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Torcedoras do Atlético-MG criticam machismo em lançamento de camisa

Bruno Cantini/Atlético / divulgação Em lançamento de novas camisas, mulheres desfilaram em roupas íntimas: reforço ao machismo do futebol Brasília – Torcedoras do Clube Atlético Mineiro expressaram em nota e nas […]

Bruno Cantini/Atlético / divulgação

Em lançamento de novas camisas, mulheres desfilaram em roupas íntimas: reforço ao machismo do futebol

Brasília – Torcedoras do Clube Atlético Mineiro expressaram em nota e nas redes sociais indignação e repúdio à forma como o clube apresentou sua nova linha de uniformes, num desfile em Belo Horizonte, segunda-feira (16). No evento, em que mulheres, homens e crianças foram contratados para promover a coleção, desenvolvidas pela empresa DryWorld, apenas as mulheres desfilaram em trajes de banho e roupas íntimas. A nota condena a “maneira objetificada e apelativa, em um evento de finalidade esportiva” escolhida pelo clube e pela empresa. A nota é reproduzida em sua íntegra abaixo.

O coletivo Mulheres da Torcida Galo Marx acusa que o evento reforçou que, para o clube, as mulheres são “tratadas como peça de enfeite de estádio, encomendadas para agradar o público masculino”  e afirmam que “o clube se mostra excludente com as mulheres torcedoras – e consumidoras – e passivo em relação a atitudes machistas dentro e fora do estádio”. “Os corpos das mulheres atleticanas, representados nas modelos que trajavam as camisas ditas femininas e calcinhas, não são mercadorias, objetos de consumo ou parte do espetáculo grotesco que visa reafirmar o futebol como espaço masculino”, segue o comunicado.

Luara Ramos, integrante da torcida, afirma que a luta do grupo é pela democratização do futebol, que também inclui a igualdade de gênero. Outra torcedora, Roberta Oliveira, relata que, nos estádios, as mulheres estão expostas a todo tipo de agressão, sexual e física, e que isto também afasta as torcedoras dos clubes.

No texto, as alvinegras acusam tratamento desigual que recebem até da própria diretoria do Atlético e cobram um pedido de desculpas, além de ações afirmativas, como a inclusão de mais mulheres nos departamentos do clube.

Leia a nota:

NOTA DE REPÚDIO AO DESFILE DE APRESENTAÇÃO DO NOVO UNIFORME DO CLUBE ATLÉTICO MINEIRO.

A objetificação das mulheres não é uma tradição, mas antes uma prática perversa que visa nos equiparar a uma mercadoria. O futebol, como reflexo da cultura de massas, também não está alheio ao preconceito e é, portanto, nosso papel como mulheres de uma torcida marxista contribuir com o debate para torná-lo verdadeiramente democrático e popular.

Ao longo de quase 108 anos de história, as mulheres torcedoras do GALO sempre tiveram seu espaço na construção de um clube que se diz “do povo”. Pois é preciso dizer, mais uma vez, à diretoria, à nova fornecedora de materiais esportivos DryWorld e aos que menosprezam nossa atitude tomando-a por “vitimismo”, que também as mulheres são parte deste povo preto e branco.

Não aceitamos ser representadas como para o deleite de homens que se julgam o grande “público-alvo” do futebol.
Repudiamos a adultização de uma modelo adolescente trajando calcinha.
Repudiamos a sexualização do corpo feminino.
Repudiamos a cultura do estupro refletida e reforçada no desfile. 
Lamentamos que ainda hoje ignorem a força e a voz das mulheres atleticanas.

O futebol moderno tem como o público-alvo aqueles que detém condições econômicas para bancar os altos preços dos produtos e ingressos e que se comportam como uma massa alienada e misógina, contribuindo diariamente com a violação dos direitos das mulheres, comprovando mais uma vez que machismo e o capitalismo andam juntos. Os corpos das mulheres atleticanas, representados nas modelos que trajavam as camisas ditas femininas e calcinhas, NÃO são mercadorias, objetos de consumo ou parte do espetáculo grotesco que visa reafirmar o futebol como espaço masculino.

Esperamos com esta nota que este episódio lamentável não caia no esquecimento, mas que sirva para lembrar que nós estamos aqui, que merecemos mais representatividade ocupando as arquibancadas, os departamentos e principalmente: que nós também, como cantado no hino, somos do Clube Atlético Mineiro.

Mulheres da Torcida Galo Marx

Galo insiste

A assessoria de imprensa do Atlético Mineiro disse não ver razão para a polêmica e que nenhum dirigente daria entrevista. A assessoria apenas reproduziu uma fala do diretor de comunicação do clube, Domênico Bhering, para outros veículos de comunicação. “O Atlético respeita o direito democrático das pessoas de discordarem, mas isso não significa que temos que concordar com as críticas. Não iremos responder a isso. Não houve excesso nem atitude machista. Mas reforçamos o direito de críticas e elogios. Há quinze anos agimos dessa forma, e essa foi a festa mais elogiada. Não há por que mudar algo que vem dando certo há esse tempo”, concluiu o diretor.

reprodução
Etiqueta de uma de uma das peças com a instrução de lavagem ‘give it to your wife’ (dê para sua esposa)

Novas polêmicas

Nesta terça, circularam nas redes sociais imagens de etiquetas de uma peça produzida pela Dry World para o Atlético Mineiro que continha na indicação de lavagem a seguinte instrução em inglês “give it to your wife”, que significaria “entregue para sua esposa [lavar]”. A menção também foi repudiada por torcedoras e torcedores na internet por a considerarem machista.

Em nota, a empresa pediu desculpas aos torcedores e afirmou que a peça não havia sido aprovada pela empresa e foi distribuída erroneamente e que “precauções foram tomadas para evitar que este tipo erro aconteça novamente”.

Com reportagem da EBC