Cooperação internacional

Cuba recebe navio britânico barrado no Caribe com cinco casos de coronavírus

Em nota, governo cubano diz que autorização concedida levou em conta a situação e o risco para a vida das pessoas doentes. “Referência de solidariedade”, diz analista internacional

Ingrid Anne/Prefeitura de Manaus
Ingrid Anne/Prefeitura de Manaus
"É costume de Cuba continuar assim, apesar do bloqueio nefasto do Estados Unidos contra a sua economia e contra o povo cubano, nunca deixar de lado a ação de solidariedade", destaca Amauri Chamorro

São Paulo – O governo cubano confirmou, na segunda-feira (16), ter aceitado o pedido do Reino Unido e da Irlanda do Norte para que um navio de cruzeiro, com cinco casos confirmados de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, atracasse na ilha para que as autoridades britânicas fizessem o repatriamento via aérea das pessoas doentes. 

Os pedidos foram feitos na última sexta-feira (13), depois de o transatlântico MS Braemar ser proibido de aportar nas Bahamas e em Barbados – países vizinhos de Cuba no Caribe –, por conta do coronavírus. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores de Cuba, “dada a urgência da situação e os riscos para a vida das pessoas doentes, o governo decidiu permitir a atracação deste navio e adotará as medidas sanitárias estabelecidas para receber todos os cidadãos a bordo, de acordo com os protocolos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde Pública de Cuba”.

Na nota, publicada pelo jornal oficial do Partido Comunista, Granma, o governo cubano disse ainda que “são tempos de solidariedade, de entender a saúde como um direito humano, de reforçar a cooperação internacional para enfrentar nossos desafios comuns”.

Em comentário à Rádio Brasil Atual, o analista internacional Amauri Chamorro lembrou que o país é “referência mundial não só em desenvolvimento de tecnologias, mas também na solidariedade”. 

“Isso é histórico em Cuba, vamos lembrar que Cuba foi quem tratou as crianças contaminadas de Chernobyl; Cuba foi quem mandou milhares de médicos à África combater o ebola. É costume de Cuba continuar assim, apesar do bloqueio nefasto do Estados Unidos contra a sua economia e contra o povo cubano, nunca deixar de lado a ação de solidariedade”.

Nesta terça (17), a ilha confirmou ter registrado o quinto caso de coronavírus do país. Apesar disso, o governo vem ganhando destaque na corrida por um retroviral, despontando pelo medicamento Interferon Alfa 2B, que está na lista dos 30 medicamentos escolhidos pela China para tratar pacientes infectados. Segundo o analista internacional, hoje, na América Latina, a Venezuela é o único país com estoque deste medicamento. 

“Isso vale para entender algo bem importante: assim como a Venezuela e a China, Cuba tem um sistema de saúde público, ou seja, a saúde pública, a gestão do estado sobre as políticas públicas na área da saúde, são imprescindíveis nesse tipo de caso”, comenta Chamorro, chamando atenção o governo da Espanha, que nesta segunda (16) divulgou que irá estatizar hospitais privados do país para garantir atendimento a toda a população durante a pandemia de coronavírus. 

“Isso quer dizer que essa tendência da direita ultraconservadora, neoliberal, que fala sobre a importância da privatização, de redução do papel do Estado, que cada um possa optar pelo plano de saúde que queira, na verdade, nesse tipo de crise, só o Estado tem capacidade de mobilização dos recursos de um país para poder realmente cuidar da sua população”, destaca o analista.

Ouça a entrevista