Corrida presidencial

Super Terça: a disputa no Partido Democrata em seu dia decisivo

Com 14 estados e a Samoa Americana votando neste 3 de março, disputa para definir adversário de Donald Trump pode afunilar entre Bernie Sanders e Joe Biden

Gage Skidmore/Flickr
Gage Skidmore/Flickr
Joe Biden e Bernie Sanders são os dois principais nome nesta Super Terça, nos EUA

São Paulo – As primárias do Partido Democrata chegam a seu dia mais importante, a Super Terça, com um cenário bem diferente de alguns dias atrás. A expressiva vitória do ex-vice-presidente Joe Biden na Carolina do Sul com 48,4% dos votos – triunfo esperado, mas não com tal margem – deu sobrevida a uma candidatura que parecia fadada ao fracasso. Já o senador de Vermont Bernie Sanders tem a possibilidade de confirmar sua liderança nacional.

A vitória de Biden, somada às desistências do ex-prefeito de South Bend Pete Buttgieg, da senadora de Minessotta Amy Klobuchar e do bilionário Tom Steyer, que disputavam o chamado “voto moderado” da legenda, dão mais um alento à campanha do ex-vice-presidente dos EUA na gestão Barack Obama. Nesta segunda-feira (2), ele recebeu o apoio declarado de Buttgieg e Klobuchar, além de Beto O’Rourke, um dos primeiros a desistir. Os três participaram de um comício de Dallas na noite desta segunda-feira (2).

O êxito na Carolina do Sul, estado considerado fundamental para a disputa por conta da importância do voto do eleitorado afro-americano, que compõe 60% dos votos democratas do estado, traz uma preocupação para a campanha de Sanders. A menor popularidade neste segmento da população foi um dos motivos de seu revés contra a ex-secretária de Estado Hillary Clinton em 2016.

Como destaca o site Politico, o triunfo de Biden na quarta prévia democrata fez com que a confiança de doadores em sua candidatura voltasse. Foram US$ 10 milhões arrecadados em 48 horas, nas vésperas da Super Terça. Isso pode ser fruto de uma migração de grandes doadores que estavam em busca de um postulante que pudesse barrar a ascensão de Bernie Sanders.

Reportagem do The New York Times mostrava que quatro doadores haviam entrado em contato com o ex-integrante da Câmara dos Representantes Steve Israel pedindo uma sugestão para formar um comitê de arrecadações anônimas, o chamado Super PAC, com a intenção de evitar a nomeação do senador de Vermont.

A Super Terça e o jogo de Bloomberg e Warren

Durante a Super Terça são escolhidos 1.344 delegados, aproximadamente um terço dos 3.979 nomes que vão definir o adversário do atual presidente Donald Trump na convenção do partido, em julho. São 14 estados e a Samoa Americana votando para delegados da legenda.

Após as desistências ocorridas depois da primária da Carolina do Sul, restam quatro candidaturas: Bernie Sanders, Joe Biden, Elizabeth Warren e Michael Bloomberg.

Uma das expectativas desta Super Terça se dá em relação ao desempenho do bilionário Michael Bloomberg. Com uma campanha pouco usual, ele ignorou as quatro primeiras primárias para concentrar esforços – e muito dinheiro – na Super Terça.

Até agora, foram US$ 350 milhões gastos em propaganda e publicidade, mas sua imagem ficou prejudicada depois de seu péssimo desempenho no debate realizado antes da disputa de Nevada, quando foi alvo de seus adversários e não conseguiu dar respostas à altura sobre seu comportamento sexista e uma política de segurança pública voltada contra as minorias implementada quando foi prefeito de Nova York.

Parte dos chamados centristas têm feito um esforço para que Bloomberg desista em prol de Biden, ainda mais em caso de fracasso na Super Terça. Embora tenha dito ao site Politico que não há movimentação nesse sentido por parte da campanha do ex-vice-presidente, sua consultora sênior Anita Dunn sugeriu de forma pouco discreta: “Dado que o objetivo declarado de entrar na corrida era nomear um democrata que pudesse vencer Trump e não deslocar o partido muito para a esquerda, parece que a escolha é muito clara entre dois candidatos”, disse, referindo-se a Biden e Bloomberg.

Contudo, o editor-chefe do site FiveThirtyEight, Nate Silver, acredita que as desistências recentes de outros candidatos tornam menos prováveis novas renúncias. “Estou sendo um pouco repetitivo aqui, mas Klobuchar e Buttigieg desistindo dão a Bloomberg e Warren menos estímulo para desistir. Agora ficou mais fácil chegar a 15% e acumular delegados”, disse.

Silver se refere ao patamar mínimo para se conquistar delegados. Muitos apostam que nenhum dos candidatos chegue aos 1.991 necessários para assegurar a candidatura e, caso isso aconteça, o mais provável é que o candidato à presidência pelo partido seja escolhido em uma chamada convenção contestada. Neste caso, haveria uma segunda votação na qual os 3.979 delegados e os 771 superdelegados (os atuais e também os ex-titulares de cargos eleitos e os funcionários da legenda) poderiam votar em qualquer candidato, inclusive naqueles que desistiram ou em nomes que sequer tenham chegado a disputar a indicação.

A convenção contestada é a aposta final do establishment do Partido Democrata para impedir a nomeação de Sanders caso ele tenha o maior número de votos entre os delegados mas não alcance o patamar necessário. Também é nisso que se fia a senadora de Massachusetts Elizabeth Warren para seguir na disputa. Segundo o The Atlantic, a parlamentar pode ser uma das principais beneficiadas com as saídas recentes dos dois rivais.

Na lógica de sua campanha, Warren seria um “nome de unidade”, que conseguiria agregar as alas moderada e à esquerda da legenda, tendo potencial para ir além de Sanders em uma disputa contra Trump. Mas, até agora, as pesquisas mostram a senadora em um patamar abaixo do alcançado pelo senador de Vermont no embate contra o atual presidente dos Estados Unidos.

“Pete Buttigieg e Amy Klobuchar desistindo para ajudar Joe Biden demonstra que eles têm um senso de solidariedade melhor com seus camaradas ideológicos em armas do que Elizabeth Warren”, pontuou o jornalista Zaid Jilani. “Não estou dizendo que alguém deveria desistir, todos têm o direito de votar em quem quiserem, muitas pessoas morreram por esse direito. No entanto, estou fazendo uma observação sobre o estado da corrida. Biden consolidando candidatos atrás de si tem um impacto.”

Jilani menciona ainda que, de acordo com as pesquisas, 40% dos votos de Elizabeth Warren poderiam migrar para Bernie Sanders em caso de desistência da senadora.