Datificação

Pochmann na TVT e o avanço da era digital: ‘O papel do IBGE é revelar o que somos’

Para ele, ao instituto cabe captar as transformações do país para subsidiar políticas públicas mais precisas

Washington Costa/MPO
Washington Costa/MPO
O novo presidente do IBGE toma posse: informações qualificam o país e ajudam o Estado a atuar de forma mais precisa

São Paulo – Ao assumir a presidência do IBGE, ontem (18), o economista e professor Marcio Pochmann falou sobre a importância da pesquisa para o direcionamento de políticas públicas. No mesmo dia, em entrevista à TVT, ele expandiu o ponto de vista, para afirmar que além de continuar a divulgar informações precisas, a partir de pesquisas com apuro técnico, o instituto pode reunir informações de diferentes provedores “e ao mesmo tempo considerar essa modalidade da datificação”. A expressão designa a reunião de aspectos da vida social em dados, algo que Pochmann considera fundamental para subsidiar políticas públicas, por exemplo. “O IBGE é a nossa vanguarda na produção do conhecimento.”

Confira aqui a íntegra da entrevista.

“Estamos diante de um momento crucial para a questão demográfica no nosso país”, disse Pochmann à TVT, ao falar de atualização e introdução de novas políticas públicas. “O Brasil no século 19 deve sua população multiplicada por cinco vezes. No século 20, por 10 vezes. No século 21 não deverá crescer. Esse é um fato novo para o Brasil.” Ele cita ainda fatos como o deslocamento populacional para cidades médias, além da expansão regional da atividade econômica.

“Gritaria” midiática

Além dos entrevistadores Cosmo Silva e Talita Galli, o programa especial teve a participação de convidados. Altamiro Borges (Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé), Haroldo Ceravolo (Opera Mundi), Vinicius Konchinski (Brasil de Fato) e Gustavo Conde (Blog do Conde, TVT) fizeram perguntas ao entrevistado. E a primeira foi justamente sobre a “gritaria” de comentaristas da mídia comercial contra a indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o comando do IBGE.

Pochmann agradeceu pelas manifestações de apoio que recebeu e disse que a controvérsia é própria do regime democrático. “Quero assegurar de forma muito precisa que o nosso trabalho será manter a qualidade das pesquisas e procurar atender às demandas da sociedade”, afirmou. Mesmo assim, identifica no caso um pouco de preconceito, como já aconteceu com o próprio Lula. “A sociedade ainda não conseguiu acumular uma cultura democrática”, comentou, em relação à diversidade de opiniões.

De agrário para urbano

Sobre o trabalho no instituto, ele lembrou que o IBGE se aproxima dos 90 anos. Sua criação ocorreu no marco da passagem de um país agrário para urbana, com mudanças nas formas de produzir e de trabalhar.

Ele observou que o IBGE vinha em trajetória de “degradação”, assim como outras instituições públicas no Brasil, por falta de recursos e de concursos públicos, processo interrompido por Lula. “Precisamos de um diagnóstico que registre a realidade dessa instituição.” O Censo 2022, por exemplo, foi realizado por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e recebeu recursos equivalentes a dois terços do levantamento de 2010. O atual governo, por meio do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), liberou mais R$ 350 milhões para garantir sua conclusão.

Informação qualifica o país

Pochmann lembrou que o IBGE realiza 80 pesquisas ao longo ano, dialogando com a sociedade e procurando atualizar seus dados. “São informações que qualificam o país entre os principais do mundo em termos de informação estatística.” Para ele, é preciso “buscar convergência de informações” visando a um sistema nacional de estatística.

“É importante dizer que que estamos diante de uma transformação digital”, acrescentou Pochmann, ao observar que os dados ocupam hoje um espaço que já foi do petróleo, por sua relevância. Assim, além de manter as pesquisas, “podemos avançar no sentido de congregar informações de diferentes provedores e ao mesmo tempo considerar essa modalidade da datificação que estamos vivendo”. “O papel do IBGE é revelar o que somos, para além de quantos somos”, afirmou.

Decisões com base no saber

Os dados são importantes porque ajudam a direcionar políticas públicas, Além disso, informações populacionais determinam, em alguns casos, o tamanho do repasse de tributos aos municípios.

O economista lembrou ainda que ao longo de sua histórica o Brasil foi “acumulando desigualdades”, com grande parte da população pobre e excluída. “Essa é uma preocupação histórica do IBGE”, acrescentou Pochmann, observando que o Estado pode atuar de forma mais precisa a partir de dados obtidos pela pesquisa de campo. “Decisões fundadas na inteligência, no saber, na racionalidade que a informação permite.” Ele disse que pretende abrir a instituição para ouvir as demandas da sociedade brasileira”.

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