Desabastecimento

Desmonte da Petrobras pode causar falta de diesel no segundo semestre, alerta FUP

Em vez de ampliar a capacidade de refino no pais, Bolsonaro já vendeu duas refinarias, aumentando a dependência do diesel importado

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Com PPI, Petrobras mantém preço do diesel elevado na tentativa de atrair importadores

São Paulo – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) alerta que o Brasil corre o risco de desabastecimento de óleo diesel no início do segundo semestre deste ano. A entidade trabalha com um cenário de escassez da oferta no mercado internacional e baixo nível dos estoques mundiais do combustível. Apesar de ser autossuficiente em petróleo, o Brasil importa 25% do diesel consumido no país. A FUP atribuiu essa dependência à baixa utilização das refinarias brasileiras e a não conclusão de obras importantes no setor.

Em especial, os petroleiros apontam “equívocos” do governo Bolsonaro, que além de não ampliar o parque de refino, já vendeu duas refinarias da Petrobras. “Um dos erros cruciais do governo federal foi não ter concluído o segundo trem da Refinaria Abreu Lima (PE), especializada na produção de diesel. Errou também ao não investir no Comperj e ao não construir unidades de coqueamento em algumas refinarias do país”, afirmou o coordenador-geral da FUP-CUT, Deyvid Bacelar nesta quarta-feira (25).

Em nota, a FUP relaciona o “desmonte” do parque de refino da Petrobras à política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que atrelou os preços dos combustíveis no Brasil ao mercado internacional. Desde 2016, junto com o PPI, a direção da estatal vem aplicando o seu “plano de desinvestimento”, com a privatização de refinarias e outras subsidiárias. A justificativa é concentrar a atuação da empresa na exploração e produção de petróleo do pré-sal, que tem maior rentabilidade.

Dependência

Sem investimentos no parque de refino, aumentou a dependência da importação de diesel. Assim, a Petrobras mantém o preço do combustível elevado de modo a atrair a participação dos importadores. A situação se agravou, no entanto, em função das sanções impostas à Rússia, desorganizando o mercado mundial de petróleo e gás.

Cerca de 80% do diesel importado pelo Brasil vem dos Estados Unidos. Mas o país vem direcionando a sua produção para a Europa, explicou o coordenador-geral da FUP-CUT. “Há possibilidade real de faltar diesel no mercado brasileiro ou de o preço desse combustível explodir no país”, ressalta Bacelar, com base em informações levantadas pelo departamento de Economia da FUP.

Assim, expectativa é que a demanda brasileira pelo diesel tende a aumentar nos próximos dois meses. A chegada da safra agrícola em julho deve aumentar o consumo do combustível por máquinas agrícolas e caminhões. Além disso, também é esperada a retomada do consumo no pós-pandemia.

Dilema e desespero

De acordo com o economista do Dieese na subseção da FUP, Cloviomar Cararine, o governo Bolsonaro está diante de um “dilema”. “Ou atende aos acionistas, com lucros e dividendos recordes, ou reduz o preço na refinaria, que impacta na bomba. Bolsonaro tenta se equilibrar nas duas canoas: a dos acionistas e a dos trabalhadores brasileiros, que sofrem com a inflação e com a perda de poder aquisitivo”.

Para Bacelar, a ameaça de desabastecimento de diesel no mercado doméstico a menos de cinco meses das eleições levou Bolsonaro ao desespero. Ele atribui a isso a decisão de trocar, pela quarta vez, o comando da Petrobras. Nesse sentido, ele considera como um “balão de ensaio” proposta aventada pelo governo de congelar por 100 dias os preços dos combustíveis.

“É mais uma cortina de fumaça criada por Bolsonaro”, frisou o líder petroleiro. “Ele não muda ou abandona o PPI porque não quer. O PPI não é lei, é decisão do Executivo. A questão central é que o governo não quer arranjar briga, nem com o mercado, nem com os acionistas privados que, com o atual modelo, têm a garantia de dividendos espetaculares“.


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