‘Era ‘boa aula’ para os outros e ‘bom trabalho’ para mim’

Bolsista da FGV-RJ, Dione Xavier foi a primeira negra a se formar advogada na instituição

Dione posa para foto ao lado de sua mãe: orgulho merecido pelas vitórias conquistadas, apesar das dificuldades (Divulgação)

São Paulo – Quando optou por estudar Direito, Dione Valezca Xavier, então com 19 anos, não imaginava que conseguiria outro feito: ser a primeira negra a se formar advogada na instituição. Depois de conseguir uma bolsa em um programa de inclusão social, ela ingressou na primeira turma do curso na unidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro e foi, durante os cinco anos de graduação, a única estudante negra da sua turma.

“Não havia professores nem funcionários negros na faculdade de Direito. Os meus colegas de sala sempre foram muito receptivos, mas alguns funcionários cometiam deslizes subjetivos comigo”, conta. “O ascensorista do elevador, por exemplo, se despedia dos outros alunos dizendo ‘boa aula’ e para mim ele sempre desejava ‘bom trabalho’. Quando contei que era estudante ele ficou muito surpreso”.

Dione, que sempre estudou em escola pública ou como bolsista em particulares, não se intimidou e terminou a graduação entre os 10 melhores alunos do curso. Ela não parou por aí: voltou a FGV para se graduar mestre em Poder Judiciário.

Contrariando as estatísticas ela, mulher e negra, conseguiu um cargo de liderança em uma grande empresa e hoje é coordenadora jurídica de um grupo econômico sediado no Rio de Janeiro. “Na empresa nunca tive problemas com preconceito. Todos me respeitam bastante”.

Além disso, ela é responsável pela área jurídica da organização social Educafro, que articulou sua entrada na universidade: “espero ajudar outras pessoas a conquistarem o que eu conquistei”, conta.