram um conselho que terá a responsabilidade de dialogar com o Exército e convocar novos atos públicos sempre que se julgue necessário.  Muitas pessoas permanecem na Praça Tahir para celebrar a queda de Mubarak, exigir a continuidade das mudanças e render homenagens às centenas de pessoas mortas durante a repressão iniciada em 22 de janeiro. 

Comunidade internacional

No campo internacional, o chefe do Conselho Militar será o responsável pelos contatos com as demais nações até que seja eleito um novo governo. Dezenas de autoridades ligadas a Mubarak estão sendo impedidas de deixar o país para que se possa julgar eventuais crimes cometidos pela ditadura.

Vince Cable, ministro do Reino Unido, pediu que a comunidade internacional faça um esforço na localização e no congelamento de dinheiro desviado pelo ex-presidente. A Agência Britânica de Combate a Fraudes Graves informou ter iniciado uma ofensiva por ativos oriundos de crimes financeiros. “Não há sentido em um governo agir sozinho, mas certamente temos que ver isso. Depende também se os recursos dele são ilegais ou se foram ilegalmente obtidos”, ponderou. Antes disso, a Suíça já havia anunciado o congelamento de finanças que podem pertencer a Mubarak.

Israel voltou a agradecer o compromisso das Forças Armadas em respeitar os tratados internacionais. O Egito foi o primeiro Estado a firmar um acordo com os israelenses, em 1979, e havia certa preocupação sobre a manutenção da validade deste compromisso. Representantes das duas nações realizaram contato telefônico no sábado, mas o teor da conversa não é conhecido até o momento. “O acordo de paz foi mantido pelo Egito ao longo dos anos… é uma peça central de paz e estabilidade, não apenas para os dois países, mas para pessoas em toda a região”, expressou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. 

Com informações da Reuters.