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‘Estamos enfrentando um golpe de Estado em desenvolvimento’, diz Maduro

Ao menos três pessoas morreram em choques entre apoiadores e opositores ao governo venezuelano. Presidente pede união do povo e das Forças Armadas do país

Sebastián Silva / EFE

Protestos convocados pela oposição ao governo da Maduro terminam em violência e mortes. Presidente alerta para golpe de estado

Caracas – Em um segundo discurso realizado na noite desta quarta-feira (12), após as mortes registradas em Caracas, o presidente Nicolás Maduro afirmou que há “um golpe de Estado em desenvolvimento na Venezuela”. O chefe de Estado venezuelano pediu a união do povo e das Forças Armadas do país, além da solidariedade dos países da América Latina e do Caribe. Pelo menos três pessoas morreram na capital venezuelana, num dia em que manifestações contra e a favor de Maduro levaram milhares de pessoas às ruas. Mais tarde, foi registrada a morte de uma pessoa no município de Chacao. Relatos iniciais davam conta de ao menos 32 feridos, alguns em estado grave.

O presidente lamentou as mortes desta quarta e disse que a intenção de alguns setores é derrubar o governo por meio da violência, da mesma forma do golpe perpetrado contra o falecido presidente Hugo Chávez, em abril de 2002. Para o chefe do Executivo, havia um plano preparado por alguns setores para colocar “o povo em guerra, um contra o outro”.

Maduro informou que investigações já estão sendo feitas e que há provas sobre a autoria dos ataques. Segundo ele, o governo já havia avisado, há algumas semanas, sobre um plano para “desestabilizar as comemorações da Batalha da Vitória”, data importante na luta pela independência do país, que teve o bicentenário celebrado nessa quarta-feira.

Fogo cruzado

Maduro pediu que os movimentos sociais não caiam em provocações, dizendo que os autores intelectuais dos atos violentos já estão identificados, que os assassinatos serão investigados e pediu que a população se una contra a tentativa de golpe.

“Hoje temos o coração ferido, porque por responsabilidade de um grupo de fascistas correu sangue de homens, de jovens venezuelanos. Mas aqui estamos, chamo toda a Venezuela a se unir para repudiar a violência, os fascistas, os que queiram nos impor a intolerância e o ódio”, disse.

O presidente venezuelano mencionou um áudio difundido na noite da terça (11) em um programa da emissora estatal VTV, cujas vozes são atribuídas ao ex-embaixador na Colômbia e no Brasil, Fernando Gerbasi, e Iván Carratú Molina, ex-chefe da Casa Militar de Carlos Andrés Pérez (que presidiu o país de 1974 a 1979 e de 1989 a 1993). O áudio deixa claro que setores da oposição previam choques violentos no dia seguinte.

“Como eles sabiam que ia ter mortos hoje na Venezuela?”, questionou o mandatário sobre o áudio, no qual a voz atribuída ao ex-diplomata afirma que lhe informam “que é algo muito similar ao 11 de abril [de 2002]”, quando um golpe tirou o falecido Hugo Chávez do poder por cerca de 48 horas, após mortes em marchas.

“Me deram a mesma recomendação que me deram na outra vez, não fique na primeira fila, se mantenha pelos lados”, diz a voz, afirmando que a informação vem da mesma fonte. Segundo o apresentador do programa, o áudio teria sido mandado por pessoas ligadas ao setores opositores “que já estão cansados da incitação à violência”.

Segundo Maduro, a Promotoria Geral da República emitiu uma ordem de captura contra Gerbasi e Molina. Gerbasi afirmou, por meio de seu perfil no Twitter, que o áudio é falso. “Estou bem. Essa conversa com Ivan Carratu é falsa, nunca falei com ele. Querem criar matriz de opinião”.

Maduro também comentou uma coletiva de imprensa de líderes opositores à parcela da imprensa local contrária ao governo. “Um dos fascistas acaba de declarar que vão pra rua e não vão sair até que derrubem o governo de Nicolás Maduro”, expressou, falando em “insolência”. O presidente disse que haverá justiça pelas três mortes registradas nesta quarta.

Em meio à troca de acusações, os oposicionistas também reagiram e rejeitaram os comentários feitos por Maduro quanto aos ataques ocorridos em meio aos protestos. Em um comunicado, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), representação que reúne os principais partidos de oposição no país, também rejeitou os ataques e pediu esclarecimentos sobre os acontecimentos

Miguel Gutiérrez / EFEvenezuela2.jpg
Soldado da Força Nacional em confronto com opositores do regime chavista da Venezuela

Choque

As manifestações ocorreram ao longo de todo o dia de ontem. O governo Maduro fez uma série de atos cívicos e convocou partidários para celebrar o bicentenário da Batalha da Vitória. Do mesmo modo, estudantes e opositores convocaram uma marcha por liberdade de expressão, mudanças na economia e mais segurança.

“Vim comemorar a história do país que me recebeu. A oposição está fazendo marchas e distúrbios, mas não vão poder com a gente que queremos a paz, a convivência e vamos apoiar nosso irmão Nicolás Maduro para seguir com nossa revolução”, afirmou a colombiana nacionalizada venezuelana Yaneth Barraza, de 53 anos, que disse ter podido concluir os estudos com os programas iniciados pelo chavismo.

Miguel Rosal, venezuelano de 38 anos que estudou medicina integral comunitária devido a um convênio entre o governo chavista e o cubano afirmou estar no ato convocado pelo governo para “apoiar a juventude e reivindicar nossos valores”. Quanto à marcha paralela que estava sendo realizada por opositores, afirmou: “Sabemos que o que a oposição está tentando é buscar a forma de fazer a juventude cair na violência, cair na agressividade. Mas temos que seguir trabalhando na nossa união e eles não vão conseguir”.

O protesto de Caracas, começou com tranquilidade, mas terminou em distúrbios quando chegou à sede da Promotoria Geral da República. “Foi uma ação premeditada”, afirmou a promotora geral da República, Luisa Ortega Díaz, ressaltando que o Ministério Público atuará de acordo com a Constituição e as leis do país e tem “muitos elementos”, como fotos e filmagens, para identificar os responsáveis pela deflagração da violência.

Oposição

“Esperamos ser escutados, já não temos medo, estamos cansados”, disse Steffy López, de 23 anos, que estuda inglês do Centro Venezuelano Americano, na concentração da marcha opositora durante a manhã. Quando questionada sobre o objetivo da marcha, afirmou: “O objetivo é tirá-los, derrubar por completo este governo que não serviu para nada, só para desunir o país e isso não está certo”.

Um jovem, com o rosto coberto e dizendo ser venezuelano filho de norte-americanos, balançava uma bandeira amarela e preta que, explicou, simboliza capitalismo e anarquia. “No capitalismo todo mundo que tem talento pode fazer, vender e ganhar dinheiro, porque não tem um governo que controle o que se pode ou não fazer, isso é liberdade”, expressou.

O dirigente opositor Leopoldo López, foi um dos que escreveu em seu perfil no Twitter que houve ações contra os manifestantes ao fim da jornada e “há feridos”.  Mais tarde, ele culpou diretamente Maduro pelos assassinatos. “Os autores da violência, dos mortos, feridos, são aqueles que estão governando e responsabilizamos Maduro”.

Em coletiva de imprensa dada ao lado de outros líderes opositores, López  disse: “Poderão prender todos nós, mas essa onda está crescendo. Saiba, senhor Maduro, seguirá crescendo até atingir seu objetivo”.