Centro Paula Souza

Contra cortes e máfia da merenda, secundaristas ocupam escola em São Paulo

Após passeata pelo centro da cidade, estudantes exigem diálogo com representantes do Centro Paula Souza. Durante a ocupação, a Polícia Militar reprimiu secundaristas que forçaram a entrada na escola

Lucas Duarte

Estudantes pularam as grades do Centro Paula Souza

São Paulo – Estudantes secundaristas da rede pública estadual de São Paulo e do ensino técnico ocupam o Centro Paula Souza, no centro da capital, desde as 14h de hoje (28). Após uma manifestação que teve início na Avenida Paulista, às 8h, cerca de 2 mil alunos realizaram um ato, seguido de passeata, até a Secretaria Estadual da Educação na Praça da República. De lá, seguiram em número reduzido até a escola.

Os jovens reivindicam o fim dos cortes em verbas para a educação, que no âmbito estadual representam R$ 140.832.098 previstos e não empregados em Etecs. Outro ponto de atrito é o que chamam de “reorganização disfarçada”, uma política adotada pela gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que vem fechando salas de aula. “Estão juntando salas do ensino técnico com salas do ensino normal”, afirma o secundarista Francisco Martins.

A reivindicação imediata para que os estudantes deixem o local é que as Etecs providenciem a construção de refeitórios, já que algumas unidades não possuem. Enquanto isso não é concretizado, os secundaristas exigem vale-refeição.

Chegaram ao Paula Souza cerca de 150 jovens que encontraram os portões fechados e forçaram a entrada. A Polícia Militar, que acompanhou o ato desde o início, proibindo qualquer fechamento completo de vias, adensou seu contingente e atacou os estudantes, já na parte interna da escola. “Nos reprimiram com gás. Muita gente passou mal, chorou, mas agora a situação está mais tranquila”, disse William, estudante da Etec Guaracy Silveira.

Existe a expectativa de mais estudantes se deslocarem até o local para dar corpo à manifestação e levar mantimentos para possível extensão no período de ocupação. Para este fim de tarde estava marcada uma assembleia.

Os estudantes também exigem a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa para investigar desvios nas verbas da merenda escolar, escândalo que envolve o presidente da Casa, Fernando Capez (PSDB). Para a estudante Othila, que concluiu o ensino secundário ano passado no Fernão Dias Paes, o escândalo da merenda está ligado a más condições nas escolas estaduais. “A maioria das Etecs não tem merenda. Várias não têm nem lugar, o que é um absurdo, pois tem gente que fica o dia inteiro na escola”, afirmou.

A base governista na Assembleia vem dificultando e esvaziando as sessões que pretendem formalizar a abertura da CPI. A força-tarefa da Polícia Civil com o Ministério Público Alba Branca aponta para fraudes na contratação do serviço de merenda para as escolas estaduais entre 2013 e 2015. Dos R$ 7 milhões empregados, R$ 700 mil teriam sido desviados para pagamento de propinas. De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil (Gaeco), os crimes envolvem 20 municípios paulistas.