Com voto de deputados ‘rebeldes’, Parlamento grego aprova cortes no orçamento de 2013

Representantes da coalizão governista que haviam se recusado a aprovar o programa de austeridade voltaram a compor a bancada

Manifestante com máscara de gás durante protestos violentos na praça de Syntagma no centro de Atenas (Foto: Yannis Behrakis/Reuters)

Atenas – Os parlamentares gregos aprovaram na noite de ontem (11) o orçamento nacional do próximo ano, que prevê corte de 9,5 bilhões de euros nos gastos públicos. Os deputados rebeldes da coalizão do primeiro-ministro Antonis Samaras, que haviam se recusado a aprovar o programa de austeridade do governo na quarta-feira (7), mudaram de posicionamento e seguiram o tom de seus partidos.

Ao mesmo tempo, milhares de pessoas tomaram conta das ruas de Atenas contra a aprovação do orçamento. Manifestantes ligados à Syriza, ao principal sindicato de servidores públicos da Grécia (Adedy, na sigla em grego) e representantes do movimento anarquista grego lotaram a Praça Syntagma.

Com a volta de representantes do partido Nova Democracia e do Pasok à bancada governista, o plano para 2013 foi aprovado com 167 votos contra 128 da oposição. Dois deputados da Esquerda Democrática que compunham as fileiras de Samaras, no entanto, mantiveram oposição aos profundos recortes no orçamento.

“A Grécia vai sair deste pesadelo. Nós vamos sair unidos ou não vamos sair de maneira alguma”, disse o premiê momentos antes da votação, referindo-se à permanência do país na zona do euro. Samaras ainda acrescentou que a coalizão dos três partidos vai conseguir tirar a Grécia da crise e acusou a oposição do Syriza de tentar dividir o parlamento.

Em resposta, Alexis Tsipiras, dirigente do Syriza, disse que nenhuma das metas do orçamento do próximo ano será atingida por conta da forte recessão econômica que toma conta do país. “Você concorda com tudo que os credores exigem”, disse ele que chamou a Grécia de “colônia de dívidas” da Alemanha.

Em uma das sessões mais tensas desde o início da crise econômica, o governo de Samaras conseguiu aprovar na quarta-feira (7) um novo plano de austeridade do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca de empréstimo de 31,5 bilhões de euros (cerca de R$ 81,9 bilhões), as autoridades gregas terão de realizar cortes no orçamento e diversas reformas. Cortes em aposentadorias e salários, cortes no Judiciário e mudanças na Constituição grega para facilitar o pagamento da dívida estão entre as medidas previstas pelo plano.

A Grécia vive uma profunda crise social, com desemprego acima dos 25% – e extrapolando os 50% entre jovens de 18 a 25 anos. O pessimismo atinge 100% da população, segundo estudo recente da União Europeia, e casos de violência contra imigrantes são cada vez mais comuns. Pesquisa do instituto Public Issue informa que apenas 5% dos gregos acreditam que suas finanças pessoais vão melhorar e somente 11% estão satisfeitos com a democracia no país.


Protestos


As manifestações ocorreram ao mesmo tempo em que o orçamento era votado. “Estão roubando nosso futuro”, disse ao Opera Mundi uma funcionária da prefeitura de Patras, que não quis se identificar. “Estão roubando o futuro de meus filhos não posso fazer nada. Não confio nos políticos, mas viemos aqui fazer a nossa parte. Não há solução à vista”, disse, e começou a chorar.

Ao final do dia, já em meio à votação, cerca de 200 pessoas derrubaram a barreira de proteção do Parlamento e ficaram frente a frente com a polícia, que em minutos montou duas linhas da tropa de choque, com escudos, cassetetes, bombas e máscaras de gás lacrimogêneo.

O confronto era iminente. Um militante anarquista, usando máscara de Guy Fawkes, encarou-os por pelo menos 40 minutos. A polícia, em seguida, abriu o trânsito na avenida principal, que passa em frente ao Parlamento. Manifestantes sentaram-se no asfalto, mas foram retirados pelo choque à base de golpes de escudo.

“Esse é o normal aqui, quase toda noite é assim. Estamos só aguardando as bombas de gás lacrimogêneo. Essa cidade vive sob uma cortina de gás”, disse um jornalista grego. Ao lado dele, fotógrafos e cinegrafistas vestiam suas máscaras e capacetes para cobrir um eventual confronto, o que não ocorreu.

Na última quarta-feira, durante a aprovação do pacote do FMI e em meio a mais uma greve geral que paralisou o país, manifestantes e polícia entraram em choque, com direito a pedaços de pau e coquetéis molotov. A tropa de choque reagiu com explosivos e gás lacrimogêneo, que envolveu a cidade e expulsou os cerca de 200 mil manifestantes da Praça Syntagma.

Além de membros do Partido Comunista grego, da Syriza e dos sindicatos de funcionários públicos, idosos, jovens e famílias inteiras recuaram, cobrindo o rosto contra o gás. Muitos deles, já acostumados com os efeitos do produto químico, passam um creme branco no rosto para proteger a pele. 

Na manhã de hoje (12) o transporte público em Atenas havia voltado ao normal, mas não estão descartadas novas greves. É visível o cansaço dos gregos em meio a tantas greves e protestos, sem resposta do Parlamento às suas demandas, que pedem um recuo emergencial no nível dos cortes propostos pelo FMI.

A austeridade no país deve durar pelo menos até 2016. Mesmo assim, ministros das finanças da zona do euro ainda não se convenceram se liberam ou não uma fatia de 31,5 bilhões de euros (cerca de R$ 80 bi) para o governo grego pagar credores. O “resgate” total para o país é de 174 bilhões de euros.