Para Marilena Chauí, USP aderiu por completo a regras do mercado

Em conversa com Rede Brasil Atual, professora lamenta método de administração da universidade que esta semana elegeu lista tríplice. Governador indica, entre os nomes apontados, o próximo reitor

Afastada de entrevistas há alguns anos, a professora Marilena Chauí, do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), não vê com bons olhos o atual andamento da instituição à qual dedicou boa parte de sua vida. Na última segunda-feira (9), ela conversou sobre a USP com a Rede Brasil Atual durante o jantar de apoio à deputada e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina.

Na quarta-feira (11), a instituição escolheu a lista com três nomes que serão enviados ao governador José Serra para que ele decida quem é o próximo reitor da USP. Se respeitar a prática adotada desde a década de 80, Serra nomeará o primeiro da lista, Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física de São Carlos. Nenhum dos outros nomes, João Grandino Rodas, diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, e Armando Corbani Ferraz, pró-reitor de Pós-graduação, é tido como uma ruptura no atual modelo.

Questionada se a USP tem refletido sobre os problemas da sociedade, a professora respondeu:

“Tirando os grupos pequenos de contestação, a universidade como um todo aderiu por inteiro à concepção neoliberal do conhecimento, ou seja, a ideia de que a universidade é operacional, encarregada da produtividade de uma pesquisa que nada mais é do que um conjunto de services necessários às empresas, e pensa a docência como uma correia de transmissão de conhecimento. Ela própria interiorizou essa concepção da educação, do saber, da pesquisa e incorporou como suas as regras externas das agências de fomento. E essas agências de fomento têm a sua própria lógica e dinâmica e suas exigências, e têm que ter, já que lidam com dinheiro público. A universidade tem que garantir sua própria autonomia, ela não pode incorporar as regras das agências de fomento, ela confundiu a obtenção dos auxílios a submissão a regras externas a ela.”