Os de cima e os de baixo

Eleições no Peru: segundo turno evidencia diferenças de classes

Segundo pesquisa, distinção entre as preferências do eleitorado são marcantes entre a capital Lima e o interior do país, além de serem evidentes entre as zonas urbanas e rurais e entre ricos e pobres

Presidência Peru
Presidência Peru
Vista aérea de Lima: ricos e pobres têm opções distintas na segunda volta das eleições no Peru

São Paulo – O segundo turno das eleições no Peru, entre Pedro Castillo, do Peru Livre, e Keiko Fujimori, do Força Popular, marca um embate também entre segmentos distintos da sociedade. Ao menos é isso o que indica a mais recente pesquisa Ipsos, divulgada em 18 de abril. As diferenças são marcantes entre a capital Lima e o interior do país. E também são evidentes entre as zonas urbanas e rurais e entre ricos e pobres.

No geral, Castillo, que venceu o primeiro turno, lidera com 42%, contra 31% da filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Ela apresenta um elevado índice de rejeição, com 55% dos entrevistados dizendo não votar nela de modo algum, índice que chega a 33% para seu adversário.

Na classe média, classificada na sondagem como nível C, Keiko Fujimori lidera por 38% a 30%, com vantagem semelhante na classe B. Tem ainda 52% no nível A, mas a vantagem nestes três segmentos desaparece diante da força de Castillo entre os mais pobres. Nas classes D e E, que correspondem a 63,1% do eleitorado do Peru, ele lidera com 50% e 56%, respectivamente.

O cientista político Eduardo Dargent, professor da Universidade Católica do Peru, destaca, ao jornal La Republica, a alta taxa de rejeição de Keiko e o fato de a crise econômica diminuir o medo da “novidade” representada pelo candidato de esquerda entre os mais pobres, “que não têm nada a perder” no cenário atual. Embora apareça atrás em Lima, que corresponde a 34,7% do eleitorado (43% a 26%), Castillo vence no interior. Fora da capital, ele tem mais que o dobro das intenções de voto da rival, 51% a 24%.

Castillo diz que não muda plano de governo

O candidato de esquerda se tornou conhecido em 2017, depois de liderar uma greve dos professores que durou mais de dois meses. Antes disso, militou no partido do ex-presidente neoliberal Alejandro Toledo.

Como observam a antropóloga e professora Mariana Álvarez Orellana e o sociólogo Álvaro Verzi Rangel, em artigo, diferentemente da candidata Verónika Mendoza, que representava uma coalizão de esquerda, Castillo “tem posições conservadoras sobre questões de gênero e rejeita essas propostas, o que pode tê-lo favorecido em relação a Mendoza em setores populares e em áreas andinas e rurais”.

Ele ataca o modelo neoliberal adotado no país e defende uma nova Constituição, já que a atual foi promulgada à época da ditadura de Fujimori. Em relação à Venezuela, tema sempre explorado em eleições na América do Sul, Castillo, questionado se o país era uma ditadura, respondeu laconicamente: “Não”. E observa que existe ali um parlamento e oposição.

Embora a pesquisa mostre uma vantagem inicial de Castillo, Mariana e Álvaro não esperam vida fácil para o esquerdista neste segundo turno. “Não resta dúvida de que a campanha contra Castillo será brutal, pelos meios de comunicação gráficos e audiovisuais hegemônicos, monopolizados pela direita, pelas redes sociais, o acusarão de terrorista, senderista, de receber dinheiro das guerrilhas inexistentes, inventarão fotos e ‘evidências’ das perversões mais sinistras, falsificarão documentos. Tudo na campanha de terror para impedir ‘o perigo vermelho’.”