Vazamento

Bradley Manning é condenado por acusações de espionagem, mas não por ‘ajudar o inimigo’

Pena máxima à qual o soldado norte-americano acusado de vazar documentos confidenciais ao WikiLeaks pode ser submetido é de 136 anos

Jim Loo Scalzo/Efe

Manning pode pegar cerca de 130 anos de prisão por ter revelado documentos secretos ao WikiLeaks

São Paulo – A juíza militar Denise Lind condenou o soldado norte-americano Bradley Manning por uma série de crimes de espionagem, mas inocentou o jovem de 25 anos das acusações de ter “ajudado o inimigo” com o vazamento de documentos secretos dos Estados Unidos para o WikiLeaks. As informações repassadas por Manning mostram violações dos direitos humanos pelas forças armadas estadunidenses no Iraque e no Afeganistão. O soldado também repassou ao WikiLeaks dossiês sobre pessoas presas em Guantánamo sem acusação. E mais de 250 mil telegramas diplomáticos trocados entre o Departamento de Estado e os consulados e embaixadas do país em todo o mundo. Somadas, as penas, que ainda devem ser definidas pelo tribunal, podem chegar a 136 anos – a Agência Efe fala em até 154 anos.

Durante todo o julgamento, que durou oito semanas, a promotoria insistiu em acusar Manning por ter colaborado com inimigos dos Estados Unidos, como a rede terrorista Al Qaeda, enquanto a defesa argumentava que seu objetivo era apenas mostrar à sociedade os bastidores do Exército norte-americano e das guerras em que o país se envolveu. Um dos vídeos repassados pelo soldado ao WikiLeaks mostra militares do país num helicóptero atirando indistintamente contra civis e supostos insurgentes iraquianos em Bagdá. Enquanto matam seus inimigos, os pilotos riem. A ação deixou uma série de mortos, entre eles um fotógrafo da agência Reuters – a câmera que levava a tiracolo fora confundida com uma metralhadora. Se fosse condenado por essa acusação de ajudar o inimigo, o soldado poderia ser sentenciado à prisão perpétua, sem possibilidade de redução.

Bradley Manning está preso há três anos, quando foi detido no Iraque, onde prestava serviços de inteligência aos Estados Unidos. A família do soldado fez uma declaração, publicada pelo jornal The Guardian, em que se diz “obviamente desapontada com o veredicto de hoje”, mas contente porque a juíza Lind concordou que “Bradley nunca quis ajudar os inimigos dos Estados Unidos de nenhum jeito. Ele ama seu país e estava orgulhoso de usar seu uniforme”. Os familiares também agradeceram o apoio da equipe de defesa de Manning e das pessoas que se manifestaram a favor dele, sem as quais ele não poderia se defender “do poder completo do exército e do governo norte-americanos”.

O Wikileaks, de quem Manning foi fonte confessa, se manifestou através do Twitter, dizendo que as condenações são uma amostra de um “extremismo de segurança nacional perigoso por parte do governo Barack Obama”. A página fundada pelo australiano Julian Assange, que atualmente se encontra exilado na embaixada do Equador em Londres, na Grã Bretanha, também afirmou que a condenação por cinco acusações de espionagem é “um novo precedente muito grave para o fornecimento de informações à imprensa”.

A Anistia Internacional apontou que “é difícil não chegar à conclusão de que o julgamento de Manning teve o objetivo de enviar uma mensagem a todos: o governo dos Estados Unidos está atrás de você” – uma dessas pessoas é Assange, a outra, Edward Snowden, que repassou informações confidenciais da Agência de Segurança Nacional (NSA) ao jornalista Glenn Greenwald. Em comunicado, a Anistia afirmou que “as prioridades dos EUA estão de cabeça para baixo”, já que julgaram o soldado, mas se recusaram a investigar denúncias de tortura e outros crimes que violam leis internacionais que teria sofrido na prisão.

Com informações do Opera Mundi, Efe, The New York Times, Huffington Post e Guardian