Conflito

Rússia afirma que crise na Ucrânia pode se tornar ‘catástrofe humanitária’ e afetar a Europa

ONU afirmou que poderá mediar crise; ministros de Relações Exteriores russo e ucraniano se reunirão hoje em Viena

EFE

Soldados ucranianos vigiam posto de controle em Slaviansk, onde dez pessoas morreram

São Paulo – Após novos confrontos entre as forças militares ucranianas e manifestantes pró-Rússia que causaram a morte de pelo menos 20 pessoas e deixaram mais de 50 feridos ontem (5) o governo russo afirmou que a situação está prestes a se tornar uma “catástrofe humanitária” e advertiu que a crise poderá afetar a Europa.

O ministro interino de Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Deshchytsia, e seu colega russo, Sergei Lavrov, se reunirão onte à noite em Viena, onde participam de uma reunião do Conselho da Europa, que abordará a crise ucraniana. Não será, no entanto, uma reunião bilateral, como informou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores austríaco, Gerald Fleischmann. Este será o primeiro encontro dos ministros desde que se reuniram em Genebra em abril, quando assinaram um acordo para reduzir a tensão no país.

Livro branco

Moscou publicou ontem um documento oficial, o “Livro Branco”, no qual o ministério russo das Relações Exteriores estabelece uma lista das “violações em massa” dos direitos humanos cometidas na Ucrânia, como tortura e tratamento desumano, pelas “forças ultranacionalistas, extremistas e neonazistas” que, segundo o informe, monopolizaram o movimento de protesto e alertou que começam a faltar remédios e haver desabastecimento de produtos no país. O relatório se concentra no período de novembro de 2013 a março de 2014.

Em suas 80 páginas, o documento afirma que “as consequências para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento democrático da Europa poderiam ser tão destrutivas que é necessário acabar por completo com as violações”. O livro branco adverte ainda que a crise no país pode “levar a um agravamento dos conflitos e contradições étnicas e nacionais na Ucrânia e na Europa, em geral”.

Novos confrontos

As milícias pró-russas que defendem a cidade de Slaviansk disseram que dez pessoas, entre elas civis, morreram ontem em um ataque das forças ucranianas a um posto de controle na entrada da cidade.

“Agora dispomos de dados sobre 20 milicianos mortos e dezenas de feridos entre a população civil”, disse um porta-voz dos maniestantes pró-Rússia à agência Interfax.

O Ministério ucraniano também anunciou que as milícias pró-Rússia derrubaram ontem um helicóptero das Forças Armadas da Ucrânia na região de Donetsk. De acordo com a informação, quatro soldados das forças de segurança de Kiev morreram e 30 ficaram feridos.

O ministro do Interior da Ucrânia, Arsen Avakov, afirmou que a operação para neutralizar as milícias e retomar a cidade — que se iniciou na última sexta-feira (2) — vai ser lenta porque é preciso “evitar vítimas civis”.

Avakov disse também ter destacado uma nova unidade de operações especiais para a cidade portuária de Odessa, no sul do país, após uma “falha” da polícia local em conter manifestantes pró-Rússia durante o fim de semana, quando dezenas de pessoas morreram nos confrontos.

Comunidade internacional

Diante do quadro de instabilidade no país, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ofereceu ontem a mediação da entidade para encontrar uma solução para a crise que já dura quatro meses e vitimou mais de uma centena de pessoas. Ban afirmou estar em contato com todas as partes envolvidas e citou as autoridades da Ucrânia, a liderança russa, a União Europeia e os Estados Unidos, como informou a AFP.

“Eu estou pronto para desempenhar um papel, se necessário”, disse Ban, atualmente em visita a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. Ele manifestou ainda “profunda preocupação” com a violência na Ucrânia e pediu a aplicação imediata do acordo de 17 de abril concluído em Genebra entre “todas as partes” em conflito.

Membros da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), formada por dez países que integravam a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), disseram estar interessados na paz e estabilidade da Ucrânia, conforme comunicado divulgado hoje pelo secretário-executivo da entidade, Serguei Lebedev.

Durante reunião com o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, Lebedev afirmou que trata a questão com “preocupação e interesse”.

Eleições presidenciais

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, propôs que, ao invés da realização de um referendo, como querem os manifestantes pró-Rússia, seja realizada uma consulta não vinculativa para determinar o novo modelo de Estado. Esse tipo de ação não é de adoção obrigatória e, de acordo com a proposta, seria realizada no próximo dia 25, coincidindo com as eleições presidenciais adiantadas no país. Os manifestantes, no entanto, querem realizar um referendo já no dia 11.

Apesar da instabilidade no país, o governo de Kiev garantiu que não será necessário adiar as eleições presidenciais previstas para o final de maio.

“Nós não levamos em conta quaisquer iniciativas em relação ao adiamento das eleições, agendadas para 25 de maio. Elas serão realizadas conforme foi inicialmente programado”, afirmou hoje o diretor do Departamento de Política de Informação do Ministério ucraniano das Relações Exteriores, Evgueni Perebiynis. Segundo ele, a preparação para as eleições presidenciais realiza-se em conformidade com o plano aprovado pela Comissão Eleitoral Central.

A Câmara Pública da Federação Russa, por sua vez, disse que está preparando um apelo à ONU e ao Conselho da Europa, propondo adiar as eleições presidenciais no país, por considerar que a Ucrânia não poderá realizar votação segura e livre em meio aos confrontos no leste ucraniano.