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Trump se beneficia do ‘caos’ político, após derrubar impeachment

Segundo analista, presidente norte-americano se fortalece na disputa à reeleição, enquanto o democrata Bernie Sanders tenta superar obstáculos. Tensão também atinge América do Sul

Reprodução/Casa Branca
Reprodução/Casa Branca
Polarização: Clima nada amistoso entre Trump e a presidenta da Cârama dos Representas, Nacy Pelosi

São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi absolvido pela maioria dos senadores na última terça-feira (5) no processo de impeachment aberto pela Câmara dos Representantes em setembro passado. No mesmo dia, durante o  discurso anual do Estado da União, no Congresso, ele se recusou a cumprimentar a presidenta da Câmara, a democrata Nancy Pelosi – que, por sua vez, rasgou a cópia da mensagem presidencial.

Para o analista internacional Amauri Chamorro, Trump se fortalece a partir do tensionamento político causado pelo processo de impeachment e também pelas polêmicas estimuladas por ele próprio. Pesquisa Galup divulgada ainda na segunda-feira (4) mostra que a popularidade do presidente alcançou 49%, maior índice registrado desde a posse. Ele conta com o apoio de 94% dos eleitores republicanos, mas apenas 7% entre os apoiadores dos democratas, o que também marca a maior diferença já registrada pelo instituto fundado na década de 1930, o que denota a polarização.

Segundo Chamorro, ele é favorito para vencer as próximas eleições que ocorrerão em novembro. “A situação é tensa, e ele sabe que esse caos acaba sendo benéfico a ele. Seus eleitores gostam desse estilo e ele acaba se sentido mais empoderado para fazer campanha. Ele faz um trabalho comunicacional muito bom. Porém sabemos que, nos Estados Unidos, não ganha quem tem mais votos, mas quem ganha nos estados com os maiores colégios eleitorais”, afirmou o analista em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (6).

Democratas

O “caos” político também afeta a largada das primárias do Partido Democrata, que definirão o opositor de Trump na disputa presidencial. O ex-prefeito da cidade de South Bend Pete Buttigieg, estado de Indiana, surpreendeu ao liderar as apurações do caucus de Iowa, que ainda não foram concluídas. Conforme os resultados avançam, o senador por Vermont Bernie Sanders já aparece empatado com Buttigieg.

Segundo Chamorro, ao longo da história, não costuma haver diferenças ideológicas entre os candidatos dos dois partidos, Mas mas Sanders representa, de fato, um risco para os poderes constituídos que comandam a política norte-americana. E por isso sofre todo tipo de resistência, apesar da sua crescente popularidade.

“Se alguém ameaça o establishment, é Bernie Sanders. Ele fala de acesso a saúde gratuita, de reduzir o orçamento militar e a presença dos Estados Unidos em quase todo o planeta. Ele realmente ataca a coluna vertebral desse sistema. É muito difícil que ele possa se eleger, não apenas pela resistência do Partido Democrata, mas para a elite do sistema.”

Venezuela, Chile e Bolívia

Chamorro também comentou a participação do ex-autodeclarado presidente venezuelano Juan Guaidó, na cerimônia do Estado da União, quando foi homenageado por Trump e saudado pela rival Nancy Pelosi. Apesar da unanimidade entre os americanos, o analista diz que Guaidó hoje não lidera sequer o próprio partido, nem é a principal figura da oposição venezuelana. O apoio dado a ele serve apenas como instrumento de pressão internacional contra o governo de Nicolás Maduro.

No Chile, a situação é muito complicada por conta da repressão política comandada pelo presidente Sebastián Piñera contra os manifestantes. O saldo é de pelo menos 20 mortos e 2.500 feridos. Chamorro criticou o acordo chancelado por alas da centro-esquerda moderada chilena para a convocação de uma assembleia constituinte. Os legisladores não teriam plenos poderes para reformar a constituição do país por ter seus poderes restringidos pelo Congresso atual.

Ele também comentou a perseguição por parte do governo interino da Bolívia contra o ex-presidente Evo Morales, que anunciou candidatura ao Senado. Tanto ele, quanto o candidato à presidente do seu partido, o MAS, Luis Arce, estão sendo processados e tiveram os seus documentos apreendidos, como forma de impedi-los de participar do processo eleitoral para o qual despontam como favoritos.