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Argentina tem até fim de julho para renegociar dívidas e evitar calote

País deixou de pagar ontem (30) parcela de título público. Para cientista político, ainda que país tenha apoio da comunidade internacional, falta solidariedade interna nas negociações com credores

DANIEL DAVOBE/EFE/TELAM

Governos de direita que contraíram as dívidas aproveitam para desgastar ainda mais o mandato de Cristina Kirchner

São Paulo – A história da dívida argentina ganha mais um capítulo: encerrou-se ontem (30) o prazo para pagamento de uma parcela de um título público, chamado Discount, que o país deve a credores que aceitaram renegociar a dívida em 2005 e 2010. Os contratos de reestruturação, no entanto, garantem que o país tenha ainda 30 dias para tentar rever o valor e evitar que o calote de 2001 se repita. Ainda que a Argentina tenha recursos para pagar os títulos, a Justiça norte-americana determinou que o país deveria quitar, antes de mais nada, a dívida de US$ 1,3 bilhão com fundos-abutres que não participaram das renegociações, o que agrava ainda mais sua situação econômica.

Na visão do cientista político Emir Sader, a Argentina vive um momento “difícil e dramático”, e a saída que resta ao país será tentar parcelar ou rever o valor devido com os credores. “De qualquer maneira é doloroso. Isso significaria uma flexibilização ou da parte do juiz ou da parte dos fundos credores. Os fundos disseram que a posição da Argentina não é de renegociar e estão sentados esperando com a faca e o queijo na mão”, afirma.

“É uma situação política difícil e a Argentina, pela primeira vez desde 2002, já teria uma economia em recessão este ano. Com esse fator pesando psicológica e economicamente, com certeza vai se aprofundar a recessão. Também há uma pressão forte sobre a inflação que já passou dos 30% ao ano, pressão forte sobre o preço do dólar. Algum tipo de renegociação, de parcelamento, mas de qualquer maneira vai recair o peso sobre a economia argentina.”

Sader ainda ressalta que apesar de o país ter apoio de organismos da comunidade internacional, como Fundo Monetário Internacional (FMI), Grupo dos 77, presidido pela China, Mercosul e Organização dos Estados Americanos (OEA), falta ainda ao governo argentino solidariedade de sua própria população.

“Solidariedade existe, mas nenhuma delas se traduz em ações concretas. O que é dramático também é que os governos de direita que contraíram essas dívidas aproveitam para desgastar ainda mais o mandato de Cristina Kirchner. Falta solidariedade interna. O governo tinha conseguido uma boa arquitetura de renegociação, mas os organismos internacionais aparentemente querem penalizar a Argentina para que não seja um ‘mau exemplo’ para países como Grécia, Espanha, Portugal, Ucrânia, que têm dificuldade de pagamento”, completa.

Ouça o comentário completo de Emir Sader à Rádio Brasil Atual