Manifesto de especialistas contesta a narrativa de “fraude” nas eleições vencidas por Evo Morales

Documento assinado por acadêmicos de universidades como Harvard, Massachusetts e Cambridge pede à Organização dos Estados Americanos (OEA) que " retire suas declarações enganosas sobre as eleições"

Twitter/Evo Morales
Twitter/Evo Morales
Estudantes apontam "elites da Bolívia e do imperialismo estrangeiro" como agentes do golpe na Bolívia

São Paulo – Um manifesto assinado por especialistas de diversas áreas analisaram os dados eleitorais das eleições ocorridas na Bolívia em 20 de outubro e contestam a conclusão da Organização dos Estados Americanos (OEA) de que tenha havido “fraude” no pleito.  O documento faz “um apelo à OEA para que retire suas declarações enganosas sobre as eleições, que contribuíram para o conflito político e serviram como uma das ‘justificativas’ mais usadas para consumar o golpe militar“.

Assinam o manifesto especialistas de diversas entidades e universidades de todo o mundo como Harvard, Massachusetts, Toronto e Cambridge, além de professores das brasileiras Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e USP.  O imbróglio teve início no mesmo dia da data da eleição, quando houve um ‘apagão’ de quase 24 horas na contagem rápida de votos. Quando o sistema foi atualizado novamente, Evo Morales havia superado o adversário Carlos Mesa com uma margem de 10,14 pontos, pouco acima dos 10 pontos necessários para evitar o segundo turno.

A partir dali, a oposição começou a acusar Morales de fraude, e a Missão de Observação Eleitoral da OEA para a Bolívia expressou sua “profunda preocupação e surpresa com a drástica e difícil justificativa da mudança de tendência dos resultados preliminares conhecidos após o fechamento das pesquisas”. De acordo com os signatários do manifesto, contudo, não há nenhuma “evidência que apoie essa afirmação”.

“De fato, é fácil mostrar com dados eleitorais, aqueles que estão disponíveis ao público, que a mudança na vantagem de Morales não foi ‘drástica’ nem ‘difícil de explicar’, dizem os especialistas, que citam como exemplo um pleito ocorrido nos Estados Unidos. “Não é incomum que os resultados de uma eleição sejam influenciados por localização geográfica, o que significa que os resultados podem variar dependendo de quando os votos nas diferentes áreas são contabilizados. Ninguém disse que houve fraude nas eleições para governador em 16 de novembro no estado da Louisiana. Ali, o candidato democrata John Bel Edwards ganhou por 2,6 pontos percentuais . Depois de ter aparecido como perdedor quase a noite toda, no final da contagem chegaram os votos do condado de Orleans, onde 90% votaram nele, dando-lhe a vitória total.”

Vantagem de Evo Morales vinha aumentando antes do “apagão”

Os especialistas destacam que o resultado final “fazia parte de um aumento constante e contínuo da vantagem de Morales, iniciado horas antes da interrupção”. “A explicação para o aumento da margem de Morales era, portanto, bastante simples: as áreas que relataram seus votos mais tarde foram mais pró-Morales do que as áreas que relataram seus votos anteriormente”, explica o documento.

“De fato, o resultado final foi bastante previsível com base nos primeiros 84% ​​dos votos relatados. Isso foi demonstrado por análise estatística e também por meio de análise mais simples das diferenças entre as preferências políticas das áreas que informaram seus votos antes e as que relataram depois” , dizem os especialistas.

O manifesto pede ao Congresso dos Estados Unidos que “investigue esse comportamento da OEA e se oponha ao golpe militar, seu contínuo apoio do governo Trump, bem como a contínua violência e violações dos direitos humanos do governo de fato”, chamando a atenção também para a responsabilidade da mídia em geral. “Da mesma forma, a mídia e os jornalistas têm a responsabilidade de procurar especialistas independentes, familiarizados com os dados eleitorais, e podem oferecer uma análise independente do que aconteceu, em vez de simplesmente tomar a palavra de funcionários da OEA, que provou repetidamente errado sobre essas eleições.”

Com informações do El Diario