Instabilidade política

Crise no Peru: ‘O que está em jogo é a força da oposição ao governo’

De acordo com analista internacional Amauri Chamorro, decisão do Executivo sobre o Congresso não falta com a legalidade e pode antecipar eleições

Congreso de la República del Perú
Congreso de la República del Perú
"O presidente encarregado Viscarra, nesse momento, ele poderia ter feito isso (dissolver o Congresso) e ele fez", explica Chamorro

São Paulo – Na crise política deflagrada no Peru, nesta segunda-feira (30), o que está em jogo é o poder e a força que a oposição ao atual presidente Martín Vizcarra tem no Congresso, impedindo inclusive o Executivo de governar ou convocar novas eleições, avalia o analista e consultor internacional Amauri Chamorro sobre a situação peruana, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Vizcarra assumiu a presidência, em março de 2018, após o presidente eleito Pedro Plabro Kuzynski (PPK), de quem era vice, renunciar ao cargo por suspeitas de corrupção, e desde então tenta aprovar sua própria agenda, mas bate sempre de frente com a ala opositora, maioria no Congresso, e que tem como forte influência política Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, ambos presos. Fujimori, o pai, por ter sido julgado por crimes contra a humanidade cometidos durante seu governo, e Keiko, que chegou a disputar a presidência mas perdeu para a PPK por reduzida margem de diferença, é suspeita de lavagem de dinheiro de propinas da Odebrecht.

Mas a crise só alcançou seu ápice nesta semana, quando a oposição, desconsiderando o pedido de reformulação das regras de indicação para o Tribunal Constitucional, defendidas pelo presidente, iniciou o processo de nomeação de magistrados alinhados aos seus interesses. Diante disso, Vizcarra dissolveu o Congresso apoiado no artigo 134 da Constituição peruana, de acordo com Chamorro.”Não é um golpe de Estado, diferente do que alguns estão falando de que há uma tentativa de ruptura do Estado de direito, na verdade não. O presidente encarregado Viscarra, nesse momento, poderia ter feito isso e ele fez”, explica o analista internacional.

Em resposta, no entanto, o Congresso suspendeu o mandato do chefe do Executivo, empossando a vice-presidente, Mercedes Aráoz, à presidência. Mas, sem o reconhecimento internacional e das instituições do país, Mercedes renunciou ao cargo no dia seguinte.

O Peru passa por uma situação extremamente delicada, com seus últimos cinco presidentes presos, de acordo com Chamorro. “A direita peruana, que praticamente governou durante muitas décadas, nesse momento está sendo amplamente perseguida pela Justiça”.

Agora, com a dissolução do Congresso decretada, novas eleições tanto para o Congresso como para a presidência da República podem ser convocadas. Se a decisão de Vizcarra não for revertida por decisão judicial, o processo eleitoral pode ser realizado em quatro meses.

Confira a entrevista