Inédito

Política da Petrobras distorce preços, e diesel fica mais caro que gasolina, diz FUP

Petroleiros alertam Petrobras a abandonar o PPI e fazer importação direta do diesel, para evitar desabastecimento e aumento dos preços

Agência Petrobras
Agência Petrobras
Em vez de privatizar, Petrobras deveria ampliar o parque de refino, reduzindo dependência das importações

São Paulo – Desde a semana passada, após os novos reajustes na gasolina (5,18%) e no diesel (14,26%) pela Petrobras, os preços dos combustíveis se inverteram nos postos do país. De acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), dos dias 19 a 25 o preço médio do diesel atingiu R$ 7,568/litro, enquanto o da gasolina ficou em R$ 7,390. O valor mais alto do diesel foi encontrado a R$ 8,850/litro no Acre, e o mais baixo a R$ 6,290 no Rio de Janeiro. É primeira vez, desde 2004, quando a ANP iniciou a série de medições, que o preço do diesel supera o da gasolina.

O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, avalia que essa “distorção” é mais uma consequência da política de Preços de Paridade de Importação (PPI), que a Petrobras vem aplicando desde 2016. Também é resultado da “incompetência” do governo Bolsonaro, que não investiu na conclusão de refinarias inacabadas.

Nesse sentido, os próximos meses serão ainda mais desafiadores para o presidente Jair Bolsonaro. Com a posse de Caio Paes de Andrade como novo presidente da Petrobras, Bolsonaro promete uma “nova dinâmica na questão dos combustíveis no Brasil”. A intenção, nas entrelinhas, é evitar novos reajustes dos combustíveis até as eleições, pelo menos. Mas, para além das altas dos preços, o risco é faltar diesel no Brasil nos próximos meses, como a FUP vem alertando desde maio.

Isso porque, com a introdução do PPI, cerca de 20% a 25% do diesel consumido no país passou a ser importado. E 80% dessas importações vêm dos Estados Unidos. Contundo, em função da guerra na Ucrânia e as sanções impostas contra a Rússia, os Estados Unidos passaram a concentrar suas exportações de diesel para os países europeus.

Soberania em risco

Para Bacelar, a solução no curto prazo para evitar o desabastecimento de diesel passa pela importação direta pela Petrobras. Mas isso afetaria os lucros das importadoras de combustíveis que ampliaram a atuação no país nos últimos anos. No longo prazo, é preciso ampliar o parque de refino no país, concluindo obras paradas.

Mas o governo Bolsonaro aposta na direção contrária. Nesta segunda-feira (28), a Petrobras anunciou que vai retomar o processo de venda das Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, Refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná, e Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul. Juntas elas respondem por 23% da capacidade de refino do Brasil.

“Infelizmente o governo insiste em manter o PPPI, alegando que se mudar, as mais de 500 traders (importadoras) instaladas no Brasil irão decidir não importar mais”, criticou. “No curto prazo, a solução seria utilizar a Petrobras como uma grande importadora, mas regulando os preços aqui no país”. O coordenador da FUP lembrou que estatal atuou dessa forma em duas ocasiões: em 2008, durante a crise financeira de 2008, quando o barril de petróleo chegou a US$ 147,50. E também em 2014, quando, ao contrário, os preços do petróleo no mercado internacional desabaram.

“Porém o governo não sinaliza fazer isso, pra não atingir os lucros exorbitantes da Petrobras. E consequentemente, reduzindo os dividendos que são pagos aos acionistas, principalmente internacionais. E também pra não mexer nas traders, essas importadoras que deveriam ser investigadas. Temos ciência de que muitos amigos daqueles que estão hoje no poder estão operando na importação de derivados de petróleo aqui para o Brasil.

Saída estrutural: investimentos

Bacelar afirma que é fundamental ampliar a capacidade de refino no país. “Assim, o Brasil, que já alcançou a autossuficiência na produção de petróleo, deixaria de depender da importação de derivados. Infelizmente, devido à incompetência, à falta de trabalho, à preguiça do presidente da República, que anda de jet-ski e faz motociatas, em vez de trabalhar, ele não retomou as obras das refinarias, como as do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que estavam 80% concluídas. Também não deu continuidade à obra da segunda metade da Refinaria Abreu e Lima. E muito menos das refinarias Premium I e Premium II, no Ceará e no Maranhão.”