Após prisão por abuso sexual, pretensões políticas de diretor do FMI devem ficar comprometidas

Strauss-Kahn era cotado como candidato à sucessão à presidência francesa

Strauss-Kahn é membro do Partido Socialista francês e está à frente do FMI desde 2007 (Foto: Edgar Su/Reuters arquivo)

São Paulo – O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, foi detido na noite de sábado (14) em Nova York acusado de abuso sexual contra uma funcionária de um hotel, informou a polícia local.

O político francês, considerado como o candidato com mais possibilidades de arrebatar de Nicolas Sarkozy a Presidência de seu país, foi detido por agentes da Autoridade Portuária de Nova York e entregue a detetives de polícia de Manhattan quando se encontrava no compartimento de primeira classe de um avião da Air France a ponto de decolar rumo a Paris.

Strauss-Kahn, de 62 anos, foi levado à Unidade de Vítimas Especiais de Manhattan onde é interrogado, segundo o porta-voz da polícia de Nova York, Paul Browne. Formalmente o economista é acusado de tentativa de estupro, ato sexual criminoso e retenção ilegal.

Em um e-mail à agÊncia de notícias Reuters, o advogado de Strauss-Kahn, Benjamin Brafman,afirmou que o diretor-gerente do FMI vai se declarar inocente.

Na noite de sábado, Strauss-Kahn estava dentro de um avião da Air France, no qual viajaria para Paris, quando foi surpreendido por oficiais de justiça que entraram na aeronave, após o comandante já ter anunciado o fechamento das portas, para prender o homem mais poderoso do FMI por supostamente abusar de uma mulher de 32 anos.

De acordo com o porta-voz da polícia, Paul Browne, a camareira teria entrado no quarto de Strauss-Kahn para fazer as arrumações diárias quando este, que estava pelado, avançou sobre ela e tentou obrigá-la a praticar sexo oral.

A arrumadeira conseguiu fugir e contou o ocorrido a seus companheiros de trabalho, que chamaram a polícia. Quando os agentes chegaram ao hotel, Strauss-Kahn já tinha saído, de maneira aparentemente precipitada, pois deixou no quarto alguns objetos pessoais, entre eles seu telefone celular.

Strauss-Kahn é casado com a jornalista de televisão nova-iorquina Anne Sinclair e pai de quatro filhos. Em 2008, já havia se envolvido em escândalos sexuais, quando foi acusado de ter mantido uma relação amorosa com uma de suas subordinadas do FMI, Piroska Nagy.

Na ocasião, o FMI contratou um escritório de advogados para investigar as denúncias e Nagy mudou seu trabalho para o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, com sede em Londres.

Strauss Kahn pediu desculpas ao pessoal da entidade financeira internacional através de um e-mail no qual admitiu um “erro grave de julgamento”, mas declarou crer “firmemente que não abusou da sua posição”.

O comitê diretor do FMI decidiu que a relação aconteceu por mútuo acordo, embora tenha qualificado as ações de seu diretor-gerente como “lamentáveis” e que refletiam um “grave erro de julgamento”.

Política

As acusações podem comprometer suas aspirações políticas, que, embora ainda não tivesse anunciado sua candidatura, se dava por certo que estava a ponto de renunciar a seu posto no FMI para poder concorrer às eleições presidenciais francesas do próximo ano.

Segundo a legislação francesa, Strauss-Kahn tinha prazo até o dia 13 de junho para declarar suas aspirações políticas.

As pesquisas apontam até agora uma cômoda vantagem dele frente ao conservador e atual presidente Nicolas Sarkozy.

Strauss Kahn, do Partido Socialista francês, está à frente do FMI desde 2007, ano no qual buscou ser nomeado candidato de seu partido às eleições presidenciais francesas, mas foi derrotado por Ségolène Royal.

Formado em economia, Strauss-Kahn começou sua carreira política no Parlamento francês e foi ministro da Economia durante o governo do primeiro-ministro Lionel Jospin até 1999.

Neste domingo, o diretor do FMI se reuniria com a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, para discutir questões ligadas à crise econômica de países europeus como Grécia e Portugal. Strauss-Kahn também participaria de encontro, em Bruxelas, com autoridades europeias.

Repercussão

Diante do escândalo, o FMI informou, por meio de comunicado, que permanece “totalmente ativo e operacional” e absteve-se de comentários sobre o caso.

O governo francês, por sua vez, pediu que se respeite a presunção de inocência de Strauss-Kahn. Em entrevista à emissora France 2, o porta-voz do governo, François Baroin, disse que o Executivo francês “respeita dois princípios simples: o devido processo legal sob a autoridade da Justiça americana, segundo as modalidades do direito americano, e o do respeito à presunção de inocência”.

“É preciso ter uma prudência extraordinária na forma, na análise, nos comentários e nas consequências”, acrescentou o porta-voz, lembrando que o dirigente do FMI terá a oportunidade de declarar sua versão dos fatos quando comparecer à Justiça.

Em Nova York, Strauss-Kahn recebeu a visita do cônsul-geral francês na cidade, Philippe Lalliot para “proteção consular”, conforme informou o Ministério das Relações Exteriores da França.

Segundo um porta-voz ministerial a embaixada francesa nos EUA e o consulado “estão mobilizados” para o assunto e “em estreito contato com o FMI e as autoridades americanas.

Fonte: OperaMundi