Estudantes querem a liberação da venda de álcool nas festas da USP

A proibição, segundo eles, enfraquece o caixa dos centros acadêmicos, reduz a participação nas festas e compromete a mobilização estudantil

Cerveja e outras bebidas estão proibidas nas festas da USP (Foto: Glauco Umbelino/Flickr)

São Paulo – Alunos de várias faculdades da Universidade de São Paulo (USP) reivindicam a volta da permissão para venda de bebidas alcoólicas em festas juninas e de recepção aos calouros, entre outras. No final de fevereiro passado foi proibida a entrada de entregadores de cerveja para os centros acadêmicos no campus do Butantã. Já nos campi do interior, a proibição é mais antiga. Em Piracicaba começou em 2009 e no ano seguinte, em Ribeirão Preto. 

A USP segue lei federal que veta a comercialização de bebidas com teor alcoólico superior a 13 graus. Mas um parecer assinado pelo reitor João Grandino Rodas, em fevereiro de 2010, fixa em 4,5 graus, incluindo na categoria a cerveja, o vinho e espumantes. O novo parâmetro é idêntico ao da lei estadual sancionada pelo então governador José Serra (PSDB) em 2009. Sob o argumento da autonomia universitária, a legislação não foi seguida pela USP, mas a partir do parecer ficou proibido consumir, vender e distribuir bebidas na universidade e até em moradias estudantis, inclusive repúblicas. Estão previstas punições para quem descumprir as determinações.

No entanto, segundo integrantes da campanha Eu bebo alegria – contra a proibição do álcool na universidade porque proibir não educa ninguém, vinculados ao diretório central estudantil, a obediência à legislação depende da direção de cada faculdade. 

Aluna do curso de Nutrição e diretora do Centro Acadêmico Emílio Ribas, da Faculdade de Saúde Pública, Beatriz Fragnam Mei afirma que a proibição não tem por finalidade zelar pela saúde dos estudantes. “Se estivesse preocupada com isso, a reitoria ofereceria um serviço de atendimento especializado para tratar alcoolismo e também medidas de redução de danos, como distribuição de água de coco em festas”, disse a estudante, enfatizando que a ideia da campanha não é fazer apologia às drogas.

A proibição, segundo ela, objetiva desmobilizar o movimento estudantil da universidade, de oposição à atual gestão da reitoria. “A venda de cerveja é fonte de recursos para as atividades dos centros acadêmicos. E sem ela, as festas não atraem tantos estudantes, o que prejudica a mobilização. Afinal, nesses encontros há troca de ideias que fortalecem o movimento.” 

Para a professora Cássia Baldini Soares, da Escola de Enfermagem da USP, a necessidade de alteração psicoativa já era registrada na Antiguidade. A diferença é que as drogas, inclusive as lícitas, tornaram-se mais uma mercadoria cujo consumo é estimulado por todos os mecanismos do sistema capitalista. “Embora considerado a droga que mais acarreta problemas sociais, o álcool nem por isso é proibido”, disse. 

Segundo ela, a proibição não elimina a necessidade de alteração psicoativa numa sociedade como a atual, muito menos na universidade. Além disso, a história mostra que medidas proibitivas trazem sérios prejuízos à sociedade. “A chamada lei seca americana levou ao surgimento da máfia nos Estados Unidos”, disse. Conforme a docente, que tem experiência em temas como adolescência e juventude, a questão é muito complexa. “Precisamos debater a questão com seriedade. Uma coisa é o jovem beber para tornar mais prazerosos momentos de sociabilidade. Outra é uma pessoa beber até cair.” 

O tema será debatido no XI Congresso dos Estudantes da USP, entre os dias 24 e 26 de agosto.