Mundo em alerta

Citado por Bolsonaro para minimizar pandemia, Japão tem projeção de 400 mil mortes por covid-19

Análise de pesquisadores faz alerta quanto à relevância do distanciamento social. Governo japonês reforçou pedido à população para que fiquem em casa

NHK/Reprodução
NHK/Reprodução
No início de abril, governo decretou estado de emergência em função do coronavírus

São Paulo – Sem medidas de distanciamento social para conter a propagação do novo coronavírus, mais de 400 mil pessoas podem morrer no Japão, de acordo com projeção da equipe de especialistas criada pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social, divulgada nesta quarta-feira (15). 

Os dados foram confirmados pela emissora pública NHK e por outros veículos do país e agências de notícias internacionais. A projeção também estima que até 850 mil pessoas possam precisar de respiradores. Em resposta à repercussão da análise, o governo japonês reforçou o pedido à população para que fique em casa. 

De acordo com a informações da agência Reuters, o Japão já registrou mais de nove mil infecções até agora. Hoje, apenas as pessoas com sintomas do coronavírus são testadas. A equipe de pesquisadores ainda alerta que o país deva atingir o pico da doença cerca de 60 dias após o início da expansão da pandemia, caso medidas mais rígidas de distanciamento social não sejam tomadas. 

Diante disso, o primeiro-ministro Shinzo Abe foi pressionado a liberar mais recursos para as ações urgentes. Com o aumento do número de casos nas últimas semanas, o governo declarou, no início de abril, estado de emergência em Tóquio e em outras seis cidades, como Osaka, para reduzir em 70% as interações entre as pessoas. O país, que seria sede das Olimpíadas de 2020, também precisou adiar o evento devido ao coronavírus. 

À imprensa, especialistas confirmam os esforços para controlar o número de infecções, mas consideram que a aplicação das medidas foi tardia e insuficiente. Em março, o Japão chegou a ser citado pelo presidente Jair Bolsonaro para minimizar a pandemia. 

Em entrevistas e por meios de suas redes sociais, Bolsonaro dizia que não compartilhava das medidas de isolamento para defender o fim da quarentena no Brasil, que, segundo ele poderia levar “ao caos”. A informação do presidente não só não procedia, como mostra o pedido do governo para que os japoneses fiquem em casa, como explica o aumento do número de casos em função do descumprimento do isolamento por parte da população. 

Segundo o portal  UOL, muitas pessoas têm burlado o distanciamento, frequentando clubes e bares. No último sábado, quando 197 novos casos foram registrados apenas em um dia na capital do país, as autoridades sanitárias também se queixavam de que 77% dos pacientes não estavam cooperando para a identificação dos locais onde as transmissões ocorreram.

No epicentro da doença, Tóquio, e os ‘refugiados da rede’

Na época da afirmação, a defesa do presidente Bolsonaro também não encontrava respaldo diante da postura adotada pelo governo da cidade de Tóquio. O epicentro da doença no país já estava em alerta com a escalada de infecções, pedindo aos cidadãos para que ficassem em casa e que saíssem apenas em caso de necessidade. 

E, com o estado de alerta, as chamadas redes de cibercafés foram forçadas a fechar temporariamente. Reportagem da AFP mostra que esses locais, comuns nas cidades japonesas, serviam de abrigo para milhares de trabalhadores precários como “residência”. Apesar do baixo desemprego no país, muitos dos trabalhadores são submetidos a empregos temporários e mal remunerados.

Oferecendo acesso à internet 24 horas por dia, mangás e bebidas não alcoólicas, além de espaços privados pequenos e chuveiros, os cibercafés eram opções de moradia mais em conta para esses trabalhadores do que o aluguel de uma residência fixa. Com o fechamento, milhares desses clientes podem ficam desamparados, o que os levaram a ser chamados de “refugiados da rede”.

De acordo com a reportagem, na capital japonesa, por exemplo, as autoridades tentam encontrar soluções alternativas de acomodação para esses trabalhadores. Mas as medidas ainda são insuficientes, destacam ativistas, e fragilizam ainda mais os “refugiados da rede” diante da pandemia.