'ocupar e resistir'

Em novo ato, estudantes do RS rechaçam propostas do governo e mantêm ocupações

Guilherme Santos/Sul21 Ato reuniu centenas de estudantes, com apoio de pais e professores Sul21 – “Não é baderna, nem invasão, ‘tamo’ ocupando pela educação“ foi uma das músicas entoadas pelas […]

Guilherme Santos/Sul21

Ato reuniu centenas de estudantes, com apoio de pais e professores

Sul21 – “Não é baderna, nem invasão, ‘tamo’ ocupando pela educação foi uma das músicas entoadas pelas centenas de secundaristas que marcharam por ruas do Centro de Porto Alegre ontem (9). Em ritmo frenético contrastando com a baixa temperatura registrada na capital gaúcha, estudantes de pelo menos dez escolas reuniram-se na Esquina Democrática a partir das 17h e, pouco mais de uma hora depois, saíram em caminhada, sempre criticando o  governo estadual e o governador José Ivo Sartori (PMDB).

No carro de som, estudantes de diversas escolas se revezavam para falar, muitos deles criticando a carta de propostas entregue pelo governo no início da semana. “Não vamos desocupar só porque o Sartori quer, vamos continuar até quando for preciso”, afirmou uma estudante da escola República Argentina. “A gente nunca viu tanta vida na nossa escola, e aqui fora também. Esse documento não nos dá garantias”, disse um aluno do Instituto de Educação.

A marcha iniciada às 18h15 foi pela avenida Salgado Filho até a rua André da Rocha, onde estudantes vaiaram e picharam a sede da União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre (Umespa), chamada de “pelega” e “governista”. Animados, os estudantes entoavam, durante a caminhada, “ocupar e resistir”, “não tem arrego, você tira minha escola e eu tiro seu sossego” e “mãe, pai, tô na ocupação, só pra tu saber eu luto pela educação”. Alguns professores, pais e apoiadores também participaram da manifestação.

Seguindo pela Fernando Machado, o ato retornou para a avenida Borges de Medeiros, de onde dobrou na Jerônimo Coelho. Ali, houve um tumulto quando, segundo relatos, um jovem que participava da caminhada tentou agredir uma menina que fazia a segurança do carro de som. Outros estudantes partiram em defesa dela, xingando e empurrando o que a teria agredido. Gritando “sem violência”, a maior parte dos que participavam da marcha criticaram a atitude.

De forma organizada, os estudantes haviam formado uma comissão de segurança, que era quem informava para onde estavam indo, impedia os carros de avançarem e era responsável por lidar com situações de brigas ou agressões. Identificados por uma faixa azul amarrada no braço, eles corriam entre as duas pontas do ato para fazer o bloqueio das vias. Entre a população que estava nas ruas por onde o ato passava, percebia-se que alguns tinham reações fortemente contrárias, chegando a chamar os jovens de “vagabundos”, mas outros buzinavam e aplaudiam em apoio.

Se em alguns momentos os secundaristas demonstraram organização e maturidade surpreendente para adolescentes na faixa dos 15 aos 18 anos, em outros ficava perceptível sua juventude. Quando estavam chegando em frente ao Palácio Piratini, muitos ficaram alarmados com a presença da Tropa de Choque da Brigada Militar, posicionada ao lado do prédio, enquanto outros acenderam sinalizadores e subiram nas grades que isolavam o local.

Chegando ao Palácio, os estudantes queimaram um boneco representando o governador José Ivo Sartori e cópias da carta entregue pela Secretaria da Educação, enquanto uma menina entoava no microfone: “esse documento é vago e sem propostas concretas. Assim como na sua campanha eleitoral, Sartori mostra que não tem planejamento”. Houve um breve momento de tensão quando a Brigada Militar se colocou em frente ao Piratini e alguns estudantes disseram que eles também bloqueavam a rua Duque de Caxias, para onde o ato pretendia seguir.

Após alguns instantes em que houve indecisão sobre para qual lado seguir, veio a notícia de que a polícia havia liberado a Duque, e os secundaristas seguiram por lá até a rua General Auto, onde passaram em frente à escola Paula Soares, integrante do grupo de escolas ocupadas independentes, que convocou o ato. Rapidamente, eles desceram a lomba onde o colégio está localizado pulando e cantando e chegaram à rua Washington Luiz.

No início, a manifestação foi acompanhada pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que ajudava a fazer o bloqueio das vias. Mas depois de passar pelo Piratini os estudantes precisaram parar os carros e ônibus por si próprios. Contornando o Largo dos Açorianos, eles cruzaram a avenida Loureiro da Silva e encerraram o ato no Largo Zumbi dos Palmares, com agradecimentos e aplausos.

Propostas

No primeiro ato público de estudantes, na segunda-feira (6), eles foram até a Secretaria de Educação (Seduc), mas não foram recebidos. Em tentativa de causar a desocupação das mais de 100 escolas ocupadas no Estado, a Secretaria então encaminhou propostas de ações nesta terça-feira (7). No dia seguinte, em uma reunião de conciliação, os secundaristas apresentaram uma contraproposta, pedindo respostas mais concretas e a retirada do projeto de lei que permitiria que parte da administração das escolas seja feita por organizações sociais, assim como posição oficial do governo contra o projeto “Escola Sem Partido”.

Amanhã (11), completa um mês que a Escola Coronel Emílio Massot  foi ocupada, dando início a uma onda de ocupações que se intensificou no final de semana e tomou conta de centenas de escolas na capital e no interior.