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Após explosão em mina, população protesta contra premiê e convoca greve geral

'Essas coisas acontecem', disse primeiro-ministro Erdogan, cuja recusa em assumir responsabilidade pela tragédia revoltou a população

efe

Equipes de resgate tentam buscar corpos no interior da mina após explosão em Soma, província de Manisa, na Turquia

São Paulo – “Essas coisas acontecem.” Foi o que disse hoje (14) Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia, ao visitar o local da explosão que matou, até o momento, 245 pessoas em uma mina de carvão no oeste do país. A chegada do premiê à cidade de Soma causou revolta na população, protagonizando embates com a polícia turca em meio a palavras de ordem que pediam a renúncia do governo.

Sindicatos turcos também decidiram convocar para amanhã uma greve geral que deve afetar as principais cidades do país para protestar contra a falta de segurança e a exploração do trabalho. “Isso não é um acidente, é um crime”, disse à imprensa Tayfun Görgün, presidente do sindicato dos mineradores Dev-Maden Sen.

“Vocês deveriam saber como funciona a mineração. Em 1862, morreram 262 pessoas em uma mina de carvão da Inglaterra; em 1866 foram 361; e, em 1894, outros 290, por uma explosão. Na China, morreram 1.549 em 1942, no Japão, 458 em 1963, na Índia, 372 em 1975. Esse tipo de acidente ocorre a todo momento”, relatou Erdogan, acrescentando que não houve irregularidades na última inspeção da mina, em março de 2013.

A recusa de Erdogan em reconhecer responsabilidade na tragédia, ou se prontificar a prestar contas rigorosas à população, revoltou os familiares das vítimas e residentes da cidade de Soma.

Em uma das maiores tragédias do setor industrial turco, o acidente no distrito de Soma parece ter sido provocado por uma falha elétrica em um transformador, que resultou em um grande incêndio. Após visitar o local, Erdogan não alimentou esperanças de que sejam encontrados sobreviventes e decretou três dias de luto nacional. O premiê prometeu que o acidente seria investigado.

Os líderes sindicais alegam que as mortes começaram com a privatização da empresa Soma Holding, em 2005. “Não havia mortos quando as minas pertenciam à TKI, a companhia estatal do carvão. Não são acidentes, são assassinatos”, acrescentou Görgün. A Turquia tem a pior taxa de segurança laboral da Europa, com uma média de três operários mortos por dia.

A indústria de carvão é responsável por suprir um terço do setor energético do país. Mais de 49 mil pessoas estão registradas como funcionárias nas 740 jazidas espalhadas pelo país.